Ginásios. Tecnologia é a nova arma para ganhar mercado e reduzir custos

Telemóvel é ferramenta central no modelo de negócio da Element, marca low cost da Sonae. A tecnologia permite operações mais económicas e ajuda na internacionalização. Mas também permite treinos personalizáveis e inovadores, como está a fazer a TechBody.
Nos clubes Element, tudo (ou quase tudo) é feito num ecrã.
Nos clubes Element, tudo (ou quase tudo) é feito num ecrã. Amin Chaar
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Os clubes de fitness em Portugal estão a apostar em conceitos digitais e em novas técnicas de exercício físico. Estes movimentos têm cada vez mais em conta os perfis dos praticantes, que procuram flexibilidade de horários, qualidade a preços competitivos e resultados céleres, e de preferência tudo acessível na tecnologia de um ecrã. O mercado tem potencial, até porque a grande maioria dos portugueses tem hábitos sedentários. Segundo o último barómetro do setor, 93% da população não frequenta nenhum ginásio. Neste ambiente, a SC Fitness está a acelerar a expansão dos clubes 100% digitais Element. Já a TechBody apostou em soluções inovadoras de treino inteligente e tecnológico, em espaços físicos e virtuais.

A Element, marca de fitness detida pela SC Investments (antiga Sonae Capital), fixou o seu radar de atração nos jovens entre os 16 e os 35 anos, embora as portas estejam abertas a desportistas de todas as idades. E para atrair esta franja da população nada melhor do que adaptar-se à sua forma de viver. Como explica Diogo Oliveira, diretor de operações dos clubes Element, o telemóvel (ou outro dispositivo tecnológico) é a ferramenta exclusiva para a inscrição, pagamento, entrada e saída do ginásio e, em breve, para planos de treino. São dois minutos para concretizar a adesão e receber o QR Code, a chave que permite aceder ao clube, sublinha.

Os ginásios TechBody têm um conceito diferente, mas também digital. A marca, que surgiu há pouco mais de um ano, diferencia-se pela aposta nos treinos baseados em eletroestimulação muscular (EMS), método muito utilizado no norte da Europa. Esta tecnologia tem por base a aplicação de estímulos elétricos de baixa frequência para provocar contrações musculares. Segundo Luiz Santana, CEO da TechBody Portugal, aumenta o trabalho muscular e o corpo reflete os efeitos do exercício num período mais curto de tempo do que os treinos tradicionais. A EMS garante o reforço da musculatura profunda (melhoria da postura e dor nas costas), resultados mais rápidos no aumento da força e da massa muscular, e diminuição da massa gorda, diz. Para não perder a crista da onda, a marca acabou de lançar a aplicação Techbody U, que permite treinar em casa ou em qualquer outro lugar utilizando a EMS. Como frisa o responsável, a marca “surgiu de uma necessidade no mercado do fitness de inovar o treino personalizado”.

Na Element, as novas tendências de treino também não foram descuradas. Todos os clubes têm uma zona cardio (passadeiras, bicicletas e escada elíptica), uma área dedicada à força (para trabalhar todas as zonas corporais), um espaço funcional (onde não falta o saco de boxe) e a zona de peso livre. Esta última área é a resposta a uma tendência que tem ganhado força nos últimos três anos. E, por isso, nos ginásios Element são colocados o máximo de postos de trabalho para que os sócios não precisem de esperar por um equipamento, sublinha Diogo Oliveira. “Esta zona tem muita procura”, frisa.

O modelo dos ginásios low cost da família Azevedo foi desenhado de forma a reduzir ao máximo os custos de operação e, dessa forma, garantir preços competitivos. “Tiramos tudo o que podia aumentar custos”, diz Diogo Oliveira. Não há recepção nem comerciais. O contacto humano é limitado a um instrutor por clube. O profissional tira dúvidas ao sócio, explica como realizar os exercícios, corrige posturas, garante segurança na execução, verifica os equipamentos. A ideia é que o treino seja autónomo, embora o clube ofereça sessões dinâmicas de 15 minutos. As aulas tradicionais de grupo estão excluídas. Com estes critérios de racionalidade económica, o conceito permite oferecer preços a partir dos 2,99 euros por semana, já com IVA, e sem fidelização.

Falta tempo e motivação

A TechBody tem outra filosofia. Segundo Luiz Santana, os três principais entraves à prática desportiva em Portugal são a falta de tempo, a ausência de motivação ou interesse, ou alguma limitação física. O dinheiro é das últimas razões apontadas num estudo Eurobarómetro Portugal - Desporto e Atividade Física 2022, diz. Com base nestas conclusões, a TechBody apostou em oferecer “um treino rápido com a tecnologia mais avançada do mundo, e com acompanhamento de um personal trainer para motivar e cuidar das limitações dos clientes”.

E, apesar da prática regular de exercício físico não ser uma prioridade para muitos portugueses, o mercado dá sinais de ter espaço para novas marcas e conceitos. A Element, que abriu o seu primeiro clube em setembro de 2020 (com o país em plena crise pandémica), tem atualmente 28 ginásios no país, sendo que quatro abriram já este ano. Nos próximos dias, vai inaugurar mais uma unidade, desta vez no Campo Pequeno, Lisboa. Para já, conta com 50 mil sócios.

Segundo Diogo Oliveira, no ano passado, a marca pôs o pé no acelerador e abriu dez clubes, num investimento da ordem dos 10 milhões de euros. A estratégia de crescimento esteve, até agora, muito focada nos dois grandes centros urbanos de Lisboa e Porto, mas o objetivo para este ano é alargar a esfera de ação. Aliás, as unidades que entraram em operação nas primeiras semanas de 2025 já dão prova disso: Castelo Branco, Braga, Maia e Oeiras. E o plano é para manter. A marca está a olhar oportunidades para se espalhar pelo território nacional. O objetivo é fechar o atual exercício com uma rede de 40 clubes.

A TechBody tem um modelo de expansão baseado no franchising. Atualmente, a marca responde por uma rede de nove estúdios - uma unidade no Porto e outra em Alcochete, e sete na Grande Lisboa (Telheiras, Parede, Campo Pequeno, Lumiar, Expo, Colinas do Cruzeiro e Restelo) -, frequentados por mais de 1200 pessoas. O franchisado ou os instrutores do ginásio têm de possuir Cédula de Técnico Especialista em Exercício Físico, ou licenciatura em Fisioterapia, a que se soma uma formação especializada em eletroestimulação de corpo inteiro. Segundo Luiz Santana, “todos os anos nas tendências internacionais do fitness (e também na versão portuguesa), vemos que o treino personalizado e uso da tecnologia no treino estão sempre no top”. Esta premissa dá a alavanca para galgar o objetivo de dobrar a rede nos próximos 24 meses e chegar aos seis mil clientes, entre a TechBody Estúdios e a TechBody U. Cada espaço tem como meta anual uma faturação de 150 mil a 200 mil euros.

Luiz Santana lembra que o mercado português de fitness tem recebido a atenção de novos players, novas modalidades e conceitos. Mas também há marcas nacionais a levar o seu know-how para fora. A Element estreou-se no último trimestre de 2024 na Chéquia e conta agora com quatro ginásios na região da Morávia - em Brno, Olomouc e dois em Ostrava. Segundo Jorge Simões, head de marketing e sales da Element, o conceito é fácil de replicar, mas exige uma boa localização. A marca, cuja relação qualidade/preço foi muito bem aceite neste território, irá continuar a expandir a sua presença e admite existir espaço para se implementar noutros países da Europa.

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