"Gosto de pensar que uma máquina não faz o que eu faço"

Lizzie O'Leary, apresentadora do podcast _What Next_ TBD_, recusa a ideia de ter programas construídos e apresentados por IA.
Jonquilyn Hill, Lizzie O’Leary e Diogo Queiroz de Andrade. Foto: Carlos Pimentel.
Jonquilyn Hill, Lizzie O’Leary e Diogo Queiroz de Andrade. Foto: Carlos Pimentel.
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Pouco mais de dez dias após a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, a sessão “From Long Reads to Podcast Feeds”, que decorreu esta quinta-feira na Web Summit Lisboa, refletiu sobre o impacto que o formato pode ter tido nos resultados, mas também sobre o futuro da indústria na era da inteligência artificial (IA). “Isto é algo que me preocupa um pouco, porque as nossas noções do que é verdade ou facto estão a desfazer-se e a tornar-se mais permeáveis”, lamentou Lizzie O’Leary. 

A autora do podcast “What Next: TBD” participou na conversa moderada por Diogo Queiroz de Andrade, administrador do Global Media Group (proprietário do Dinheiro Vivo), que contou ainda com Jonquilyn Hill, correspondente sénior na Vox. “Temos podcasts há uma década. O modelo proliferou de tal forma que tem hoje um grande impacto cultural e político”, afirmou. 

O panorama mediático tem sempre impacto na sociedade, mas as duas jornalistas norte-americanas consideram que há um risco de credibilidade associado ao crescimento dos podcasters que, segundo estudos recentes, mostram que estão entre os apresentadores que mais confiança do público reúnem. “Quando ligas as notícias, sabes que aquelas pessoas são credíveis, têm treino para estar ali. Nos podcasts, o bom é que é democratizado e toda a gente pode pegar num microfone, mas o risco é precisamente que qualquer um pode pegar num microfone”.  

Por outro lado, Lizzie O’Leary considera essencial que os media tradicionais percebam “como chegar a essas audiências [de nicho, como aquelas alcançadas pelos podcasts em que Donald Trump participou durante a campanha] que não vêm até nós”. 

Na era em que a IA está a moldar indústrias em todos os setores, as autoras norte-americanas dizem que utilizam estas ferramentas apenas para tarefas repetitivas, como a transcrição dos áudios, mas recusam a ideia de usar IA para narrar, produzir ou escrever guiões. “Gosto de pensar que uma máquina não faz o que eu faço”, diz O’Leary. Questionadas sobre se considerariam ‘emprestar’ a sua voz à IA para traduzir os podcasts para outros idiomas e com isso conseguirem alcançar audiências maiores, ambas dizem que não. 

“Não, não. É a minha voz. Sim, é o que uso no podcast, mas é também a voz que uso para ligar aos meus pais e dizer-lhes que os amo. É algo tão pessoal e íntimo”, refere Jonquilyn Hill. 
Sobre a evolução da indústria nos próximos anos, a duas concordam que “as subscrições são o futuro” e que é necessário um “modelo de negócio que sustente estes projetos, que não pode basear-se apenas em publicidade tradicional”. “Nenhuma pessoa me pode substituir, muito menos a IA. Se a IA quiser competir comigo, ela que compita e vamos ver como corre”, provocou Lizzie O’Leary. 

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