Gases renováveis podem ser a solução para reduzir a conta da energia

Introdução deste tipo de produtos na rede de gás, especialmente o biometano, é apontada como um recurso viável, seguro e económico para a descarbonização e o país poderá liderar na transição para uma economia sustentável
Artur Machado/Global Imagens
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A combinação de eletricidade e gases renováveis pode gerar poupanças globais de cerca de 2500 milhões de euros, comparado com uma eletrificação completa. Esta abordagem reduz os investimentos necessários e diminui os custos para consumidores e empresas, melhorando a competitividade energética de Portugal.

Esta é a principal conclusão apresentada ontem pela Floene, maior operadora de redes de distribuição de gás em Portugal, durante a divulgação dos resultados do estudo “Gases renováveis e redes de futuro”, realizado pela consultora Roland Berger. O estudo aponta que adicionar gases renováveis à rede de gás, especialmente biometano, é a forma mais eficaz e económica de descarbonizar o país, em complemento à energia elétrica.

“Para descarbonizar de forma sustentável, devemos usar todas as opções disponíveis, especialmente aquelas com menores custos e que podem ser implementadas mais rapidamente”, conclui o estudo. A descarbonização equilibrada é mais económica, segura e diversificada em termos de fontes de energia.

“Portugal possui ativos importantes na capacidade de produzir eletricidade verde através de fontes eólicas, solares e hídricas. Adicionalmente, tem uma infraestrutura de gás moderna e preparada para a distribuição de gases renováveis, tornando-se assim um país capacitado para assegurar uma transição energética eficiente”, destacou Gabriel Sousa, CEO da Floene.

Vantagens do biometano

O biometano, um gás renovável com composição semelhante ao gás natural não exige mudanças nos equipamentos domésticos, permitindo uma economia de 1400 milhões de euros para os consumidores. Por outro lado, a substituição do gás natural por biometano e hidrogénio verde ajudará Portugal a atingir as metas de redução de CO2.

A transição para gases 100% renováveis, usando a infraestrutura existente, economiza cerca de 1130 milhões de euros em investimentos. Segundo o estudo, o biometano deverá representar 9% do consumo de gás natural em 2030 e cerca de 60% em 2050.

Adaptar as redes de gás para a descarbonização equilibrada custará entre 1120 e 1740 milhões de euros, enquanto a eletrificação completa pode custar até 3200 milhões de euros. O uso extensivo de hidrogénio custaria entre 1430 e 2020 milhões de euros. Gabriel Sousa vincou que o hidrogénio ainda não está disponível, ao contrário do biometano, que pode ser usado sem alterar os equipamentos nas habitações.

“Atualmente, temos cerca de 70 unidades a produzir biogás que pode ser convertido em biometano. A maior parte do investimento já foi feita, faltando apenas a purificação do gás, que pode custar até 1,5 milhões de euros,” explicou a mesma fonte.

Impacto social e ambiental

O biometano é produzido a partir de resíduos agrícolas, urbanos, da indústria alimentar, estrume e lamas de ETAR, promovendo a economia circular e reduzindo as importações. Logo, este gás renovável impulsiona o desenvolvimento regional e cria empregos, melhorando a coesão territorial.

O biometano também ajuda na gestão de resíduos e na mitigação da contaminação de solos e águas. “Com o potencial de produção que temos em Portugal, é possível ter um sistema de gás totalmente descarbonizado”, garantiu Gabriel Sousa.

O Plano de Ação para o Biometano, aprovado em março deste ano, visa substituir 9% do gás natural por biometano até 2030. A Floene considera esta meta ambiciosa, mas possível, e já recebeu mais de 170 pedidos para injeção de hidrogénio verde e biometano nas suas redes.

O estudo, agora apresentado, sugere um maior apoio ao investimento, incentivo à conversão de unidades de biogás em biometano e partilha de custos entre produtores e operadores de rede, seguindo o modelo francês (60% do custo coberto pelo sistema e 40% pelo produtor).

A distribuidora defende que o Governo deve dar “sinais claros” para incentivar a produção de biometano. O Governo tem mostrado sinais positivos sobre o desenvolvimento dos gases renováveis, e a Floene espera ver o biometano mais representado na revisão do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030), que deverá ser concluída em breve.

Refira-se que a Floene, responsável por 9 das 11 concessões regionais de distribuição de gás em Portugal, está presente em 106 concelhos de Norte a Sul do país através dos seus nove Operadores Regionais de Distribuição de Gás. Com mais de 1,1 milhão de clientes e uma rede de 13 500 quilómetros, a infraestrutura da Floene está preparada para receber os novos gases renováveis, consolidando o seu papel crucial na transição energética de Portugal.

Durante a apresentação à imprensa do estudo, os responsáveis pela empresa reafirmaram o seu compromisso com “a promoção de comunidades sustentáveis e a concretização do seu propósito como player de relevância na transição energética nacional”. Indicando que a aposta em gases renováveis não só “alinha Portugal com as metas europeias de descarbonização”, mas também “fortalece a sua posição como líder em soluções energéticas inovadoras e sustentáveis”.

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