Governo mexe no CSI e espera abranger 24 mil novos beneficiários

O aumento do complemento para 600 euros permitirá apoiar mais 22 500 idosos. A não contabilização dos rendimentos dos filhos fará chegar a ajuda a mais 1500.
Luís Montenegro sublinha que se trata de “dar mais dignidade aos mais pobres dos mais pobres”.
Luís Montenegro sublinha que se trata de “dar mais dignidade aos mais pobres dos mais pobres”.José Sena Goulão / Lusa
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O Governo aprovou ontem, em Conselho de Ministros, um aumento de 50 euros no Complemento Solidáriol para Idosos (CSI), que passará, a partir de junho, a ser de 600 euros, bem como retirou da equação do acesso ao apoio a questão do rendimento dos filhos, o que era fator de exclusão para muitos potenciais beneficiários. Alterações que, estima, farão com que o CSI passe a abranger mais 24 mil idosos, a acrescer aos 145 mil atuais. 

Os dados foram avançados ao Dinheiro Vivo pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que dá conta que o aumento para 600 euros deverá levar à integração de mais 22 500 beneficiários. Já o fim da contabilização dos rendimentos dos filhos deverá abranger mais 1500 pessoas.

Criado em 2006, o Complemento Solidário para Idosos é uma prestação social não contributiva, que visa reduzir a pobreza entre os mais velhos e que, como o nome indica, complementa o rendimento quando este é inferior ao estabelecido. Significa isto que, se um idoso tiver um rendimento de 320 euros receberá, de CSI, o valor remanescente até aos 600 euros (a partir de junho), ou seja, 280 euros mensais. 

O Governo assegura que pretende garantir, até ao fim da legislatura, em 2028, um rendimento mínimo dos pensionistas de 820 euros. O primeiro passo nesse caminho, que Luís Montenegro promete “tentar cumprir os mais rápido que for possível”, foi dado ontem, com a aprovação de “um primeiro aumento, extraordinário”, de 50 euros, elevando o valor de referência para 600 euros. Mais importante ainda, os rendimentos dos filhos deixam de ser fator de exclusão no acesso a este apoio, o que permitirá que mais idosos se candidatem ao mesmo. Montenegro destaca a necessidade de “dar mais dignidade aos mais pobres dos mais pobres”.

“A partir de agora, os rendimentos que são contemplados para efeitos de candidatura são apenas e exclusivamente os rendimentos das pessoas que se candidatam a esta prestação, os pensionistas e reformados”, disse o primeiro-ministro, sublinhando que os beneficiários do CSI “são aqueles que têm maior vulnerabilidade, maior dificuldade, e que muitas vezes não conseguem ter meios para pagar as despesas mais elementares, a começar pelos bens mais essenciais, como a alimentação ou os medicamentos”. 

E por isso, os beneficiários do CSI passarão, também, a não pagar pelos medicamentos sujeitos a prescrição médica comparticipados, um apoio que passa a ser de 100%. “O Ministério da Saúde já contactou as farmácias portuguesas, por forma a que estejam preparadas para, ato imediato à publicação e à entrada em vigor da lei, as pessoas abrangidas possam dirigir-se à farmácia e, apresentando a sua prescrição, levantem o seu medicamento, não tendo necessidade de efetuar nenhum pagamento”, explicou Luís Montenegro.

Miguel Teixeira Coelho, professor auxiliar da Universidade Lusíada e autor do livro «Segurança Social - Situação Atual e Perspetivas de Reforma» (2013),fez contas à medida e estima que o aumento de 50 euros mensais se traduza num acréscimo da despesa da Segurança Social, nesta matéria, em 80 a 100 milhões de euros ao ano. “Quando for concluída a convergência para os 820 euros, daqui por quatro anos, a despesa deverá crescer em torno dos 600 a 700 milhões ao ano”, aponta este responsável, que foi vice-presidente do Instituto da Segurança Social entre 2011 e 2013.

Miguel Teixeira Coelho aplaude as medidas, em especial a da eliminação do rendimento dos filhos como fator de exclusão na atribuição do CSI, considerando que este “é o caminho adequado para combater a pobreza dos mais idosos”. Até agora, ficavam excluídos do CSI todos os pensionistas, reformados e idosos com filhos com rendimentos mensais superiores a dois mil euros ou, no caso de serem casados e terem filhos, a 5649 euros.

Questionado sobre se o aumento do CSI poderá criar algum tipo de injustiça entre quem descontou para a Segurança Social, durante o tempo em que trabalhou, e os que não descontaram, este responsável discorda. “Querer colocar a pensão mínima no patamar dos mil euros, como defendia o Chega, é que conduziria a isso. Descontar ou não descontar para a Segurança Social passaria a ser indiferente, porque estaria a ser atribuída uma pensão igual a quem tivesse um património de milhões e quem não tivesse nada. Assim não. O CSI é só para quem tem rendimentos baixos, tem a ver com as questões do mínimo de sobrevivência”, diz Miguel Teixeira Coelho. 

A eliminação do critério dos rendimentos dos filhos é também aplaudida pela associação APRE! - Aposentados, Pensionistas e Reformados, que reclamava esta alteração há uma década por considerar que a situação “gerava muitas injustiças”.

Quanto aos 50 euros mensais extra, Rosário Gama, presidente da APRE!, diz que “qualquer valor que venha é bem-vindo, sobretudo se houver vontade de continuar a aumentá-lo nos anos seguintes”. Não deixa de defender, no entanto, “que o ideal era que as pessoas pudessem contar com pensões de valor justo, sem terem necessidade de recorrer ao Complemento Social para Idosos”.

Aplaudida é também a decisão de comparticipar a 100% os medicamentos dos beneficiários do CSI, mas a presidente da APRE! considera que é preciso ir mais longe na medida. “Há uma questão que gostaríamos de ver também resolvida, que se prende com os suplementos medicamentosos. Muitas pessoas mais velhas têm necessidade de vitaminas e de fortificantes e esses medicamentos nem sequer são comparticipados. Seria bom que houvesse uma revisão dessa situação”, defende Rosário Gama.

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