Greg Behar: "Vamos vender 5 mil M€ em nutrição e wellness no próximo ano"

Responsável por uma área que cresce a duplo dígito, CEO da Nestlé Health Science garante aposta na saúde e bem-estar, que também passa por Portugal, com novos produtos e equipa duplicada.
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Suíço e poliglota, Greg responde a partir dos escritórios da Nestlé na Suíça, num português açucarado - é casado com uma brasileira, com quem tem três filhos - pontuado a castelhano. Uma conversa focada nas soluções nutricionais (vitaminas, magnésio, potássio, reforço imunológico), produtos dietéticos (proteínas e dieta hiperproteica) e direcionados para quem tem problemas digestivos, distúrbios gastrointestinais, alergias, subnutrição e outros. Que revela um lado menos conhecido - mas de peso crescente - do negócio da marca.

Porque está a Nestlé a apostar na área de nutrição e suplementos - como é que isto começou?
A estratégia da Nestlé na área começou nos anos 2000, quando Peter Brabeck-Letmathe, então CEO, achou que a visão estratégica devia evoluir do F&B para a nutrição e bem-estar. Temos vindo a trabalhar essa ambição e em 2007 demos um passo importante com a aquisição da Novartis Clinic Nutrition, um portefólio de 600 milhões de euros focado na nutrição clínica. Em 2011, avançámos com a Nestlé Health Science (NHSc), usando a experiência de produtos desenvolvidos nos anos 50 para a NASA - os primeiros para astronautas, que precisavam de uma nutrição completa e não podiam cozinhar. Foi com base nessa tecnologia que arrancámos e ainda temos esses produtos no portefólio.

Ainda?
A empresa que os fazia foi comprada pela Novartis, portanto ainda temos comida de astronauta.

E que investimento tem sido feito na área de nutrição e wellness?
Temos feito investimento considerável para crescer. Só nos últimos dois anos, foram mais de 4 mil milhões e se juntarmos a aquisição do portefólio da The Bountiful Company, já neste ano, o valor duplica. Esta área representava 2% do turnover da Nestlé e hoje está nos 5%. E mantemos o ímpeto: vamos subir as vendas para 5 mil milhões em 2022.

Como é que a pandemia influenciou essa aposta?
Positivamente. Permitiu a aceleração da NHSc, até porque os consumidores começaram a procurar soluções para melhorar a imunidade e a ser mais proativos na forma de lidar com a saúde. A pandemia empurrou-nos a fazer mais com o que temos. Crescemos a duplo dígito por ano e continuamos a ver oportunidades enormes neste mercado.

Fizeram também trabalho no combate direto ao vírus?
Sim, um exemplo de como ajudámos foi o que fizemos ao hospital de Whuan construído numa noite: ao fim do dia, não tinha como alimentar os doentes em UCI, que precisavam de forças para combater a doença. O principal produto que o permitiu é da NHSc, o Peptamen - linha especializada de dieta de fácil absorção de proteínas (pré-digerida com enzimas) -; doámos uma quantidade de contentores. Foi uma de muitas formas de ajudar, também a Itália, por exemplo.

Fora dos hospitais, a venda de suplementos de reforço imunológico dispararam, sentiram esse efeito? Não é moda passageira?
A procura subiu muito e é uma mudança para ficar. A NHSc cresce, como disse, a duplo dígito e a venda de produtos que reforçam o sistema imunitário duplicou. O grande repto foi conseguir continuar a sustentar a produção para dar resposta ao consumidor. Não é moda. Nos EUA, há mais de dez anos que 75% da população toma suplementos, na Europa, mais de metade. Os números cresceram, mas a verdadeira mudança vem da sociedade. É difícil hoje ter uma alimentação perfeita e os suplementos são essenciais, sobretudo depois dos 50 anos, quando o corpo deixa de conseguir reforçar as células da mesma forma que aos 20 - temos muita ciência e pesquisa a demonstrá-lo e a revelar a importância da nutrição celular; as mitocôndrias, responsáveis por mais de 80% da energia que produzimos, precisam de reciclar-se. E a suplementação ajuda.

O envelhecimento da população dará então impulso ao negócio.
Exato: em 2050, uma em cada seis pessoas terá mais de 65 anos. É um negócio de futuro - também em Portugal, onde vamos lançar produtos para maiores de 50.

A nossa alimentação tem vindo a alterar-se muito por via das preocupações com a saúde e dos desafios ambientais. Há aí também espaço que se cria?
Sim, a falta da tal alimentação perfeita revela-se nas carências de vitamina D no inverno, nas alergias a pólen na primavera... tudo isso, e a suplementação ajuda. Na cultura asiática, a nutrição é sempre foi um parente da medicina, e isso está a chegar aqui. Todos queremos ingerir menos químicos e remédios. Se conseguirmos prevenir e melhorar a saúde, é um win win.

Pode a nutrição funcionar como uma espécie de prevenção na doença? Usando até IA, piscinas de dados...
Absolutamente. Estamos cada vez mais a trabalhar com dados específicos de pessoas e doenças. No cancro, por exemplo, o paladar muda, tudo fica com um sabor férreo e temos feito muitos estudos para ajudar os doentes a gostar das soluções de nutrição que temos. O efeito de terapia é muito importante: conseguirmos soluções que os ajudem a manter-se fortes para os tratamentos terem mais impacto, é ótimo. Também, por exemplo, quem sofre de síndroma de intestino sensível ou irritável precisa de dieta muito específica e conseguimos, com dados de pacientes que têm doença de Crohn e ciência israelita, montar uma que exclui certos ingredientes que aumentam a inflamação e aportar alimentação rica em aminoácidos, ajudando a reduzir a quantidade de remédios que o doente tem de tomar. Problemas de metabolismo, doença genética, etc. são outras áreas que trabalhamos; podemos fazer muito com dados dos pacientes, colaborando com os SNS para criar curvas de aprendizagem e soluções à medida.

Portugal pode ter um papel?
Portugal tem empresas de ponta, notáveis a nível científico. Temos um partner num produto para a flora intestinal que é português, uma biotech nos EUA com a qual a NHSc tem uma parceria que tem como partner uma empresa portuguesa baseada em Lisboa, onde se faz filtragem para criar soluções direcionadas - é a única do mundo que o faz. Se calhar ninguém imagina que há aqui uma empresa de topo de ciência em microbiologia. Portugal pode ter grande relevância na ciência e capacidade de inovação. É verdadeiramente diferenciador e competitivo.

E pode crescer para a NHSc?
Temos mais de 60 produtos lançados em Portugal, incluindo áreas como a imunologia e reforço. Vamos lançar neste mês o Minami, um suplemento líder de mercado, o Pure, líder em Ómega 3, e em outubro a Vital Proteins, líder mundial em colagénio. Temos vindo a crescer em Portugal, onde já temos 25 pessoas a trabalhar, oito contratadas em janeiro. E neste ano queremos duplicar a equipa.

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