FMI. Divergências mundiais são "perigosas", 96% dos pobres não estão vacinados

Fundo Monetário Internacional dramatiza. Fosso entre ricos e pobres é cada vez maior, diferença entre níveis de acesso à vacina são chocantes. Retoma global fica em perigo.
Publicado a

A retoma da economia mundial continua, mas o fosso entre ricos e pobres é cada vez mais cavado porque a divisão entre os que têm acesso às vacinas contra a covid-19 e os excluídos é cada vez maior. Existe uma "divergência perigosa nas perspetivas económicas entre países", avisou esta terça-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI) através da sua economista-chefe Gita Gopinath.

No novo panorama económico mundial (outlook), o FMI diz estar ainda mais preocupado do que há três meses porque se é verdade que "a recuperação global continua", tornou-se evidente que "o ritmo enfraqueceu". A economia mundial está a andar, mas vai "a coxear por causa da pandemia", diz a dirigente da instituição sediada em Washington.

O FMI avisa que "estas divergências são uma consequência do grande fosso existente na vacinação e das grandes disparidades nos apoios públicos e nas políticas".

"Enquanto nas economias avançadas mais de 60% da população está totalmente vacinada e em algumas delas já estão a receber doses de reforço, cerca de 96% da população nos países de baixos rendimentos permanece não vacinada".

A economista-chefe observa que a pandemia continua e que a variante delta do coronavírus é "altamente transmissível". "O número global de mortes registadas por causa da covid-19 aumentou para perto de 5 milhões e os riscos sanitários abundam, impedindo um regresso total à normalidade".

"Os surtos pandémicos em elos críticos das cadeias de abastecimento globais resultaram em ruturas de abastecimento mais longas do que o esperado, alimentando a inflação em muitos países. Globalmente, os riscos para as perspetivas económicas aumentaram e as compensações passíveis de serem garantidas pelas políticas tornaram-se mais complexas."

Assim, "em comparação com a nossa previsão de julho, a projeção de crescimento global para 2021 foi revista marginalmente para 5,9% [o FMI cortou uma décima face há três meses] e mantém-se inalterada para 2022, em 4,9%".

"No entanto, esta modesta revisão esconde grandes desvalorizações para alguns países. As perspetivas para o grupo dos países de rendimentos baixos tornaram-se consideravelmente mais negras devido ao agravamento da dinâmica pandémica".

Esta degradação "também reflete perspetivas mais difíceis a curto prazo para o grupo das economias avançadas, em parte devido a ruturas nos fornecimentos".

Por um lado, "as projeções para alguns exportadores de mercadorias foram melhoradas devido ao aumento dos preços dessas mercadorias". No entanto, "as perturbações relacionadas com a pandemia em setores de contacto intensivo causaram um atraso significativo na recuperação do mercado de trabalho na maioria dos países".

"A divergência perigosa nas perspetivas económicas entre países continua a ser uma grande preocupação. Espera-se que o produto interno bruto (PIB) do grupo das economias avançadas recupere a sua tendência pré pandémica em 2022 e a exceda em 0,9% em 2024", começa por referir o FMI.

"Pelo contrário, espera-se que o PIB do grupo das economias emergentes e em desenvolvimento (excluindo a China) se mantenha 5,5% abaixo da previsão pré pandémica em 2024". Ou seja, este grupo, onde estão os mais pobres e os muito pobres, deve experimentar "um maior retrocesso no nível de vida".

Como referido, para o Fundo, "estas divergências são uma consequência do grande fosso existente na vacinação e nos apoios públicos

Nas economias avançadas já estão totalmente vacinadas "mais de 60% das pessoas, sendo que em algumas delas, como é o caso de Portugal, já está a ser administrada a terceira dose ou a dose de reforço. Nos lugares mais pobres do planeta, "cerca de 96%" das pessoas não foram sequer vacinadas, lamenta Gopinath.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt