
A Candam Tech, startup espanhola especializada em soluções para a gestão de resíduos, com um foco particular nas embalagens de bebidas em vidro e alumínio, é o primeiro investimento do Sogrape Ventures, o fundo de capital de risco de cinco milhões de euros da maior empresa de vinhos portuguesa. Até ao final do ano, a empresa conta fazer novo investimento, tendo sob análise cerca de 70 projetos potenciais, nacionais e estrangeiros.
Criada em 2019, a Candam Tech tem sede em Barcelona, e desenvolve sistemas que incentivam práticas corretas de reciclagem, viabilizando esquemas de recompensa, associados a incentivos para os que fazem uma separação eficaz dos resíduos. Com o nome de RecySmart “Smart ring”, dispositivo que utiliza tecnologia patenteada de reconhecimento acústico de materiais, é um dos produtos de destaque da empresa, que levantou uma ronda de investimento de 1,1 milhões de euros.
A Sogrape não indica o valor com que entrou, avança apenas que foi o maior acionista nesta ronda, tendo sido acompanhada por “alguns dos mais importantes players” na área do capital de risco na Europa, como a EIT InnoEnergy, Impact Ventures, Enion Venture Partners e CDTI Invierte.
Com acordos comerciais já estabelecidos em Espanha, Portugal, Reino Unido e na região do Golfo, a Candam faturou quase um milhão de euros em 2023. De entre os projetos piloto que está a desenvolver, destaque para o Cents4pack em Guadalajara, com 500 dispositivos Recysmart e 200 negócios locais envolvidos e o Mafra Reciclar a Valer + Rua a Rua com 20 dispositivos Recysmart instalados. Tem ainda um contrato de gestão inteligente de resíduos em Madrid, com mais de 11 mil sensores para deteção do nível de enchimento dos contentores.
André Campos, administrador executivo da Sogrape, responsável pelos pelouros de Pessoas, Estratégia, Inovação e Transformação, fala numa startup “muito interessante”, na medida em que está “alinhada”, quer com o foco ibérico da Sogrape, quer com o seu compromisso de sustentabilidade, já que “tem por grande missão aumentar as taxas de reciclagem, designadamente de vidro”.
A líder nacional do setor dos vinhos comprometeu-se a atingir a neutralidade carbónica em 2040, antecipando-se, em dez anos, à meta estabelecida pela União Europeia, e o vidro e a embalagem são o que mais pesa na pegada de carbono da empresa. “O investimento na Candam Tech permite-nos sermos proativos no incentivo à reciclagem, que é uma ambição que tínhamos”, acrescenta.
Lançado em novembro de 2023, o Sogrape Ventures surgiu da vontade da líder no setor dos vinhos em Portugal ajudar a “acelerar o ecossistema de startups disruptivas com soluções inovadoras enquadradas na cadeia de valor da indústria do vinho em particular, e das bebidas em geral”. É uma parceria com a Beta Capital, que gere o fundo, e que pretende investir cinco milhões, em dez anos.
Até ao final de outubro, o comité de investimento irá reunir para decidir novo investimento. São três as startups que estão melhor posicionadas para receber apoio do Sogrape Ventures, mas André Campos não dá grande pormenores ainda, referindo apenas que há portuguesas e estrangeiras neste lote. Quanto a áreas de atuação, remete para o grupo alargado de 70 startups que estão sob o radar da Sogrape e refere que há soluções diferenciadas ao longo da cadeia de valor em que a empresa atua, ou seja, vai desde as soluções para a viticultura, até às de e-commerce.
“Temos uma cadeia de valor muito alongada; temos olhado muito para soluções de data e inteligência artificial para conhecermos melhor o nosso consumidor final. Há também muita sensorização e robótica para a produção, em especial para a vinha, porque há uma crescente dificuldade de mão-de- obra. A curto prazo, a aposta é em formar mais rapidamente, a solução é automatizar para focarmos as nossas pessoas em trabalho de valor acrescentado e não em tarefas recorrentes e pesadas”, diz André Campos. E acrescenta: “Na área do enoturismo, o consumo do vinho é cada vez mais uma experiência e têm-nos aparecido soluções muito interessantes neste domínio”.
Quanto ao futuro do Sogrape Ventures, a estratégia mantém-se. O objetivo é investir os cinco milhões nos primeiros três a quatro anos, e fazer o seu acompanhamento nos seis anos seguintes. E depois disso? “Podemos reforçar o capital deste fundo ou podemos lançar um segundo. O que não está em cima da mesa é parar o projeto a meio porque tem sido muito interessante”, assume.