“Não é possível contratar e despedir em grande escala, mais vale requalificar”

Para João Magalhães, da Code for All_, o reskilling é essencial: áreas perdem relevância, outras como tecnologia carecem de talento — e surgem agora respostas concretas.
João Magalhães, fundador da Code for All_
João Magalhães, fundador da Code for All_
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A Code for All_ é um ecossistema de aprendizagem tecnológica que abrange desde a iniciação digital na infância até à formação profissional e empresarial. Conjuga três marcas, com o núcleo do grupo a ser a Code for All, que gera iniciativas de formação tecnológica e impacto social, preparando profissionais e empresas para o futuro digital. A UBBU ensina ciências da computação a crianças dos 6 aos 12 anos, promovendo a literacia digital através de jogos e lições interativas. E a Bool é a vertente corporativa, apoiando empresas na transformação digital e capacitação de equipas em programação e cibersegurança.

A Code for All_ foca-se naquilo que vocês descrevem como a democratização do acesso ao conhecimento digital e na transformação de talentos e empresas. Mas o vosso impacto vai além da formação tecnológica por profissionais, abrangendo idades desde os seis até aos 12 anos. Por que decidiram atuar num espetro tão amplo?

Começámos em 2015 como Academia de Código e, depois, fizemos um rebranding para Code for All_. Mas o que sentimos aí foi que a tecnologia estava a entrar nas nossas vidas, em todas as áreas: nos empregos, em casa, nas escolas dos nossos filhos. E sentimos que isso estava a criar um desafio muito grande nas competências necessárias. Há dois números que costumo acompanhar: o World Economic Forum recentemente apontou para mil milhões de pessoas que têm de ser qualificadas nos próximos anos – uma coisa astronómica; e, num estudo recente também, a OCDE dizia que 65% das crianças que estão hoje no ensino primário vão trabalhar em profissões que ainda não existem.

São números impressionantes…

Sim, e a verdade é que, quando começámos, depois de tantos anos e desafios, o problema mais urgente era que havia bastantes jovens licenciados desempregados, desaproveitados, e com empresas a querer contratar profissionais na área da tecnologia, mas não havia pessoas disponíveis. Em 2014, havia 15 mil postos de trabalho por preencher na área da tecnologia, porque não havia pessoas com aquelas competências. Pensámos: a forma mais urgente de resolver este problema é identificar pessoas que estão desaproveitadas e que têm o perfil para serem requalificadas e trabalharem em tecnologia, e vamos ajudá-las nesse caminho, nessa transformação de vida. Por outro lado, vamos ajudar estas empresas que estão desesperadas à procura de talento e que não encontram, e vamos tentar mitigar esta falta. E aí começámos a fazer cursos de requalificação. E já passaram 2.500 pessoas por estes nossos cursos, e mais de 300 empresas já contrataram os nossos alunos.

Tem noção do impacto real que isso tem?

Sim. Até porque temos dois tipos de motivações por parte destas pessoas: alguém que já gostava de tecnologia e que, por alguma razão, acabou por nunca enveredar por essa área e que agora finalmente decide avançar; e pessoas que precisam rapidamente de melhorar as condições financeiras, obter um emprego e receber salário — portanto, têm uma motivação mais de urgência e de conseguir resolver a vida. Era, de facto, aí que tínhamos um grande foco: na colocação no emprego. E, portanto, a pessoa, quando fazia os nossos cursos e arranjava emprego, isso tinha um impacto muito grande na sua vida pessoal e familiar. Portugal hoje é considerado um país com talento tecnológico e competitivo e, portanto, esta formação é também um fator importante na atração de empresas para Portugal.

Voltando atrás, vocês optaram por não se centrar apenas na requalificação e por impactar apenas as empresas, mas alargaram a um espetro muito mais jovem. Porquê?

Quando começámos, achávamos que resolvíamos o problema com cursos de requalificação. Só que não estávamos a resolver o problema estrutural.

E esse sim passa pelos mais jovens…

Sim, porque os jovens, quando acabam os estudos, não têm as competências que o mercado precisa. E criámos a tese de que isto só se resolve se transformarmos um bocadinho os sistemas de educação, introduzirmos competências que não estavam muito visíveis nos sistemas de educação. A UBBU, que no início era a Academia de Código Júnior, nasceu com o objetivo de dar competências aos jovens que estão hoje na escola, para que, quando forem para o mercado de trabalho, já tenham estas competências. Estamos a falar de STEAM (na sigla inglesa), que é Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, e também dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que também ensinamos na UBBU. Acreditamos que estas competências vão ser cruciais para eles no futuro.

Aquilo que vocês desenvolveram é uma plataforma que dá esse acesso. As escolas públicas estão recetivas a esse tipo de solução?

As escolas públicas estão. Aliás, somos parceiros da Direção-Geral da Educação desde 2017, e a DGE recomenda a nossa solução. Muitas vezes trabalhamos com municípios, e outras com entidades que nos ajudam a financiar escolas públicas, para que não deixemos nenhuma escola, nenhum professor, nenhum aluno de fora que queira ter acesso a aprender estas competências. Tivemos, até ao ano passado, um instrumento financeiro para projetos de inovação social, que se chama “Títulos de Impacto Social”, em que nós mobilizámos investimentos de entidades como a Fundação MEO, o Banco Montepio, a Santa Casa da Misericórdia, que financiaram escolas públicas que quisessem aprender através da UBBU.

Isso leva-nos a uma questão importante, que é o acesso à educação tecnológica. Como se pode trabalhar para garantir que pessoas de diferentes contextos socioeconómicos têm estas oportunidades?

Acho que é uma questão muito complexa e, ao mesmo tempo, muito pertinente. Já testámos muitos modelos e muitas fórmulas no passado, e acho que só vamos conseguir resolver esse tema quando conseguirmos pôr vários tipos de entidades — entidades públicas — a tratar este tema como algo pertinente.

E quando há uma solução que tem track record, que já está aprovada e se sabe que tem impacto, como é que conseguimos elevar essa solução de uma forma ampla e democratizar o acesso?

É um tema complexo, acho que é muito difícil de implementar por várias razões. E nós trabalhamos com entidades públicas já há muito tempo, com muitos municípios, mas é muito difícil que exista esta articulação entre entidades privadas, entidades públicas e sociedade civil. Uma coisa é fazermos um projeto localizado numa escola, numa cidade, ou o que seja. Outra coisa é conseguirmos democratizar o acesso a uma solução, inclusive em todo o território nacional.

Como é que isto se faz?

É um tema muito difícil. Acho que, muitas vezes, Portugal já é considerado um hub de empreendedorismo social. E são soluções como a nossa — seja qual for o nosso objetivo final — que procuram esse equilíbrio e esse balanço entre crescer, ser ambicioso e ter uma solução. Por exemplo, a UBBU já está em cerca de 20 países. E como é que nós criamos uma dinâmica de crescimento e de ambição, mas ao mesmo tempo continuamos a ter o impacto efetivo de ensinar as competências que são importantes para o future.

Com a rápida evolução do digital e da inteligência artificial, as tecnologias emergentes estão a transformar o nosso dia a dia e o ritmo acelerado com que as pessoas trabalham. Como é que podemos prepará-las para este futuro? A chave pode ser a literacia digital e em IA?

Sim, nós vimos uma mudança muito grande nos últimos dois, três anos, quando a inteligência artificial começou a ter um acesso mais democratizado. E o que nós estamos a assistir é que — eu acredito, e existem estudos sobre isso, como estávamos a falar há bocado — há muitas profissões que vão desaparecer nos próximos tempos, muitas outras vão ser criadas. Nós não sabemos bem o efeito líquido, ou seja, se vai haver mais emprego ou menos emprego. Acho que ninguém sabe bem — há pessoas mais otimistas, outras mais pessimistas —, mas não há ainda uma consciência clara do que vai acontecer. Sabemos, sim, que as profissões que vão continuar vão ser transformadas, e a inteligência artificial vai ter um papel muito importante. Portanto, acreditamos que a única forma de uma pessoa continuar relevante no mercado de trabalho é estar numa lógica de aprendizagem contínua ao longo da vida, e onde a inteligência artificial e saber utilizar ferramentas digitais vão ser superimportantes. Estamos a assistir a esta transformação grande, e por isso lançámos uma série de cursos novos. Temos os cursos de requalificação, ou seja, pessoas de outras áreas que querem mudar e trabalhar em tech. E lançámos cursos com uma lógica diferente: não é para mudar de carreira e trabalhar em tech, mas sim para continuar relevante no emprego que já se tem — seja advogado, profissional de comunicação, gestor, o que for.
Começámos a lançar cursos que chamamos de upskilling. Os de requalificação chamamos reskilling, e os de upskilling são mais como: “Como é que me vou atualizar e aprender a usar ferramentas de IA para ser mais eficiente, produtivo, libertar-me de tarefas administrativas que não acrescentam muito valor, e focar-me naquelas em que posso ter mais impacto?”

