Habitação e Inovação Social

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Em boa hora decidiu a PTPC - Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção colocar o tema do Direito à Habitação na agenda de mais um Fórum Estratégico a realizar amanhã no LNEC. A habitação é uma das prioridades centrais para o nosso país e articula-se diretamente com a agenda da Inovação Social - esta tem a sua expressão na capacidade do valor gerado no mercado que possa ser partilhado de forma adequada e justa pela sociedade, de forma a garantir mecanismos de resposta às necessidades crescentes de segmentos da população sem alternativas de rendimento. A Inovação Social é assim o compromisso de afirmação da capacidade de intervenção responsável por parte das organizações num mundo global com crescentes exigências e tem no exemplo da Habitação um Lab experimental importante em termos de impactos.

O Estado e as Empresas têm hoje uma Inovação Social acrescida e mais exigente. A gestão de expectativas é hoje fundamental e quando se começaram a agudizar os sinais de falta de controlo na gestão operacional das contas públicas criou-se o imperativo da necessidade da intervenção. O Estado assumiu a condução do processo, para evitar a contaminação do sistema e a geração de riscos sistémicos com consequências incontroláveis, mas as dúvidas mantiveram-se em muitos quanto à existência de soluções alternativas mais condicentes com o funcionamento das regras do mercado. A Inovação Social implica hoje um novo Contrato de Confiança entre os diferentes atores económicos e sociais e o exemplo da Habitação tem evoluído muito neste sentido - impõem-se nova soluções para um problema estrutural complexo e central para os cidadãos.

A Inovação Social implica também a capacidade de construir uma dimensão mais aberta. Os novos atores sociais, na sua diferença e no seu sucesso, são o resultado dum "tecido social" que se pretende voltado para um futuro permanente. Os índices de absorção positiva por parte da sociedade dos contributos relevantes destes novos atores passam muito pela estabilização de condições estruturais essenciais. A matriz comportamental da população socialmente ativa das atuais sociedades é avessa ao risco, à aposta na inovação e à partilha de uma cultura de dinâmica positiva. Ou seja. Dificilmente se conseguirá impor por decreto este movimento coletivo de aproveitamento do ativo central que constitui a experiência dos novos actores nesta ligação entre economia e sociedade. A resposta tem que partir da própria sociedade e todos temos uma particular responsabilidade nessa matéria.

Na nova sociedade aberta, importa de forma clara consolidar o posicionamento de todos aqueles que têm um contributo a dar para a afirmação duma identidade partilhada e aceite por todos. Nem sempre se tem conseguido corresponder a este desafio. Querer cultivar a pequenez e aumentá-la numa envolvente já de si pequena é firmar um atestado de incapacidade e de falta de crença no futuro. É doentia a incapacidade em definir, operacionalizar e dinamizar a lógica de capital social na nova Ssciedade. Por isso, e mais do que nunca, a inteligência coletiva no aproveitamento das contribuições destes novos atores torna-se nesta matéria um dado fundamental com que se deve contar para a afirmação de uma sociedade mais equilibrada e justa.

A consolidação do papel destes novos actores entre nós passa em grande medida pela efetiva responsabilidade nesse processo dos diferentes actores envolvidos - Estado, Universidade e Empresas. Todos eles têm que nesta matéria saber estar à altura destas expetativas de participação / colaboração tão próprias da sociedade aberta atrás referida. Impõe-se neste sentido uma articulação adequada ente estes atores relativamente a um consenso estratégico à volta do adequado aproveitamento do capital de contribuição neste contexto de mudança. Também aqui a habitação se assume como um lab a ter em conta.

É aqui que entram os novos atores. Compete a estes atores de distinção um papel decisivo na intermediação operativa entre os que estão no topo e os que estão na base da pirâmide. Só com um elevado índice de capital intelectual se conseguirá sustentar uma participação consistente na renovação do modelo social e na criação de plataformas de valor global sustentadas para os diferentes segmentos territoriais e populacionais. É esta a essência da Inovação Social e dos seus desafios - a Habitação será cada vez mais um verdadeiro acelerador de eficiência para a sua execução.

Economista e Gestor - Especialista em Inovação e Competitividade

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