Há 30 anos Michael Porter esteve em Portugal

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Cumprem-se em breve 30 anos sobre a data da realização do estudo que Michael Porter - a convite do Governo de então - realizou sobre a competitividade da nossa economia. Um estudo que deixou marcas e que neste tempo incerto e complexo que vivemos é mais atual do que nunca. Trinta anos depois, não estaria na altura de o Professor de Harvard voltar ao nosso país e de nos ajudar a estruturar a nossa base estratégica para o futuro, que terá que assentar numa verdadeira dimensão colaborativa de mobilização dos atores da mudança (Empresários, Académicos, Empreendedores)? Precisamos de encontrar novas respostas - práticas e claras - para os novos problemas com que estamos confrontados e a capacidade de mobilizar os nossos atores económicos e sociais para uma nova narrativa estratégica ganha mais do que nunca atualidade.

Tudo tem que começar pelo capital social. Trata-se claramente do vértice mais decisivo do capital estratégico que importa construir neste novo tempo. O exercício de maior cumplicidade estratégica entre os diferentes players terá que ser a base para um novo contrato de competência e confiança na economia e na sociedade. Não se realizando por decreto, não restam dúvidas que esta ação de competence building de entidades da administração pública central e local, centros de ensino e saber, empresas, associações e demais protagonistas da sociedade só tem sentido de eficácia se resultar dum exercício de cumplicidade estratégica entre os diferentes protagonistas. E isso implica esforço de concertação e convergência de opções e soluções assumidas.

Várias são as agendas para as empresas : endogenizar dinâmicas de inovação proativa em articulação com o mercado, geradora de novos produtos e serviços; reforçar a responsabilidade individual do empresário enquanto agente socialmente responsável pela criação de riqueza; fazer do trabalhador um empreendedor ativo consciente do seu papel positivo na organização; fazer da empresa um espaço permanente de procura da criatividade e do valor transacionável nos mercados internacionais; consolidar uma cultura de cooperação ativa entre empresas nacionais e internacionais, pequenas e grandes - são estas as palavras-chave de uma nova estratégia competitiva by Michael Porter.

É importante por isso perceber que a aposta nos fatores dinâmicos de competitividade, numa lógica territorialmente equilibrada e com opções estratégicas claramente assumidas, é um contributo central para a correção das graves assimetrias sociais e regionais que se têm acentuado. Falta por isso neste novo tempo um verdadeiro choque operacional capaz de produzir efeitos sistémicos ao nível do funcionamento das organizações empresariais. O novo paradigma da economia radica nesse sentido na capacidade de os resultados potenciados pela inovação e conhecimento serem capazes de induzir novas formas de integração social e territorial, capazes de sustentar um equilíbrio global do sistema. Uma nova agenda de valor traz novas responsabilidades mas também novos desafios centrados no futuro.

Uma economia aberta e colaborativa é uma resposta aos desafios que Michael Porter nos deixou há 30 anos. E esta agenda assenta em duas ideias centrais para uma nova ambição - profunda renovação organizativa e estrutural dos setores (sobretudo) industriais e aposta integrada na utilização da Inovação como fator de alavancagem de criação de valor de mercado. Esta agenda de valor para o futuro assenta a sua base em vários fatores críticos de competitividade -instituições abertas e eficientes, talentos e excelência, novos modelos de negócio e redes globais, empreendedorismo e capacidade inovadora, ética e sustentabilidade. São eles a base de uma nova aposta estratégica que vale a pena.

Jaime Quesado, economista, gestor e especialista em Inovação e Competitividade

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