Marta Lourenço, diretora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MNHNC), e Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, recordaram a vida e obra de Rómulo de Carvalho, no episódio desta semana do Educar tem Ciência, um projeto da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo. Transmitido ontem, coincidiu com o dia de aniversário do professor, data por isso escolhida para assinalar o Dia Nacional da Cultura Científica.
"Como professor marcava imediatamente quem fosse aluno dele", assegura Nuno Crato, aluno de Rómulo de Carvalho no Liceu Pedro Nunes. Do docente de "físico-químicas" lembra a grande disponibilidade para os alunos, difícil de adivinhar por trás de um ar "aparentemente distante". "Percebíamos que estava sempre disponível para corrigir os testes, os "pontos" como se dizia na altura, e esteve mesmo disponível em abrir-nos as portas do laboratório, deixar-nos fazer as nossas experiências - com algumas indicações dele", recorda o presidente da Iniciativa Educação.
"Ele era o género de pessoa que educava pelo exemplo. Sabemos que não era uma pessoa do regime e nunca o ouvi queixar-se de nada. Se não havia material de divulgação ou de ilustração, ele fazia o seu próprio material", diz Nuno Crato, para quem Rómulo de Carvalho, com a sua carreira de 42 anos dedicados ao ensino e enquanto investigador científico de História da Ciência, "foi uma pessoa fundamental em Portugal".
Uma opinião partilhada por Marta Lourenço, que destaca o trabalho realizado na divulgação da ciência, nomeadamente com a organização e catalogação do Gabinete de Física da Universidade de Coimbra, ainda nos anos de 1950. "Atualmente é o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra, que engloba também o gabinete de História Natural", explica a diretora do MNHNC, que lembra que foi Rómulo de Carvalho quem, na década de 1970, organizou a segunda coleção de instrumentos científicos do século XVIII existente no país, na Academia das Ciências de Lisboa. "Portugal só tem duas coleções científicas do século XVIII e Rómulo de Carvalho esteve no centro do seu inventário, catalogação e valorização. Sem ele, muitas coisas podiam ter-se perdido, porque era uma altura em que o património da ciência, e a cultura científica, não eram muito valorizados", alerta Marta Lourenço, que lembra ainda a coleção de Antropologia da Academia das Ciências, também organizada por Rómulo de Carvalho. "Ele teve esta faceta de trazer o que é invisível sobre ciência ao cidadão comum", diz.
A diretora do MNHNC recorda também a criatividade do professor e investigador, e que esteve patente numa exposição no museu, em 2001, quatro anos depois da morte de Rómulo de Carvalho, em 1997. "Dedicámos-lhe uma exposição, em que tivemos alguns dos objetos feitos por ele - uma pequena coleção do Liceu Pedro Nunes - e que são modelos do átomo feitos com arames e contas, moléculas, molinetes para mostrar o princípio da conservação da energia", recorda a responsável, que destaca o equilíbrio como uma das facetas marcantes da vida e obra de Rómulo de Carvalho. "Ele procurava o equilíbrio entre as ciências e as humanidades, a arte e a ciência, não só a ciência pela ciência, os números pelos números, o ensinar por ensinar. Há um equilíbrio que procurava e transmitia às pessoas com quem contactava", refere Marta Lourenço que sublinha a importância do seu trabalho para a valorização do património científico.
Nuno Crato, por seu lado, destaca o rigor em tudo o que fazia e a preparação detalhada das aulas em que as experiências tinham como propósito reforçar a aprendizagem. "Aprendi com Rómulo de Carvalho que não há oposição entre o ensino dirigido pelo professor e um ensino ativo e participativo. Ele tinha um controlo da aula do princípio ao fim, mas, ao mesmo tempo, levantava perguntas, obrigava-nos a falar, a pensar", recorda o antigo aluno.