Helena Gualinga: "Povos indígenas têm muito mais a ensinar ao ocidente do que o inverso"

Ativista equatoriana Helena Gualinga explica porque se juntou às causas da sua comunidade, tornando-se voz ativa em todo o mundo contra as alterações climáticas e pelos Direitos Humanos. Vai estar nas <a href="https://www.estorilconferences.org/" target="_blank">Conferências do Estoril</a>, de que o Dinheiro Vivo é <em>media partner</em>, dia 1 de setembro.
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Aos 20 anos, já conta com quase metade da vida a defender a comunidade Kichwa Sarayaku, de Pastaza, Equador. Sumak Helena Sirén Gualinga apresenta-se como ativista indígena ambiental e dos Direitos Humanos e vai estar nas Conferências do Estoril - de que o Dinheiro Vivo é media partner -, dias 1 e 2 de setembro, para levar a sua causa a um cada vez maior número de apoiantes.

"Conhecer pessoas e engajar todos na luta pela Amazónia são expectativas que me aproximam das Conferências do Estoril", disse, em entrevista ao Dinheiro Vivo, garantindo estar "muito entusiasmada por partilhar o palco da Nova SBE com Xiye Bastida", ativista mexicana cofundadora da Re-Earth Initiative.

Filha de mãe equatoriana e pai finlandês, Helena repartiu a sua infância entre a América do Sul e a Europa, mas assume que a vida que tem e as experiências acumuladas, sobretudo quando começou a despertar para os problemas vividos pela comunidade indígena, "tornaram impossível pôr-se à parte".

Responsável, em conjunto com outros 150 ativistas ambientais, pela criação do movimento Polluters Out (que pretende impor às Nações Unidas que recusem financiamento de petrolíferas à COP26) em 2020, Helena Gualinga tornou-se porta-voz da comunidade indígena e tem assumido com cada vez mais força a denúncia dos efeitos da exploração petrolífera sobre as comunidades indígenas, levando a sua mensagem desde a ONU até às escolas locais.

"Cresci com pessoas brilhantes, que fazem parte desta luta, e juntar-me às causas da minha comunidade era uma responsabilidade e uma obrigação. Mas envolver-me é também uma honra, na medida em que sigo os passos dos líderes, dos mais velhos que começaram esta luta", conta, ao DN/Dinheiro Vivo.

O ativismo de Helena - ambiental, de proteção dos Direitos Humanos e das mulheres - sempre lhe correu nas veias. "As petrolíferas tentaram entrar na minha comunidade no ano em que nasci, mas tinha uns 13 anos quando comecei a levar esta luta mais a sério e isso tem-se intensificado nos anos mais recentes, conforme acumulo experiência e conhecimento. Todas as violações aos direitos do meu povo incentivam-me diariamente a fazer parte desta causa que move a comunidade Kichwa Sarayaku e eu tenho a vantagem de ter acesso a plataformas e meios que me permitem chegar a uma comunidade internacional mais alargada", explica Helena.

Sublinhando que nesta luta "todos contam, é o trabalho conjunto que pode obter resultados", a equatoriana quer trazer às Conferências do Estoril, na Nova SBE, argumentos que garantam a proteção do território contra as multinacionais que o ameaçam. Mas não é apenas contra as petrolíferas que levanta a voz. "A sociedade é muito discriminatória relativamente aos povos indígenas e isso traz problemas acrescidos. Quero que, através da minha comunicação, as pessoas entendam a realidade, que vejam o que está a acontecer em todas estas dimensões em simultâneo: a conectividade entre direitos do povo indígena e Direitos Humanos, entre a luta contra as alterações climáticas e a proteção do território."

No seu mundo de sonho, "a Amazónia seria protegida e teríamos sido bem-sucedidos em restaurar o que lhe foi roubado, os indígenas seriam respeitados nas suas formas de vida e eram livres de escolher as suas vias de desenvolvimento."

Para Helena, uma coisa é clara: "Há muito potencial no conhecimento indígena, que pode ser usado na luta contra as alterações climáticas; há que proteger os nossos valores e a diversidade. Há muito mais que o ocidente tem a aprender com os povos indígenas do que o inverso", sublinha a ativista equatoriana, que faz parte do painel de "vozes inspiradoras pelo ambiente", e que estará no palco da Nova SBE no primeiro dia das Conferências do Estoril, ao lado de Xiyde Bastida, a conversar sobre A Voz da Terra: Agora ou Nunca.

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