O que pode ser feito para combater a desigualdade que existe de género na área da tecnologia e atrair mais mulheres para este setor?

É um desafio muito grande. Fizemos muitas tentativas, de várias formas. É engraçado que nos de upskilling, como estes sobre como usar inteligência artificial, temos quase 50-50 em termos de género — não há grande diferença. Nos cursos de requalificação, continuamos a ter uma diferença grande na percentagem de homens e mulheres. A convicção que tenho, hoje, é que vamos resolver isto quando as crianças que usaram a UBBU chegarem à idade adulta. Acredito que aí não vai haver qualquer diferença entre homens e mulheres.

Porquê?

Porque o que vemos nas escolas é que não há qualquer diferença entre rapazes e raparigas no interesse, motivação, utilização das ferramentas, nas aprendizagens. Já agora, nas idades adultas, é mais difícil. Mas acredito que estas gerações jovens, que estão a adquirir este conhecimento e estas competências desde cedo, quando chegarem à idade adulta esta diferença vai desaparecer — e a percentagem nas profissões de tecnologia vai refletir isso.

Assim esperamos. Com a crescente importância da cibersegurança e da IA, como é que a Code for All_ se tem posicionado para preparar Portugal para estes desafios tecnológicos de 2030?
Está relacionado com os cursos que falava há pouco e que lançámos. Só nos cursos de IA que lançámos no ano passado já tivemos cerca de mil alunos, nestas áreas, em vários setores. Estamos a tentar criar lógicas em que a pessoa que faz o curso, no dia a dia, já está a usar ferramentas e a tornar-se mais eficiente no seu emprego. Sentimos necessidade, por isso, não de lançar só um curso geral, mas sim cursos direcionados, com casos práticos muito concretos dentro de cada profissão. Isso foi uma das iniciativas. Outra foi, através da Bool, quando estamos a ajudar empresas na transformação digital, criarmos também uma área de IA para ajudar as empresas a implementarem ferramentas e saberem usá-las. Lançámos também um curso — já foi há mais tempo — na área da cibersegurança. Temos estado a trabalhar também nisso, porque vemos, para os próximos anos, um crescimento da procura.

Através da BLL, têm ajudado grandes empresas, como a Jerónimo Martins, a Sumol+Compal, os CTT, na sua transformação digital. Como é que avalia o interesse das empresas no reskilling e upskilling?

No upskilling, são muito mais os próprios profissionais a recorrer. Já o reskilling, muitas vezes, são as grandes empresas, porque têm necessidade de transformação dos seus quadros. O mercado está em mudança, não é possível contratar e despedir em grande escala — e, portanto, mais vale requalificar. Trabalhamos com empresas tanto em upskilling como em reskilling. Na área de upskilling, numa lógica de capacitar colaboradores com estas novas ferramentas de inteligência artificial, às vezes até de forma mais rápida. O reskilling, sentimos há algum tempo que fazia todo o sentido: muitas vezes, há áreas dentro das empresas que se tornam menos relevantes, enquanto outras — como tecnologia — enfrentam grande escassez de talento. Embora isto já seja uma realidade há anos, agora começamos a ver iniciativas concretas. Por exemplo, tivemos duas com a SONAE e os CTT, em que criámos turmas de requalificação para colaboradores de várias áreas dessas empresas, com vontade de mudar para a área tecnológica. Fizeram os cursos connosco e estamos a apoiar a integração deles nas equipas de tecnologia dessas empresas.
Vejo isto como uma tendência com grande potencial para os próximos tempos: capacitar colaboradores e aproveitar o seu potencial e conhecimento acumulado.

Falava há pouco, com alguma preocupação, daquele relatório do Fórum Económico Mundial que fala de mil milhões de pessoas a precisarem de requalificação. Mas, na sua opinião, as empresas, os profissionais, a sociedade, estão conscientes desta necessidade?

