Há um carro usado do estrangeiro por cada dois automóveis novos

Importação de veículos em segunda mão correspondeu a quase metade das vendas de unidades novas de ligeiros de passageiros em 2021. Gasóleo valeu dois terços das escolhas.
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Ano após ano, os carros usados importados têm ganho cada vez mais peso no mercado português. A pandemia veio acelerar o crescimento do passado: em 2021, houve um automóvel em segunda mão do estrangeiro por cada dois carros novos ligeiros de passageiros que foram vendidos. A falta de unidades novas, por causa da crise dos semicondutores foi a principal razão.

No ano passado, foram importados 72 435 automóveis usados ligeiros de passageiros, terceiro maior número de sempre, dizem os dados recolhidos pelo Dinheiro Vivo junto da Associação Automóvel de Portugal (ACAP). No mesmo período, foram registados 146 637 veículos novos com a mesma tipologia.

Contas feitas, o peso dos automóveis usados sobre as unidades novas foi de 49,4%. Nunca se tinha atingido uma percentagem tão elevada.

2019 continua a ser o ano em que mais importámos carros em segunda mão do estrangeiro, com 79 396 unidades. No entanto, no último ano antes da pandemia, tinham sido matriculados 223 799 veículos com zero quilómetros. O peso dos usados sobre os novos foi de 35,48%. Em 2011, a quota de mercado dos importados foi de 15,08%.

Os carros usados ganham cada vez mais peso numa altura em que a crise dos semicondutores condicionou a oferta de automóveis novos. Para responder à procura dos portugueses, "foi preciso ir buscar mais carros ao estrangeiro", reconhece o líder da Associação Portuguesa do Comércio Automóvel (APDCA).

Nuno Silva destaca que os automóveis importados têm, em média, "entre três e oito anos". Ou seja, são mais modernos do que o parque automóvel português, com idade média de 13,2 anos em 2020.

Os carros do estrangeiro, por terem menos de oito anos de matrícula, cumprem a mais recente norma europeia de emissões (Euro 6), em vigor desde setembro de 2014.

Também o Estado acaba por contribuir, indiretamente, para a importação de carros usados, graças à redução da taxa de imposto sobre veículos (ISV): conforme a idade, aplicam-se descontos na taxa aplicada sobre as componentes da cilindrada e das emissões poluentes.

Os carros a gasóleo são os preferidos na hora de importar. No ano passado, este combustível representou mais de dois terços (71,18%) dos veículos recolhidos no estrangeiro. Ainda assim, o peso tem diminuído ao longo dos anos: em 2019, chegaram a valer 80,05%.

"Os carros a gasóleo são fundamentais para quem percorre muitos quilómetros. Com as marcas a focarem-se em unidades a gasolina, só com o estrangeiro podemos ajudar os clientes", justifica o líder da APDCA. Para Nuno Silva, será "temporário" que o litro de gasóleo seja mais caro do que o da gasolina.

Nos últimos três anos, as unidades a gasolina têm conquistado cada vez mais peso: em 2021, valeram 21,27%, face aos 13,87% de 2019. Os veículos elétricos superaram os híbridos em 2021: 4,48% e 3,08%, respetivamente.

"Os carros totalmente elétricos, às vezes, são a única alternativa para termos oferta, sobretudo para as empresas, que têm vantagens financeiras", como a isenção do imposto único de circulação e da tributação autónoma.

A guerra na Ucrânia veio agravar os problemas para a produção de carros. Nos primeiros dois meses do ano, os usados importados já valeram 61,43% das vendas de unidades com zero quilómetros. Resta saber se a tendência se vai manter até final do ano.

Com o preço dos combustíveis a ultrapassar os dois euros para a gasolina e o gasóleo, os automóveis com motorizações alternativas estão a ser cada vez mais procurados.

Na Renault, 11% das vendas são para carros híbridos e elétricos e a mesma percentagem corresponde a matrículas de unidades a GPL, segundo fonte oficial.

Na Hyundai, 30% dos registos no ano passado foram para híbridos e elétricos, segundo o responsável de operações. "Temos descontinuado as vendas de unidades a gasóleo", assume Ricardo Lopes.

Fonte oficial da Nissan assinala o "forte crescimento" das vendas de modelos elétricos ou com motorização híbrida. Na sul-coreana Kia, os automóveis só com baterias valem quase um quarto das matrículas (23%), enquanto os híbridos ocupam um total de 12%. O gasóleo tem apenas 2% das matrículas.

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