Ferreira Leite: "Crescimento é impossível com recessão"

Publicado a

"Se não se pensar no crescimento económico do país, não há solução pelo corte da despesa", alertou Manuela Ferreira Leite, hoje, nas IV Jornadas AEP, em Serralves. "Parece-me que o caminho que temos a percorrer é muito longo e em algumas questões essenciais parece que temos andado no sentido contrário", afirmou a ex-ministra das Finanças social-democrata.

"O crescimento é impossível com a recessão", uma situação que Ferreira Leite classificou de "previsível e facilmente evitável" se tivesse sido levada em conta a "realidade de elevado endividamento das famílias e das empresas", o que "não sucedia aquando de outras intervenções externas no país".

Criticando a forma como o governo e a 'troika' seguiram uma "receita desajustada à realidade portuguesa", que resultou numa "recessão grave que já se provou que não permite corrigir desequilíbrios", Ferreira Leite apontou que o país terá de "lutar por um modelo de desenvolvimento baseado em exportações e em investimento privado, nacional e estrangeiro".

No entanto, considerou que "estamos a caminho do regresso a um modelo de economia baseado no baixo

custo da mão de obra, o que recuso porque seria uma fatalidade".

Admitindo que "o crescimento económico é impossível com esta carga de impostos", mas que, simultaneamente, "não é possível aliviar os impostos em grande medida", Ferreira Leite considerou fundamental que o Estado tome outras medidas urgentes: a reforma da Justiça, a desburocratização da máquina do Estado, a estabilidade fiscal, a formação profissional do mercado de trabalho e a retoma da confiança no Estado.

Não tem sido, todavia, essa a opção do Governo, na opinião de Ferreira Leite. "Não percebo a estratégia, nem percebo o que se espera no fim. A classe média está em desaparecimento acelerado, não consigo compatibilizar a qualificação de recursos humanos com a emigração de jovens, a elevada carga fiscal tem mascarado impostos com outros nomes e estamos a criar uma sociedade profundamente desigual com um índice de pobreza que gera subdesenvolvimento", resumiu.

A falta de comunicação da estratégia de ajustamento e a "compatibilização dos impostos com os objetivos" são outras críticas lançadas por Manuela Ferreira Leite, que considera causarem conflitos e impedirem a "paz social que é indispensável ao desenvolvimento".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt