Ouvimos sempre dizer que a necessidade aguça o engenho e foi esse arregaçar de mangas que trouxe uma oportunidade aos turcos para resolverem um problema interno (e que depois exportaram a solução). Vamos por partes. Primeiro, o problema: sendo impensável que as alternativas de mobilidade, nos dias de hoje, não passem por zero emissões de carbono, criar uma frota de autocarros públicos elétricos é demasiado dispendioso. Agora, a solução: vai daí e, na Turquia, a construtora Kasan aliou-se à BMW para, em 2018, pôr nas estradas carreiras com baterias e motores, nada mais, nada menos, do que do modelo i3 da marca bávara - um simples carro citadino.
Com seis metros de comprimento e apenas 2,1 metros de largura, o ágil autocarro para 26 passageiros surgiu assim equipado com duas baterias que garantiam autonomia para 210 km, permitindo operar durante 18 horas e carregar noite adentro.
A partir daqui, seguiu-se a internacionalização. No final de agosto de 2021, três autocarros míni elétricos da Karsan Jest Electric chegaram a Lisboa para testes. Mas esta está longe de ser a única marca que apresenta uma solução criativa. Em Madrid, por exemplo, há anos que já circulam os Rampini Wolta, com autonomia para 140 km, e que se metem por quase todas as ruas estreitinhas onde só passa um carro - mas antes tiveram os Breda Zeus e primeiro os Tecnobus Gulliver, em 2008.
Regressando a Lisboa, são reconhecidos os esforços na criação de uma mobilidade multimodal, que no fundo combina a possibilidade de utilização de diferentes modos de mobilidade, favorecendo o uso do transporte público através da Carris, do Metro, das ligações ferroviárias, da Carris Metropolitana, das ligações fluviais e de várias soluções de mobilidade leve, potenciadas por inúmeras novas ciclovias. Há, no entanto, duas coisas fundamentais a ter em conta numa solução integrada de mobilidade que seja verdadeiramente funcional: cumprir as necessidades dos utentes e descarbonizar a frota.
Pedro Bogas, presidente da Carris, vai ao âmago da questão, naquelas que diz serem as suas pretensões. “É fundamental discutir com as juntas de freguesia, com algumas associações de moradores, de utentes, para percebermos quais as necessidades das pessoas” no serviço de transporte público e, todos esperam, diria, que estendam as conversações aos concelhos limítrofes de Lisboa. No segundo aspeto, o gestor reclama mais apoios do governo na renovação da frota de autocarros. Não podendo haver uma solução turca, que se arranje mais financiamento e depressa.