A informação foi avançada pelo próprio Grupo Kering, dono da Gucci, num comunicado tornado público esta quinta-feira, 6 de fevereiro. A saída de De Sarno é mais uma mudança de um designer de renome na indústria da moda de luxo, numa altura em que todo o setor tenta contrariar a quebra nas vendas, muito penalizada pelo comportamento dos consumidores chineses. Já no final do ano passado a Chanel tinha nomeado Matthieu Blazy como o seu novo diretor criativo – o francês era, até então, o responsável criativo da Bottega Veneta, também uma marca do Grupo Kering. No mesmo sentido, Hedi Slimane já tinha saído da Celine, em outubro, e Kim Jones tinha abandonado a Fendi. Ambas as marcas são detidas pelo conglomerado LVMH, de Bernard Arnault.
Em dezembro, a imprensa da especialidade chamava a atenção para a “nunca antes vista dança das cadeiras” entre os diretores criativos de marcas reconhecidas mundialmente, o que denunciava graves problemas no setor. As empresas tentam encontrar formas de se reconectar com os consumidores depois de um significativo aumento de preços – os valores das peças dispararam após a pandemia – e apostam em novos designers que possam captar os compradores com mais poder económico. O grande desafio é encontrar criativos que não se sobreponham às marcas, e que entendam o momento do mercado.
Basicamente, o que aconteceu é que depois de vários meses de confinamento, os consumidores, sobretudo norte-americanos, decidiram gastar tudo o que tinham poupado nesses meses em relógios e malas de luxo (a Rolex e a Gucci que o digam), fazendo os preços disparar. Quando os EUA começaram a apertar o cinto, a China abriu as portas e os compradores asiáticos garantiram as receitas a estas casas – sem que houvesse qualquer necessidade de esforço criativo por parte dos responsáveis. As vendas, simplesmente, aconteciam, o que levou a que os preços não parassem de subir.
Erwan Rambourg, analista da HSBC Holdings Plc, estima que, desde 2019, o preço médio dos produtos de luxo na Europa tenha aumentodo 54%, segundo dados citados pela FashionNetwork. Agora, os consumidores chineses fecharam as carteiras e as receitas das casas de luxo registam quedas constantes – a Gucci reportou uma quebra de 25% nas receitas do terceiro trimestre do ano.
A decisão de despedir Alessandro De Sarno a uma semana da apresentação dos resultados anuais do Grupo Kering, antecipa que a empresa deve ter, novamente, números que vão desiludir o mercado.
De Sarno assumiu o cargo de diretor criativo da Gucci em 2023, sucedendo a Alessandro Michele, uma das figuras mais importantes da indústria da moda – reconhecido pelos designs exuberantes e divertidos, Michele definiu o rumo da marca durante sete anos. De Sarno não durou dois.
“Acho que estava escrito na parede. O estilo recatado de Sabato De Sarno não se enquadrava na imagem exuberante que os consumidores construíram da Gucci nos últimos 30 anos”, afirmou Luca Solca, analista da Bernstein, à Reuters.
À mesma agência noticiosa, Carole Madjo, analista do Barclays, referiu que a marca, icónica pelos seus mocassins, bolsas e cintos, enfrenta uma batalha para recuperar a confiança (e as compras) dos consumidores. “A Gucci tem cartas bastante desfavoráveis nas mãos – muito exposta à China, clientes com rendimentos da classe média e uma marca que tem estado em declínio nos últimos 3-4 anos”, afirma. “A principal prioridade deve ser tornar a marca mais popular e na moda, novamente.”
As receitas da marca italiana representam cerca de metade do total da Kering, e o desempenho do terceiro trimestre de 2024 da Gucci penalizou fortemente os resultados totais do grupo. O preço dos títulos da empresa caiu cerca de um terço nos últimos 12 meses, segundo dados da Reuters.