Só no primeiro mês deste ano encerraram 62 salas de cinema no
país; ao mesmo tempo, as páginas na Internet de partilha de filmes
proliferam graças à falta de legislação portuguesa contra a
pirataria. Trocam-se as telas pelos ecrãs, as cadeiras pelos sofás
e os bilhetes por um clique sem custos. Quanto dinheiro é que as
salas de cinema podem estar a perder devido aos sites de partilha de
filmes?
A Castello-Lopes tornou pública, esta semana, a decisão de
fechar 49 salas de cinema e despedir 75 trabalhadores. No início de
janeiro já tinham encerrado sete salas na Madeira e seis em
Portimão. Os Açores, o distrito de Viana do Castelo e mais cinco
cidades ficaram sem cinema. Desde 2008, fecharam 87 salas e abriram
143, sobretudo em centros comerciais, segundo o Instituto do Cinema e
do Audiovisual (ICA).
Apesar deste saldo positivo de 56 novos espaços, as salas de
cinema portuguesas perderam 1,9 milhões de espectadores em 2012, em
relação ao ano anterior, totalizando 13,7 milhões de entradas. É
o valor mais baixo dos últimos oito anos.
Em comparação, o site de partilha de ficheiros Wareztuga
registou 2 967 340 visualizações só nos dez filmes mais vistos
(todos de 2012) - ao todo estão disponíveis 2956 filmes. O
Wareztuga apresenta-se como "um projeto inédito em Portugal
onde pode assistir a filmes e séries com legendas em português,
totalmente gratuitos."
Lurdes Sousa, da Inspeção Geral das Atividades Culturais (IGAC),
confessa que "praticamente todos os países do mundo debatem-se
com esta dificuldade. É uma realidade global que é preciso
enfrentar".
Em novembro, a Associação do Comércio Audiovisual de Obras
Culturais e de Entretenimento de Portugal (Acapor) apresentou uma
queixa à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra aqueles que
são os dois portais de partilha de ficheiros piratas mais usados em
Portugal: o Oxe7 e o Wareztuga.
"Por dois dias, o Wareztuga chegou a fechar os servidores ao
público por iniciativa própria. Mas depois voltaram", conta
Nuno Pereira, presidente da Acapor. Até agora, ainda não tiveram
resposta da PGR. Tanto o Wareztuga como o OXE7 estão alojados no
serviço CloudFlare, sediado nos EUA. "Se estivessem em Portugal
já estaria tudo resolvido", explica.
O Governo, há ano e meio, prometeu num "prazo razoável, de
seis meses a um ano", elaborar legislação sobre o combate às
várias formas de pirataria. "Até agora nada", diz Nuno
Pereira, em declarações ao Dinheiro Vivo. "Eles [Wareztuga]
até têm agora um serviço de mensagem grátis cada vez que carregam
um novo filme."
Em Portugal, as receitas de bilheteira em 2012 ficaram pelos 73,8
milhões de euros, menos seis milhões de euros do que em 2011. No
caso da Castello-Lopes, entre 2011 e 2012, vendeu menos 375 mil
bilhetes e a sua receita bruta de bilheteira foi de 12,6 milhões de
euros, menos 1,7 milhões de euros (12.6%).
De acordo com as contas do Dinheiro Vivo, se as 2 967 340
visualizações dos dez filmes mais vistos do Wareztuga
representassem idas ao cinema e a compra de um bilhete normal das
bilheteiras Castello-Lopes (sete euros) equivaleriam a 20,7 milhões
de euros em receitas.
Mas nem todas as pessoas que assistiram a filmes na Internet iriam
ao cinema. "Estes são os argumento que são mais usados pelos
que são a favor da partilha de ficheiros", afirma Nuno Pereira.
"A estimativa do Dinheiro Vivo é só uma amostra do dinheiro
que se está a perder."