Investimento público e apoios, sim, mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) sinaliza já que está preocupado com efeitos mais permanentes que possam migrar para a despesa (e alimentar défices) e a dívida. Porque depois deve ser preciso voltar a disciplinar as contas públicas.
No panorama (outlook) dedicado à Europa, divulgado esta quarta-feira, o FMI afirma que agora é preciso gastar, não retirar apoios públicos cedo de mais em algumas economias avançadas da Europa, mas que é necessário pensar na próxima etapa.
Os países que enveredarem por esse caminho devem garantir que, mais tarde, podem recuar nos estímulos, já com as economias e o setor privado a conseguirem andar pelo próprio pé.
"Prevê-se que as economias europeias avançadas cresçam 5,2% e as economias europeias emergentes 6% em 2021, respetivamente, 0,3 e 1,1 pontos percentuais mais do que no outlook de julho passado".
A retoma "deverá consolidar-se em 2022, com um crescimento de 4,4% nos países mais avançados da Europa e 3,6% nos emergentes".
No entanto, avisa o Fundo, "os riscos são inclinados para o lado negativo devido a potenciais mutações do vírus, interrupções prolongadas dos fornecimentos [de matérias primas e outros produtos e serviços industriais] e por causa dos preços elevados da energia, entre outros".
"Os apoios orçamentais públicos excecionalmente fortes em 2020-21 podem ser reorientados para construir melhor a frente económica e depois poderem recuar, abrindo margem de manobra na política orçamental pública, ao mesmo tempo que continuam a apoiar a recuperação", defende a instituição.
Portanto, "o ritmo de retirada do apoio orçamental terá de ser cuidadosamente ajustado aos desenvolvimentos específicos de cada país e prevenir o risco de prejudicar a dinâmica da recuperação".
Em todo o caso, o FMI espera, nestas novas recomendações, que os bancos centrais mantenham os níveis de juros baixos. "A política monetária deve permanecer altamente acomodatícia à medida que o apoio orçamental é retirado, dado que há poucos sinais de inflação que se traduzam em grandes pressões salariais".
No entanto, "nalgumas economias europeias emergentes onde a atividade é forte e as expectativas de inflação estão a aumentar, justifica-se uma redução gradual da acomodação monetária". Mas aqui, o FMI já não está, propriamente, a referir-se ao BCE e à zona euro.