Ótima pergunta. Este é um tema falado há vários anos, mas, no último ano ou dois, tornou-se mais evidente. As empresas e as pessoas estão muito mais despertas para esta necessidade, e isso deve-se muito ao tema da inteligência artificial. Acredito que hoje há maior consciência — awareness — por parte das empresas e dos profissionais. Como dizia um professor nos Estados Unidos, "a IA não vai roubar empregos — quem os vai roubar são as pessoas que sabem usar IA". Isto é cada vez mais evidente, e acredito que a vontade de capacitação, tanto por parte das empresas como das pessoas, vai crescer. É a única forma de continuarem relevantes.

E o que acontece se não houver requalificação?

Em algumas profissões, há um risco muito grande de ficarem sem emprego. Vai ser inevitável: a tecnologia e a IA vão estar presentes, e quem não souber usá-las pode tornar-se obsoleto, ultrapassado por quem tem essas competências. Outro dia, li uma entrevista em que alguém dizia: “Se estás à procura de emprego, seja em que área for, aprende a usar IA, faz um curso, e só depois vai às entrevistas. Isso aumenta as tuas hipóteses de ser contratado em X%” — já não me lembro do número exato, mas era significativo.
Acredito que isto será muito evidente nos próximos tempos.

Quais têm sido os principais desafios na democratização do acesso à formação tecnológica que a Code for All_ tem enfrentado — e superado?

Um dos maiores desafios, desde o início, foi o financiamento. Os cursos de requalificação são intensivos, com equipas grandes e muito apoio aos alunos. Custam entre sete e oitomil euros, o que é um valor alto para muitas pessoas. Desde o início, a grande pergunta foi: como garantir que ninguém com vocação e potencial para a área tecnológica fica de fora? Testámos várias fórmulas e parcerias: usamos “Títulos de Impacto Social”, criámos um modelo de financiamento chamado Income Share Agreement — uma espécie de bolsa que o aluno paga apenas depois de arranjar emprego, com uma pequena percentagem do salário.
Tivemos parcerias com a Fundação José Neves, com empresas que ofereceram bolsas, com o Banco Montepio — que oferecia empréstimos em condições vantajosas, começando a pagar só após seis meses. Mas ainda assim era difícil cobrir todos os alunos.Finalmente, este ano conseguimos algo muito importante: um projeto num consórcio com empresas portuguesas, espanholas e francesas, que concorreram ao Fundo Europeu de Investimento e nos garantiu financiamento para os nossos alunos. Fomos a única escola em Portugal aprovada. Recebemos uma garantia de cerca de quatro milhões de euros, que permitirá a mil alunos, nos próximos quatro anos, aceder aos nossos cursos de requalificação. Foi uma vitória incrível.

Como é que isso, na prática, permite acelerar essa requalificação e a entrada de mais pessoas?

Qualquer pessoa que queira fazer o curso connosco já não terá de pagar um valor de entrada. Permite várias modalidades: ou uma pequena prestação inicial e depois prestações reduzidas ao longo de vários anos, ou até nenhuma prestação inicial e apenas pagamentos mensais acessíveis. Isto vai democratizar o acesso aos cursos de requalificação — e para qualquer aluno, não só portugueses. Muda bastante o cenário anterior, em que muitos ficavam de fora dos modelos de financiamento que tínhamos no passado.

Mas isso significa que a Code for All_ também pode dar esses cursos a alunos estrangeiros, é isso?

Sim.

E quantos são? Qual é a percentagem de alunos estrangeiros?

Ganhámos este programa há pouquíssimo tempo, por isso ainda não trabalhamos com muitos alunos estrangeiros. A maioria são alunos portugueses ou residentes. É um perfil um bocadinho diferente.

Mas esses estão fora deste financiamento?

Isto aplica-se aos cursos de requalificação. Nos cursos de upskilling, nomeadamente nas áreas de gestão, que têm tido muita procura, conseguimos apoio através de uma medida do IEFP — o Cheque Formação Digital. Isso permite que muitos dos nossos alunos façam os cursos de forma gratuita ou praticamente gratuita, com reembolso no final, mediante conclusão.

E quais consideram ser as competências essenciais para os profissionais do futuro — que incorporam nos vossos programas?

Nas áreas de requalificação, temos três caminhos principais: um para quem quer ser programador — já atualizado com temas de inteligência artificial —, outro para quem quer trabalhar em cibersegurança, e outro mais focado em análise de dados e programação.
Depois temos os cursos de IA, quase por profissão. Lançámos o primeiro para advogados, depois para comunicação, depois para programadores, e agora vamos lançar uma série de novos cursos na próxima semana.

Quais são as metas principais para este ano e para o próximo?

Este ano estamos muito focados em dar continuidade ao trabalho iniciado no ano passado, enriquecendo a nossa oferta com cursos de upskilling, sobretudo ligados à inteligência artificial. Vamos lançar vários cursos até ao final do ano, com foco nas profissões onde achamos que a IA terá mais impacto. A ambição é tornar-nos uma escola de referência em IA — e acho que isso vai consolidar-se até ao final do ano. Nos anos seguintes, o desafio será passar de referência em Portugal para referência a nível europeu. Já temos cursos fora de Portugal, já trabalhamos com empresas lá fora, mas ainda não temos o ecossistema que criámos cá. Esse será o desafio para 2026.

Falava há pouco de uma medida essencial — o Cheque Formação Digital. O atual governo está em gestão e vem aí um novo. Que medidas deveriam ser implementadas pelo próximo governo para incentivar a formação ao longo da vida?

Acho que o Cheque Formação Digital foi um sucesso enorme. Está em vigor até setembro deste ano e ainda não sabemos se será renovado. A minha primeira sugestão seria: renovar esta medida, e, se possível, agilizar ou melhorar alguns aspetos. Hoje em dia, tudo está a funcionar muito bem. No início, como em qualquer medida nova, houve dificuldades — que agora estão ultrapassadas. Mas esta é uma medida para pessoas individuais que estão a trabalhar. Sinto que há uma necessidade grande por parte das empresas de capacitar os seus colaboradores — e aí não conheço nenhuma medida semelhante. Talvez não seja necessário o Estado financiar 100% da formação para empresas, mas podia haver algo que facilitasse esse acesso. As empresas querem tornar-se mais eficientes e competitivas — e a capacitação é essencial para isso. Acho que há espaço para evoluir aí.

E por que é que formações como as da Code for All_ estão fora do universo das universidades?

Antes de responder, queria só acrescentar uma coisa à questão anterior: em alguns países, como a Alemanha, os cursos de requalificação — como os nossos — são financiados, mesmo para pessoas individuais. E, para empresas, também há apoio, mesmo que não seja a 100%.

Para as empresas ou para os indivíduos?

Para qualquer pessoa que queira fazer um curso de requalificação. Para empresas também existe financiamento, mas com regras específicas. Cá, isso ainda não acontece.

Agora sim: por que razão estas formações estão fora das universidades?

A explicação que encontro é que, nesta área, a velocidade a que tudo muda é enorme. Nós atualizamos os currículos constantemente — às vezes todos os meses — porque surgem ferramentas novas, conteúdos novos. As universidades, muitas vezes, não conseguem acompanhar esta velocidade. Algumas já têm cursos nestas áreas, mas geralmente são mais longos ou têm dificuldade em manter-se atualizados com o ritmo do mercado.Apesar disso, já fizemos parcerias com universidades no passado, como o ISCTE, com quem desenvolvemos cursos na área da tecnologia. Vejo espaço para colaboração. Universidades, politécnicos, escolas profissionais e entidades como a nossa — pode haver articulação. Lá fora, como nos EUA, é comum haver programas conjuntos entre universidades e entidades como a Code for All_. Acho que essa é uma tendência que também veremos por cá.

Que conselho daria a a empreendedores que estão a lançar startups, em termos da aquisição de competências?

O empreendedor é uma figura um pouco diferente. No mundo das startups, o que vemos hoje é que a velocidade de lançamento é muito maior. É possível lançar versões iniciais de produtos muito mais rapidamente e com equipas muito mais pequenas. Antes, para desenvolver um produto digital, era preciso uma equipa enorme. Hoje, vemos startupscom uma, duas ou três pessoas a lançar produtos incríveis em pouquíssimo tempo — algo impensável há três ou quatro anos. Vejo aí uma grande oportunidade para quem está a começar. Já para quem entra no mercado de trabalho, é como falávamos há pouco: saber usar inteligência artificial vai valorizar muito o profissional. Para além da experiência e da formação técnica, o simples facto de alguém poder dizer “sei usar IA no meu dia a dia” pode ser um fator diferenciador. Acredito que, daqui a uns anos, isso deixará de ser vantagem — porque será algo esperado de todos.

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