Grupo Mello retira OPA mas não desiste da ES Saúde

A oferta pública de aquisição (OPA) da José de Mello Saúde sobre a Espírito Santo Saúde (ESS) não chegou a sair da secretaria. A um dia do prazo-limite para o registo das ofertas concorrentes, o grupo liderado por Salvador de Mello retirou a sua proposta mas deixou o aviso de que não desistiu da corrida.
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"Não é por nos terem obrigado a sair desta operação que vamos desistir. A José de Mello Saúde mantém intacta a sua legítima ambição e projeto de crescimento e prosseguirá todas as oportunidades que sirvam esse propósito", afirmou ontem Salvador de Mello, presidente da José de Mello Saúde, em conferência de imprensa.

O braço-de-ferro entre o grupo liderado por Salvador de Mello e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) durava há uns dias. Tudo por causa do parecer da Autoridade da Concorrência (AdC). O grupo Mello queria mais tempo para acomodar o parecer da concorrência e registar a oferta. O regulador deu a indicação que havia duas opções: ou a José de Mello Saúde conseguia o parecer da AdC em tempo útil, ou deixava cair essa condição prévia para aprovação da OPA.

"Em resposta ao nosso pedido de esclarecimento, fomos hoje [ontem] informados de que a nossa oferta apenas seria registada se prescindíssemos da autorização da AdC", disse o CEO da José de Mello Saúde no encontro com os jornalistas, ressalvando que o grupo não está disposto a fazê-lo por questões "de racionalidade económica e prudência".

Depois do registo da oferta dos mexicanos da Ángeles - cuja OPA decorre até 3 de outubro - o prazo para o registo de uma oferta concorrente ficou um pouco apertado. O calendário estabelece que o registo seja feito até esta sexta-feira, ou seja, hoje. Um prazo mais difícil de cumprir, sobretudo para o grupo Mello, que teria de aguardar luz verde da Autoridade da Concorrência. Isto porque o grupo tem de lidar com as implicações de uma fusão entre os dois maiores operadores de saúde privada a atuar no mercado português. Juntos, controlam 60% dos cuidados de saúde privada.

"Entendemos que tínhamos de ter aprovação da AdC antes de registar a oferta pública de aquisição. Retirar nesta fase a condição da AdC significaria um enorme risco económico e empresarial, uma vez que apesar de considerarmos não haver qualquer problema de concorrência - os dois grupos juntos teriam uma quota de mercado de 8% [do total da saúde pública e privada] - ficaríamos sempre inibidos de gerir este ativo e no limite poderíamos ser obrigados a vender a Espírito Santo Saúde de forma apressada", explicou o presidente da empresa.

Fontes próximas do processo adiantam ao Dinheiro Vivo que terão sido sobretudo os bancos a exigir o parecer positivo da AdC. As instituições não estavam dispostas a financiar um projeto que não sabem qual poderia ser o resultado. É que ao avançar sem luz verde da concorrência estar-se-ia a correr o risco de que fossem aplicados mais tarde "remédios", como consequência da concentração dos dois grupos que atuam no mesmo setor em Portugal. Um risco que os bancos não estariam dispostos a correr e que limitaria o financiamento da operação.

Perante esta condição, Salvador de Mello explicou que o grupo viu--se "obrigado" a retirar a oferta pela ESS, pelo que o presidente do grupo considera que "os acionistas da ESS ficam, assim, privados de receber uma proposta de quem poderia pagar o maior preço por este ativo".

"Investimentos superiores a 450 milhões de euros não são feitos pelo Grupo José de Mello sem saber verdadeiramente o que está a comprar e em que condições", reparou ainda.

É por isso que o presidente do grupo afirma que não vai desistir e que a José de Mello mantém "o compromisso com o país".

Aposta numa segunda ronda

"Não é por nos terem obrigado a sair desta operação que vamos desistir." Foi desta forma que Salvador de Mello mostrou que ainda não atirou a toalha ao chão e que continua interessado em controlar a ES Saúde.

Com a retirada da OPA, resta-lhe esperar por uma segunda ronda. Um cenário em que o grupo parece estar a apostar, acreditando que as restantes ofertas que estão em cima da mesa poderão não ter sucesso por estarem condicionadas à aprovação da maioria do capital, ou seja, mais de 50%.

O grupo José Mello aposta, assim, que a Rioforte, que detém a Espírito Santo Healthcare Investments - dona de 51% da Espírito Santo Saúde - não venda nesta OPA por estar sob gestão controlada.

A decisão sobre o futuro da Rioforte e dos seus ativos está atualmente nas mãos do Tribunal do Comércio do Luxemburgo, que se pronunciará a 6 de outubro. Ou seja, já depois do termo da OPA dos mexicanos da Ángeles - a única oferta já registada.

Último dia para os concorrentes

Hoje é o último dia para se registarem as ofertas concorrentes. Com a retirada da OPA da José de Mello ficam agora em cima da mesa três ofertas: duas no mercado e uma feita diretamente ao maior acionista: a Rioforte.

Os mexicanos do grupo Ángeles ofereceram 4,50 euros por ação.

A Fidelidade, detida pelos chineses da Fosun, foi a que ofereceu mais através de bolsa. Os chineses propuseram 4,72 euros por ação. Atualmente, os chineses estão apenas dependentes da autorização dos ministérios das Finanças e da Saúde a propósito do Hospital de Loures, que está sob gestão da ES Saúde em regime de parceria público-privada (PPP).

Até ao fecho da edição ainda não havia luz verde. "Ainda não foram assinadas quaisquer autorizações, à exceção da referente à OPA do grupo Ángeles. As restantes estão em fase de finalização", adiantou fonte do Ministério da Saúde, em resposta ao Dinheiro Vivo.

Fora da Bolsa, a United Healthcare - dona da Amil, que comprou os HPP da CGD - fez uma oferta diretamente à Rioforte para comprar a Espírito Santo Healthcare, que detém 51% da ES Saúde. Os americanos manifestaram por mais de uma vez interesse na ES Saúde e ofereceram 4,75 euros por ação. Os donos da ES Saúde já vieram dizer que preferem fazer negócio na Bolsa

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