A Galp Energia e a sueca Northvolt anunciaram ontem uma aliança para a exploração do lítio em Portugal. As duas empresas têm um acordo para a criação da joint venture (empresa conjunta) Aurora, detida por ambas em partes iguais (50%), tendo em vista a construção de uma fábrica de conversão de lítio no país, numa localização que só deverá ser conhecida em meados de 2023. O projeto industrial representa um investimento inicial de 700 milhões de euros e a criação de1500 empregos diretos e indiretos. A produção de hidróxido de lítio para baterias de veículos elétricos deverá começar em 2025, com a operação comercial do negócio a iniciar-se em 2026.
Na apresentação do projeto industrial, que contou com a presença dos governantes Matos Fernandes e João Galamba, as duas empresas revelaram ter o objetivo de criar, em Portugal, a "maior e mais sustentável fábrica de conversão de lítio da Europa", estimando uma capacidade de produção anual de até 35 000 toneladas de hidróxido de lítio, o suficiente para 50 GWh (gigawatt/hora) de baterias, o mesmo que fabricar 700 mil baterias para veículos elétricos por ano.
"Este é um momento significativo para a Galp e para o país", bem como uma "oportunidade única para reposicionar a Europa como líder" na cadeia de valor das baterias de lítio, "que está a crescer exponencialmente", segundo afirmou o CEO da petrolífera nacional, Andy Brown. Já para Paolo Cerruti, co-fundador e chief operating officer da Northvolt, está em causa "uma tremenda oportunidade económica e social" para Portugal.
O projeto Aurora é relevante, mas ainda estão por definir alguns detalhes, desde logo a instalação. A Galp e a Northvolt ainda não definiram a localização da refinaria de lítio, embora existam "múltiplas opções em avaliação, incluindo no norte do país". Segundo Cerruti, há um local preferencial, mas está dependente da avaliação de vários critérios, incluindo o impacte ambiental. A localização definitiva da refinaria deverá ser conhecida dentro de "12 a 18 meses".
A Galp, contudo, tinha submetido um projeto ao Plano de Recuperação e Resiliência que identificava Sines como o destino provável. Mas, segundo Andy Brown, essa é uma questão que decorre "em paralelo" ao projeto Aurora.
A par da questão da localização da unidade integrada de conversão de lítio, a joint venture Aurora enfrenta o desafio de conseguir matéria-prima suficiente para satisfazer as necessidades de produção.
Segundo o CEO da Galp será necessário importar matéria-prima, pelo que haverá "diferentes fontes de abastecimento". "Não vamos estar dependentes apenas do minério português". De acordo com Cerruti, existe "um conjunto de opções", incluindo a importação de lítio do Canadá, Brasil e Austrália.
Presente na sessão de apresentação do projeto, o ministro do Ambiente e da Transição Digital, João Pedro Matos Fernandes, manifestou uma "profunda satisfação por este entendimento". "A Galp não é uma empresa qualquer para Portugal, e a Northvolt não será uma empresa qualquer para Portugal", sublinhou, revelando ainda: "Nos próximos cinco anos vão ser investidos em Portugal entre cerca de 17 000 a 18 000 milhões de euros na área da energia".