E agora inflação? Até onde vai a subida da taxa que atormenta a carteira dos portugueses? Em março, atingiu os 5,3%, a maior em quase três décadas de democracia. O poder de compra desaparece mês após mês e à medida que a guerra na Europa se agrava.
Serão necessárias medidas para contar estes impactos e o programa de governo vai ter, natualmente, de sofrer ajustes. Os retoques - alguns anunciados na quinta e sexta-feira pelo governo no parlamento - poderão não vir todos de uma só vez, afinal, a incerteza política e económica deverá exigir uma espécie de navegação à vista. Mas é preciso prevenir para depois não ter de remediar.
Se os particulares estão preocupados com a escalada inflacionista, os patrões não estão menos. As confedereções empresariais, de todas as áreas setoriais, já manifestaram a sua inquietação com o quadro macroeconómico. Se já não era favorável desde o começo da pandemia de covid-19, a situação agravou-se desde há 45 dias, quando que eclodiu o conflito bélico.
As medidas dadas a conhecer pelo primeiro-ministro vão no sentido certo de minorar o efeito de contágio provocado pela invasão russa. Mas serão suficientes? Duvido. A escalada da guerra não tem fim à vista e as réplicas do terramoto vão continuar a fazer abanar as terras lusitanas e não só. Na Alemanha, por exemplo, economia motor da Europa e com quem mantemos forte relação comercial, a inflação já disparou até aos 7,3% e este é já o valor mais elevado desde há 40 anos.
Por cá, o governo anunciou medidas de redução do imposto sobre os combustíveis, apoios ao cabaz alimentar para os mais carenciados, ajudas aos agricultores e investimentos em energias renováveis. Mas o efeito destas medidas contra a evaporação do real poder de compra não se sente nem hoje nem já amanhã. O "optimista irritante" (expressão de Marcelo Rebelo de Sousa referindo-se a António Costa) considera a inflação meramente momentânea. Talvez seja mesmo excesso de optimismo - quem dera que não. A inflação poderá não recuar a valores aceitáveis por tempo indeterminado e vai ser preciso atuar hoje, para não ter de socorrer a economia amanhã.