Gastos nos super e hipermercados cresceram 2,9% em janeiro para 966 milhões de euros

Consumo. Apesar da reposição dos 6% do IVA sobre o cabaz alimentar, dados da Nielsen mostram que este é o aumento percentual mais baixo desde março de 2022. “Marcas brancas” desaceleram também, mas, ainda assim, crescem ao dobro do mercado.
Lionel BONAVENTURE/AFP
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As vendas dos super e hipermercados aumentaram 2,9% em janeiro para 966 milhões de euros, apesar do fim do IVA zero, que faria esperar um crescimento mais significativo só pelo efeito matemático da reposição dos 6% de imposto sobre um cabaz de 46 categorias de produtos alimentares. Este é mesmo o acréscimo percentual mais baixo desde o início da guerra na Ucrânia.

Depois de um ano de 2023 com o mercado alimentar fortemente pressionado pela subida da inflação, 2024 arranca com uma desaceleração do segmento dos bens de grande consumo. Desde março de 2022 que a variação em valor do consumo alimentar tem estado sempre a crescer, em termos homólogos, e praticamente sempre, com raras exceções, a dois dígitos. Em 2023, mesmo com a implementação do IVA zero a partir de 18 de abril, o mercado fechou com vendas totais de 13 551 milhões de euros, 11,7% acima do ano anterior. Em 2022 havia crescido 9,6% para 11 822 milhões de euros.

Janeiro é, por tradição, um mês difícil para as famílias, ainda a recuperar dos gastos do Natal. Mas, em janeiro de 2023, as vendas dos super e hipermercados haviam crescido 14,4% para 939 milhões de euros. Este ano, passaram a 966 milhões, o tal crescimento de 2,9%. Estes são dados dos Scantrends da Nielsen e que, para a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), são “o efeito da desaceleração da inflação nos produtos alimentares”. 

Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, lembra que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, o índice de preços dos produtos alimentares passou de 20,6, em janeiro de 2023, para 2,7, em 2024, uma “queda muito significativa” de quase 18 pontos percentuais, frisa. O efeito do fim do IVA zero foi sentido na subida da taxa de inflação, que passou dos 1,4% de dezembro para 2,3% em janeiro.

Não admira, por isso, que a quota de mercado das marcas próprias da distribuição, as chamadas “marcas brancas”, “continue a aumentar, em todos os segmentos, refletindo a preocupação dos consumidores em fazerem compras mais ajustadas ao contexto económico”.

Embora estes números dos Scantrends não se refiram à evolução das compras das famílias em quantidade, a APED admite que o consumidor tem comprado menos. “Continuamos a assistir a um carrinho de compras muito racional, e isso não se traduz só no aumento da procura da marca próprias, traduz-se mesmo no tipo de sortido escolhido e numa menor fidelização às cadeias retalhistas, com os clientes a procurarem os melhores negócios e promoções”, frisa Lobo Xavier. A quota de mercado das “marcas brancas” foi de 46,1% em janeiro, que compara com os 44,3% do período homólogo de 2023. Na alimentação, as marcas da distribuição pesam 52,2%, contra os 50,3% de há um ano. 

Já o diretor-geral da Centromarca assume que os números dos bens de grande consumo em janeiro surpreenderam pela negativa uma vez que, admite, se esperava que, quanto mais não fosse, pelo efeito da reposição dos 6% do IVA, o crescimento fosse maior. Sem dados ainda de vendas em volume que possam permitir entender melhor o comportamento do consumidor, Pedro Pimentel admite que se comece já a assistir a “alguma baixa de preços” no segmento alimentar. Se isso significa uma normalização do mercado, é cedo para dizer.

“Claramente, estamos hoje num patamar de preços completamente diferente do que estávamos em 2021. O que significa que, com a inflação a baixar, os aumentos hoje são mais comedidos, mas, ainda assim, num patamar completamente diferente daquele que existia há dois anos e que não teve reflexo em termos de aumentos salariais. Mas o consumidor começa já a adaptar o seu modelo de consumo a uma realidade diferente. Não é boa, mas também não é aquele stress permanente de ir às compras e ver os preços a aumentar diariamente”, refere o responsável, assumindo que “há aqui alguma ansiedade que vai diminuindo, e o nosso consumo depende do dinheiro que temos na carteira, sem dúvida, mas também depende muito da confiança”. 

Sobre o crescimento das marcas da distribuição, a Centromarca - que representa  os fabricantes de produtos de marca - assume que as empresas sentem que,  grande luta, este ano, é conseguir que o consumidor recupere alguma da compra em volume. “As famílias gastaram mais dinheiro, em 2023, mas compraram bastante menos”, levando as marcas de fabricantes a perder duplamente, no sentido em que o mercado total foi menor, e o crescimento das “marcas brancas” lhes deixou uma parte ainda menor do bolo. 

“Hoje, começa a sentir-se que a recuperação do mercado, que todos desejamos, tem que passar muito por conseguir que o consumidor compre os nossos produtos. Se o mercado crescer como um todo, ótimo, o bolo é maior e é mais fácil de o repartir, se o mercado não crescer, alguém vai ter que perder para outros ganharem, e as empresas vão ter que 'fazer-se à vida' e esforçarem-se bastante para recuperarem volume [de vendas]”, sublinha Pedro Pimentel. 

Gonçalo Lobo Xavier defende, por seu turno, que é difícil perspetivar 2024. “Estamos ainda com muitas matérias-primas a pressionar o mercado e muita incerteza quanto aos efeitos da guerra, dos [distúrbios nos] transportes internacionais e mesmo das manifestações de agricultores. Não conseguimos ainda ver uma tendência consistente, a incerteza domina”, frisa.

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