Resistir às pressões para aumentar a despesa e apostar em reformas estruturais que impulsionem o crescimento são dois dos principais desafios que o ministro das Finanças que toma posse irá enfrentar, segundo economistas contactados pela Lusa..O novo ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, herda do seu antecessor Fernando Medina um excedente orçamental histórico de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), um rácio da dívida abaixo dos 100% do PIB e o ‘rating’ do país em patamares ‘A’, mas também alguns desafios..“O maior problema do novo ministro será manter o controlo das contas, enquanto acode aos desequilíbrios deixados pela estratégia recente”, antevê o economista João César das Neves, em declarações à Lusa, considerando que será desafiante “manter o rigor orçamental num clima social que, após oito anos, já é fortemente hostil às contas certas”..Para o catedrático da Universidade Católica, “Portugal continua a ter um grave problema nas finanças públicas, o que obriga a reformas estruturais que o anterior governo nunca chegou a fazer”..“Este, tendo o mérito de erigir o problema orçamental como prioridade, preferiu espremer a economia com impostos e o aparelho de Estado com cortes no investimento, criando um forte repúdio social por essa estratégia”, argumenta..Segundo o economista, é visível nas “exigências de redução a carga fiscal, para que a economia retome um crescimento significativo, mas que vêm acompanhadas por várias reclamações de despesas pública para satisfazer poderosos grupos sociais”..Por seu lado, o diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira, aponta como principal desafio “resistir às pressões para aumentar a despesa e diminuir os impostos”..“Antes das eleições houve um autêntico leilão do tipo ‘quem dá mais’ e a fragilidade política do Governo cria a perspetivas de eleições antecipadas, gerando a pressão, dentro do executivo, de recorrer a políticas eleitoralistas”, assinala..Segundo Pedro Braz Teixeira, “será necessário colocar um travão a um conjunto alargado de reivindicações e um caminho possível será a concessão de aumentos graduais, repartidos por vários anos, de forma a ir ao encontro das várias exigências sem colocar em causa a saúde das contas públicas”..“Pode-se criar mesmo uma cláusula dependendo do crescimento económico. Se a economia crescer mais do que um certo limiar, poder-se-á acelerar a resposta às reivindicações”, defende..O economista considera ainda que Miranda Sarmento terá como desafios implementar “reformas estruturais promotoras do crescimento”, já que o PSD apresentou várias propostas nesse sentido, e “promover reformas da despesa pública que aumentem a sua eficiência (conseguir resultados equivalentes com custo menor), em particular, aproveitar as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) destinadas à digitalização da Administração Pública”..Pedro Braz Teixeira indica ainda a reflexão sobre o investimento público como outros dos desafios, justificando que a sua execução tem ficado “muito abaixo do orçamentado” e primado por “escolhas estratégicas muito deficientes”..Já João César das Neves elenca ainda como desafios “novas imposições financeiras devido a problemas crescentes, que vão das necessidades de rearmamento militar, perante as ameaças bélicas, até às transições energética e digital”..“Somando a isto a fragilidade parlamentar do executivo, podemos dizer que o próximo ministro tem uma missão impossível”, antevê..O primeiro-ministro Luís Montenegro e os ministros do XXIV Governo Constitucional tomam hoje posse e os secretários de Estado dois dias depois..O economista e líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, foi o nome escolhido por Luís Montenegro para o cargo de ministro do Estado e das Finanças, depois de ter coordenado a moção do atual presidente do PSD em 2022..Miranda Sarmento, 45 anos, foi presidente do Conselho Estratégico Nacional na anterior direção do PSD de Rui Rio, que durante a campanha para as legislativas de 2019 o chegou a apelidar de “Centeno do PSD”, numa alusão ao então ministro das Finanças do governo do PS, hoje governador do Banco de Portugal..Assessor económico no segundo mandato do ex-Presidente da República Cavaco Silva, continuou na primeira linha política na transição entre Rio e Luís Montenegro e assumiria depois a presidência da bancada parlamentar do PSD, cargo que ocupou desde julho de 2023 até agora.