Depois de ter sido comprada pela suíça Axpo, a Goldenergy tem agora como meta passar de uma quota de mercado na eletricidade de 1,7% em Portugal para 10% até 2021. Ou seja, multiplicar por seis o número de clientes no espaço de dois anos.
O objetivo é ambicioso - angariar mais meio milhão de clientes, só na eletricidade -, reconhece Miguel Rodríguez Checa, o novo CEO da Goldenergy, que subiu ao cargo depois de, no final de 2018, a suíça Axpo ter assumido o controlo total da empresa que nasceu e cresceu 100% portuguesa, pelas mãos do grupo Dourogás.
Já para o próximo ano, as previsões da empresa apontam para uma faturação de 130 milhões de euros. Na calha está também a assinatura de novos contratos de compra e venda de eletricidade verde a longo prazo, depois de a Axpo ter sido a primeira empresa em Portugal a fechar um destes contratos com a Hyperion para a central solar de Vale de Moura, em Évora. “Pertencer à Axpo dá-nos um fôlego financeiro igual ao da EDP, ou de qualquer outra grande elétrica”, diz o CEO.
Com o apoio dos investidores suíços e uma posição consolidada no gás natural (terceiro operador em Portugal, com 12,7%, a seguir à EDP e à Galp), a aposta da Goldenergy é vender mais eletricidade de origem 100% renovável, no mercado residencial, e investir na digitalização: três milhões de euros em 2020.
Tudo isto para que, com uma “estrutura leve” (cerca de cem trabalhadores no contact center de Vila Real, onde fica a sede), a empresa consiga gerir os cerca de 4000 mil novos clientes que todos os meses se mudam para a Goldenergy, revela o CEO. “Com as ferramentas digitais certas podemos ter um volume de clientes cinco vezes maior e acelerar as mudanças de comercializador. Em dois ou três dias podemos trazer um cliente de outra empresa”.
Neste plano de crescimento há, no entanto, um obstáculo. “As pessoas ainda optam muito pela EDP porque acham que mudar de fornecedor é um risco e que podem ficar sem luz em casa. Mas uma coisa é quem vende a eletricidade e outra é quem opera a rede, como nas telecomunicações. Posso mudar de operadora, mas nunca deixo de usar o telemóvel. Na eletricidade é igual”, defendeu o responsável, acrescentando: “Se há uma empresa com mais de 80% dos clientes, a concorrência não existe. As pessoas não percebem a diferença entre a EDP Distribuição e a Comercial. É uma anormalidade e tem de mudar.”
Na guerra dos preços, a Goldenergy acaba de anunciar um desconto de 10% no gás natural, e na eletricidade a sua oferta exclusiva para sócios do Automóvel Clube de Portugal surge como a mais barata nos três perfis de consumo do simulador da ERSE, realça Miguel Checa. Mais do que “descontos complicados”, o CEO quer ter o melhor customer service de Portugal. “Falamos com as pessoas por WhatsApp, pelo Facebook, por telefone, para que tudo seja mais rápido. É melhor ir a uma loja e mostrar a fatura? A tendência não é essa. Temos tudo no telemóvel.”
Com a compra da Goldenergy, que neste momento tem uma carteira total de 250 mil clientes (luz e gás), a Axpo está a desenvolver um novo modelo de comercializadora 100% digital para o mercado residencial e quer “conquistar a Europa”, replicando o modelo em Espanha, França, Alemanha e Itália.
Em troca, a Goldenergy conseguiu ter acesso direto através da Axpo aos mercados grossistas de gás a nível mundial, e assim ter preços mais baixos. Só neste verão, o grupo suíço trouxe para a Península Ibérica cinco navios carregados de gás natural (cada um com uma capacidade de 800 GWh), proveniente dos EUA, Austrália e Rússia.
“Estamos a aumentar a nossa liquidez no gás, que é importante também para o preço da eletricidade gerada em centrais de ciclo combinado”, remata Miguel Checa, deixando um recado ao governo português: “A falta de investimento no setor da energia não é um problema. Há grandes fundos internacionais a querer vir para Portugal através da Axpo.”