
Com a chegada da época alta do turismo, as empresas do setor têm de reforçar as suas equipas, algo que deste a Covid-19 se tem tornado cada vez mais complicado. Para tentar contrariar a tendência, os operadores estão a subir o salário médio. Dados do INE, da Segurança Social e do Eurostat, compilados pela Randstad Research e a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso, mostram que “a remuneração média no setor da hotelaria atingiu 1.198 euros em dezembro de 2024, refletindo um crescimento anual de 6,9% e um aumento mensal de 7,4%”.
As diferenças de remuneração são, no entanto, muito significativas consoante o tipo de estabelecimento em causa e a função desempenhada por cada profissional. Apesar de o setor contar com 38,9% de profissionais qualificados, é preciso aumentar este número para que os salários também possam acompanhar – que é como quem diz, apesar de a o alojamento e a restauração representarem, em março de 2025, 6,1% - ainda assim, 4 pontos percentuais abaixo do que representavam no final do ano passado - dos empregos em Portugal, são posições de baixa qualificação e, logo, baixo salário, o que tem um impacto relativo na economia.
A Randstad Research chama ainda a atenção para o facto de o número de empresas no setor apresentar evoluções distintas. “Enquanto a atividade de alojamento tem vindo a crescer de forma significativa desde 2014, impulsionada pela expansão do turismo e da oferta de alojamento local (embora com um ligeiro impacto negativo em 2020 devido à pandemia), a restauração, por outro lado, manteve-se estável. Ainda assim, em 2023 o número empresas de restauração foi consideravelmente maior do que o do alojamento”.
Assim, este aumento dos salários é, não apenas necessário, como importante para o desenvolvimento económico-social. Mas ainda assim, é insuficiente para responder aos desafios estruturais do setor, que se mantém muito refém da sazonalidade, sobretudo em regiões específicas como o Algarve.
Isabel Roseiro, Diretora de Marketing da Randstad, salienta em comunicado que “o aumento das remunerações é um sinal de que o setor está a tentar responder à escassez de mão de obra, mas os dados mostram que a valorização salarial não é suficiente para resolver os desafios estruturais. A instabilidade contratual, a pressão habitacional e a sazonalidade continuam a limitar a capacidade de retenção de talento. É essencial pensar em soluções mais integradas e regionais para garantir a sustentabilidade da hotelaria no longo prazo.”
Restauração lidera no emprego
O setor da hotelaria empregava 316,7 mil pessoas no primeiro trimestre de 2025, sendo que dentro desta, a “restauração e similares (incluindo restaurantes, cafés, bares, cantinas e catering) emprega 238,4 mil pessoas, equivalendo a 72,2% do total do setor”, mostram os dados da Randstad Research.
“Já a atividade de alojamento (como hotéis, apartamentos turísticos e alojamentos locais) emprega 92 mil pessoas, o que corresponde a 27,8%, mas enfrentou uma diminuição de 4,8% no mesmo período, sinalizando maior vulnerabilidade às flutuações do turismo”, salienta a Randstad no mesmo comunicado, que sublinha ainda o nível de desempregados registados nos centros de emprego: 38 574 pessoas vindas deste setor, ou 12,4% do total de inscritos, o que denota uma elevada rotatividade dos postos de trabalho e põe a descoberto a fragilidade dos vínculos laborais.
Sem surpresas, no Algarve os números são ainda mais preocupantes: a hotelaria representa 50% do desemprego total da região, mostram os mesmos dados. Já nas regiões autónomas, “o setor tem também um peso relativo considerável no desemprego: 17% na Madeira e 15,2% nos Açores”. Lisboa e Norte apresentam os maiors volumes absolutos de emprego no setor.
Nota também para o facto de o Turismo empregar 58% de mulheres e 42% de homens, o que contrasta com uma imagem de quase paridade do emprego a nível nacional, o que ajuda a agravar os números de precariedade entre as mulheres, que continuam a enfrentar desafios financeiros maiores do que os homens, em termos genéricos.