Fungo faz produção de castanha nacional cair para metade

Produtores pedem à tutela coordenação e informação atempada para a aplicação dos tratamentos preventivos.
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Quando tudo apontava para que 2023 fosse um ano recorde na produção de castanha, podendo mesmo ultrapassar as 43 mil toneladas conseguidas em 2019, eis que, no início da última semana, as árvores foram fortemente atacadas pela septoriose - um fungo que provoca a secagem e a queda antecipada da folha do castanheiro. Ou seja, com esta secagem prematura, os ouriços que contêm as castanhas acabam por cair sem ter frutificado.

Como indicou ao Dinheiro Vivo José Gomes Laranjo, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e dirigente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), o fungo em causa está bastante disseminado nas zonas onde em Portugal se produz de castanha, devendo provocar uma forte quebra na produção. Poderá "cair para metade de um ano normal, mas um pouco superior à de 2022, quando foi de cerca de 23 mil toneladas", detalhou, explicando que "num ano normal, pode representar cerca de 100 milhões de euros pagos diretamente aos produtores".

Com esta quebra abrupta na produção nacional, sobrará uma quantidade mais reduzida de castanhas para comércio, o que, como diz José Laranjo, é natural que venha a implicar uma maior valorização do produto no produtor. Assim, será expectável "um valor médio de cerca de 2 euros/quilo pago ao produtor, o que originará um valor no consumidor entre 3,5 e 4 euros por quilo".

A fazer contas às perdas da produção está a AgroAguiar, empresa de Vila Pouca de Aguiar. Rodrigo Reis, presidente executivo, detalhou que o fungo está instalado numa das principais regiões com Dominação de Origem Protegida (DOP), de produção de castanha, nomeadamente na Padrela, e que vai afetar a produção em grande escala. "Quando digo afetar a produção, digo que está a afetar entre 70% e 80% do que aquela região produz habitualmente e vai deixar de produzir", lamenta, declarando que este é "um ano perdido". E alerta para os impactos: "Nesta região de Trás-os-Montes há uma forte economia dependente do negócio da castanha e que vai ser enormemente afetada por causa disto".

As variações climáticas acentuadas - neste caso, as fortes chuvadas de setembro aliadas à onde de calor que chegou no final do mês - são as causadoras da disseminação do fungo cujo impacto maior poderia ter sido evitado, segundo Rodrigo Reis.

"Há tratamentos que se podem fazer para evitar isto, mas têm que ser demandados e coordenados a partir de uma task force técnica que o Ministério da Agricultura tem para as culturas, de forma a incentivar e a direcionar todas as associações do setor para que depois possam, no terreno, informar os agricultores", apelou. Acrescentou que os técnicos do Ministério da Agricultura têm acesso a informação técnica e meteorológica que "o comum dos agricultores não terá".

Pedido semelhante faz Abel Pereira, da Associação Agro-Florestal da Terra Fria Transmontana (Arborea). Explica que, em Vinhais, a produção média anual é de sete mil toneladas, mas que, este ano, por via das chuvas e do calor extremo de setembro, estão com problemas sanitários nos soutos, afetando a produção em quantidade e qualidade. Por isso mesmo, fazem falta, por parte da tutela, "incentivos seguros para poder fazer face às constantes oscilações da produção resultantes das alterações climáticas".

José Laranjo considera que, face a outras culturas, esta "tem sido muito pouco apoiada". E, por força do aumento do número de agricultores que se vem dedicando à produção de castanha - a área de castanheiro aumentou 50% nos últimos 10 anos -, é necessário investimento na formação de técnicos e produtores, para que, em alturas de desafios maiores, como é o caso deste ano, saibam enfrentá-los. O investigador afirma que fazem falta mais projetos de investigação que ajudem a desenvolver conhecimento na fileira. E, como considera que o setor ainda tem margem de crescimento, pede a "implementação de sistemas de apoio no PDR2020/PEPAC mais ágeis e facilitadores do investimento".

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