FMI. Recessão de 2020 foi menos má do que se julgava, mas 2021 é a incógnita total

"Exportadores de petróleo e economias baseadas no turismo enfrentam perspetivas particularmente difíceis", avisa FMI. Zona euro recupera muito mais devagar que Estados Unidos.
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A economia mundial caiu numa recessão histórica em 2020, mas a situação acabou por ser menos má face ao que se julgava, afirma o Fundo Monetário Internacional (FMI). Já o ano de 2021 é uma "tremenda" incógnita. Pode correr bem ou muito mal, depende das mutações do coronavírus, do sucesso das vacinas e por quanto tempo mais é que as economias e as empresas conseguem aguentar as restrições e os confinamentos.

"Os exportadores de petróleo e as economias baseadas no turismo enfrentam perspetivas particularmente difíceis, considerando uma esperada lenta normalização das viagens internacionais e as perspetivas moderadas para os preços do petróleo", alerta o FMI num novo estudo. Portugal é considerado um país altamente baseado em turismo.

"Existe uma incerteza tremenda e as perspetivas económicas variam muito consoante os países", acrescentou a economista-chefe do Fundo, Gita Gopinath.

Na atualização do panorama económico mundial, a recessão global de 2020 acabou por ser 0,9 pontos percentuais mais suave do que se esperava em outubro do ano passado. A economia global acabou por decair 3,5%. "As recuperações foram mais fortes do que o esperado em várias regiões durante o segundo semestre", diz o FMI.

Foi o caso de Portugal e de outros países da zona euro, onde o embate foi menor porque o verão até correu razoavelmente bem. Houve alguma recuperação no turismo, por exemplo.

Assim, a contração do produto interno bruto (PIB) da zona euro ficou em 7,2% em 2020, a quebra dos Estados Unidos foi metade disso, cerca de 3,4%.

Dentro da zona euro, o FMI destaca apenas quatro países (como é habitual nestes outlooks intercalares). Espanha afunda 11,1%, seguida de Itália (recessão de 9,2%), França (-9%) e Alemanha (-5,4%).

2021 mais difícil na zona euro do que se antecipava em outubro

Para 2021, o FMI reviu a projeção dos Estados Unidos fortemente em alta e a da zona euro em baixa.

Os EUA devem crescer mais 2 pontos percentuais, atingindo uma expansão de 5,1%. A zona euro leva um corte de 1 ponto na taxa prevista de crescimento, avançando apenas 4,2%. Fica curto, tendo em conta a pesada recessão de mais de 7% no ano passado.

Todas as quatro grandes economias são afetadas, especialmente Itália e Espanha, que devem crescer menos 2,2 pontos e 1,3 pontos percentuais, respetivamente. Itália avança assim 3% em 2021 e Espanha 5,9%.

Zona euro ensombrada por muitas infeções e confinamentos

De um modo geral, nas chamadas economias desenvolvidas, o FMI assume que "o forte apoio de medidas de política e uma grande disponibilidade antecipada de vacinas no verão de 2021" faz com que "a perda de produção projetada comparativamente à previsão pré-covid é relativamente menor para economias avançadas do que outros países".

"As trajetórias de recuperação variam dentro deste grupo, com os EUA e o Japão em vias de recuperar para os níveis de atividade do final de 2019 já no segundo semestre de 2021".

Em contrapartida, a atividade da zona euro e do Reino Unido "deverá permanecer abaixo dos níveis de final de 2019 em 2022".

"Esta grande divergência reflete, em larga medida, as diferenças entre os países nas respostas comportamentais e de saúde pública às infeções, a flexibilidade e adaptabilidade da atividade económica à baixa mobilidade", por exemplo.

A revisão em baixa da zona euro em 2021 "reflete o abrandamento observado na atividade no final de 2020, que deve continuar no início de 2021 num contexto de aumento de infeções e de novos cofinamentos", observa o Fundo liderado por Kristalina Georgieva.

Incerteza máxima em 2021

No entanto, "há uma incerteza muito elevada em torno destas previsões", observa Gita Gopinath, a economista-chefe do FMI.

"Um maior sucesso das vacinações e dos tratamentos, juntamente com medidas de apoio adicionais podem melhorar os resultados [em termos de crescimento]".

Mas por outro lado, diz a economista, não se pode descartar "um ritmo lento de vacinação, a existência de mutações do coronavírus e o fim prematuro de medidas de apoio" orçamentais.

É, aliás, o que já está a acontecer nos primeiros dois domínios.

A AstraZeneca está em guerra aberta com a Europa (Comissão Europeia), com Bruxelas a acusar a farmacêutica de não estar a cumprir o contrato. A AstraZeneca diz que não vai conseguir entregar as doses combinadas de vacinas contra a covid-19.

A Pfizer, outro dos fornecedores de vacinas, também está a entregar menos doses do que o planeado, o que estará a travar o ritmo da vacinação na Europa.

Em cima disto, as mutações do coronavírus. Já há pelo menos três mutações ou variantes do vírus. A mais disseminada na Europa (e em Portugal) é a variante britânica, que é considerada pelas autoridades do Reino Unido como sendo mais contagiosa e até mais mortal. Mas circulam no mundo pelo menos mais duas variantes: a brasileira e outra da África do Sul.

Tudo isto "pode piorar" as previsões relativas a 2021, avisa Gopinath.

Von der Leyen volta à carga contra as farmacêuticas em Davos

Ainda esta terça-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, voltou à carga nas críticas contra os atrasos das farmacêuticas.

Os fabricantes de vacinas anticovid, beneficiários de investimentos massivos da União Europeia, "têm de cumprir as suas promessas e honrar as suas obrigações", avisou a chefe máxima da Comissão Europeia, citada pela Lusa.

"A Europa investiu milhões para desenvolver as primeiras vacinas e criar um verdadeiro bem comum global. Agora as empresas têm de cumprir as suas promessas", sublinhou Von der Leyen, numa intervenção por videoconferência, no Fórum Económico Mundial, em Davos.

A União Europeia (UE) tem vindo a "aumentar o tom" contra os atrasos na entrega de vacinas anunciados pelas farmacêuticas norte-americana Pfizer-BioNTech e a britânica AstraZeneca, escreve a Lusa.

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