Portugal é, para o Financial Times, um relativo oásis numa Europa cada vez mais apreensiva quanto aos sinais de uma possível recessão global num momento em que as tensões China-EUA quebram o comércio e as perspetivas globais de crescimento.
Em editorial, a publicação económica britânica avalia a situação do país e os ingredientes na fórmula que ainda oferece "uma pequena esperança" numa Europa em maus lençóis, com a Alemanha à beira da recessão, a Itália ainda sem solução de governo, e o Reino Unido a caminhar para um possível Brexit sem acordo.
O jornal dá crédito ao líder do governo português, o "astuto senhor Costa", lembrando o último relatório da Moody's que, na atual conjuntura, ofereceu perspetivas positivas à evolução da notação da dívida pública portuguesa em mais um degrau acima do lixo.
O sucesso do país "resulta tanto de boas escolhas políticas como de uma saudável dose de boa sorte", diz a voz do jornal. "O primeiro-ministro António Costa tem ainda muito a fazer num país onde a dívida pública se mantém acima de 100% do PIB. Ainda assim, tem razão para estar mais otimista que muitos outros líderes europeus".
Parte do crédito é dado à geringonça, que se manteve "estável e funcional" apesar da inicial aparência frágil. O Financial Times destaca a reposição das remunerações na função pública, a possível neutralização do défice até final deste ano, e a quebra do desemprego, além da capacidade de atração de um país acolhedor e com baixa criminalidade, capaz de atrair imigrantes e investidores internacionais.
Já a recuperação internacional e o turismo deram o empurrão que faltava. Mas contou ainda "o difícil mas necessário trabalho" do governo anterior que aplicou as medidas de austeridade do período da troika, que ajudaram "a reduzir o défice e reformar o sector público", segundo o jornal. Por outro lado, equilibra, as medidas do governo de Passo Coelho "também empurram o país para a pior recessão em quatro décadas, espoletando o êxodo de trabalhadores em massa".
Costa, diz o FT, beneficiou apesar de tudo deste legado do centro-direita, e o jornal nota as críticas sobre a manutenção de alguma austeridade nas medidas tomadas pelo governo socialista apoiado por PCP e BE. O editorial também aponta a falta de investimento e o aumento de impostos indiretos.
Não está tudo resolvido no país. "Portugal ainda enfrenta muitos outros problemas. Os funcionários públicos protestam devido aos rendimentos perdidos na crise. Os motoristas de camiões-cisterna realizaram recentemente uma greve de sete dias para exigir remunerações e direitos laborais, levando ao racionamento de combustível no pico da época alta".
O jornal prevê que, após outubro, o governo retome o leme numa coligação de esquerda ou em maioria absoluta e alinha um programa para Costa: continuar o caminho da "prudência orçamental, mas sem austeridade punitiva"; levar a cabo "reformas mais profundas" numa "administração pública ultrapassada"; e melhorar a situação do sector bancário. "À medida que as nuvens toldam a economia mundial, Portugal deve ter uma visão mais clara quanto às suas estratégias económicas e direção futura".