Chama-se Gastro by Elemento e é a nova aposta do chef Ricardo Dias Ferreira no Porto. Sob o signo do fogo, o projeto é uma extensão do restaurante Elemento, mas com outra ambição. O primeiro e principal objetivo é garantir a sustentabilidade do negócio, que implicou um investimento de 400 mil euros, todo realizado com capitais próprios. No horizonte, há também a luz das estrelas. Como sublinha o chef, o restaurante "tem de ser sustentável, se vier uma estrela [Michelin] veio". A estratégia está desenhada. O Gastro é um virar de costas à tecnologia e um mergulho na tradição, onde a lenha é a matéria-prima e a experiência do calor do fogo dita os sabores e as texturas. Em suma, é um espaço consagrado ao fire dining..O novo restaurante abre também um novo circuito na alta gastronomia na cidade. Com o Elemento na Baixa portuense, Ricardo Dias Ferreira decidiu ir para as Antas, para perto do Estádio do Dragão. É uma localização "fora da caixa", pouco percorrida pelas turbas de turistas, embora nada longe do núcleo central da Invicta. Mas que foi muito ponderada. Foram dois anos a idealizar o projeto, depois de conhecer o edifício residencial que estava em construção. Com uma decoração de linhas industriais (as paredes em betão sem qualquer cor adicional), dando espaço às madeiras de nogueira e às luzes minimais, o Gastro oferece ao comensal um olhar límpido pela arte de cozinhar a fogo. O elemento negro do fogão e do forno a lenha, fabricados por encomenda, as panelas e tachos de cobre e a cor das chamas estão ao serviço do chef e dos seus discípulos, e do olhar dos clientes, sem segredos ou penumbras. Toda a arte de cozinhar a fogo está sob escrutínio, principalmente daqueles que optarem por ocupar um dos lugares da barra que contorna o núcleo central do restaurante..No que toca à experiência gastronómica, é preciso passar uma tábua rasa na memória das sardinhas assadas ao carvão ou do frango no churrasco, aponta com alguma ironia Ricardo Dias Ferreira. A ementa é um menu de degustação composto por nove experiências. Os ingredientes são portugueses e de acordo com a estação. Há carnes, peixes e legumes, tudo passado pelo calor do fogo, onde ganham sabores de lenha. Para acompanhar, o restaurante oferece os serviços do sommelier Ángel Prieto, um venezuelano apaixonado por Portugal e pelos vinhos nacionais..Ricardo Dias Ferreira iniciou esta aventura de empresário com Patrícia Lourenço em 2019, quando abriu o Elemento, num investimento de 200 mil euros, também realizado com capitais próprios. Depois do choque da pandemia, um ano depois da estreia, o negócio entrou em velocidade cruzeiro. "Em 2021, ainda estávamos todos a tremer, mas 2022 foi uma explosão. As pessoas queriam viajar, gastar dinheiro". No entretanto, o Elemento está consolidado. Todas as noites recebe entre 60 a 70 comensais. Agora, o foco está no Gastro, mas sem ilusões de fazer o negócio de um dia para o outro. Com quase dois meses de operação, "está com boa adesão, mas sejamos realistas, este ano não vai ser melhor que 2019. Há a guerra, a inflação. Sente-se que há menos turistas internacionais e nacionais nem se fala"..Foi na Austrália que Ricardo Dias Ferreira e Patrícia Lourenço construíram os alicerces para o projeto de restauração que ganhou forma com a abertura do Elemento e agora do Gastro. O chef trabalhou em diversos espaços de renome, mas talvez os que mais despertem a atenção sejam mesmo o restaurante de Martin Berasategui (3 estrelas Michelin), em San Sebastian, o Quay, do chef Peter Gilmore, na altura o 20.º melhor do mundo, ou o Altitude, no Shangri-La Hotel, que chefiou e no qual conquistou os prémios Restaurante do Ano 2017, pelo Turismo da Austrália, e Restaurante de Hotel do Ano, pela Luxury Travel Guide 2017. Patrícia Lourenço conheceu o chef português nos antípodas e percebeu que também tinha uma palavra a dar neste negócio. Agora, pensam em abrir um boutique-hotel, talvez na zona da Praia do Pedrógão, onde o chef cresceu e e de onde guarda boas memórias.