Gi Group aposta em Portugal como plataforma estratégica na Europa

Stefano Colli-Lanzi, CEO e fundador, em entrevista exclusiva ao Dinheiro Vivo fala sobre a entrada no grupo italiano no país
Gi Group aposta em Portugal como plataforma estratégica na Europa
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Pouco mais de 12 meses depois da integração da Kelly Services no Gi Group, especializado em recrutamento de recursos humanos, o balanço da operação em Portugal é “francamente positivo”. O país tornou-se não só uma porta de entrada estratégica na Europa, como também um palco fértil para a inovação na área dos recursos humanos. Para Stefano Colli-Lanzi, fundador da multinacional italiana, a aposta em Portugal confirmou-se “muito acertada”, devido ao “talento qualificado, mindset de inovação e a uma posição geográfica privilegiada”.

A integração entre as duas empresas decorreu de forma fluída, marcada por uma gestão cuidadosa das culturas organizacionais. “O esforço para respeitar as identidades culturais foi uma preocupação, mas sem nunca perder de vista o serviço prestado a clientes e candidatos”, destaca o CEO. Os colaboradores, diz, foram “determinantes” durante este processo de mudança, pela sua “resiliência e capacidade de adaptação”.

Hoje, o Gi Group apresenta-se em Portugal com alicerces sólidos e uma aposta reforçada na digitalização e na diversificação dos serviços, o que permite à empresa ambicionar uma “posição de liderança num setor em constante transformação”.

Recorde-se que a integração da Kelly Services contribuiu para que o grupo atingisse receitas na ordem dos cinco mil milhões de euros, e passasse a ter presença direta em 37 países. Uma aquisição que se junta a outras 50, realizadas ao longo dos últimos 25 anos. “Crescer através de aquisições faz parte do que somos”, reconhece o fundador.

Proposta de valor personalizada

Num setor altamente competitivo, o Gi Group aposta numa proposta de valor integrada e personalizada, que combina recrutamento, outsourcing e formação. A empresa está presente em 37 países, mas Stefano Colli-Lanzi garante que o conhecimento da realidade local não é negligenciado. “A nossa atuação combina experiência internacional com um entendimento profundo da realidade portuguesa, assegurando um serviço ético e eficiente.”

Outro fator diferenciador é a tecnologia. “A introdução de tecnologia nos processos de recrutamento e de gestão de talento tem permitido obter ganhos significativos em eficácia e rapidez”, afirma. Portugal, enquanto hub estratégico, beneficia diretamente desta aposta, potenciando o talento local em projetos internacionais.

Ainda assim, o mercado de trabalho em Portugal enfrenta desafios importantes. A escassez de talento em áreas técnicas, o envelhecimento da população ativa e o desalinhamento entre competências e necessidades das empresas são os principais constrangimentos. “Apesar disso, Portugal tem-se afirmado como centro competitivo em setores estratégicos, como a tecnologia e as energias renováveis”, sublinha, certo de que este dinamismo atrai cada vez mais multinacionais, que valorizam a estabilidade social, a qualidade dos profissionais e a maturidade do ecossistema empresarial português.

Segundo Stefano Colli-Lanzi, a empregabilidade será cada vez mais moldada por tendências como a automação, a Inteligência Artificial e os modelos híbridos de trabalho. Para responder a estas mudanças, acredita que o caminho passa pela formação contínua. “Portugal deve apostar fortemente na requalificação da sua força de trabalho para se manter competitivo”, defende.

Quanto ao papel da tecnologia, nomeadamente da Inteligência Artificial, o fundador do Gi Group é claro: “A IA deve ser uma aliada, usada de forma ética e responsável. Mas o fator humano deve continuar a ser o eixo central na gestão de pessoas. A empatia e a capacidade de lidar com contextos complexos são insubstituíveis.”

Da pequena empresa à multinacional

O Gi Group começou com uma pequena empresa em Milão e hoje está presente em dezenas de países. O percurso, garante Stefano, ensinou-lhe lições valiosas: “A internacionalização só resulta quando se compreende e valoriza o que torna cada país único. E nunca se pode perder de vista o valor das pessoas, porque são elas o verdadeiro motor da inovação.”

A visão estratégica, a paciência e a resiliência também foram essenciais. “O crescimento sustentável exige tempo, consistência e capacidade de aprender com os erros.”

A fechar, deixa um conselho aos jovens em Portugal: “Reconheçam o valor do que têm ao vosso alcance. O mercado português está a ganhar protagonismo, e os seus profissionais destacam-se cada vez mais pela resiliência e pela qualidade.”

Aconselha ainda os jovens a tirarem partido de experiências internacionais, sem perder de vista a identidade nacional. “A cultura portuguesa, rica em criatividade e inovação, é uma vantagem competitiva em si mesma.” E conclui: “Construir redes sólidas e encarar cada desafio como uma oportunidade de crescimento é a melhor forma de enfrentar o futuro com confiança.”

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