
Se já viu anúncios de casas nas redes sociais ou em sites de notícias muito possivelmente foi selecionado por um algoritmo que o identificou como um potencial cliente para esse imóvel. E a fotografia que viu foi selecionada com Inteligência Artificial (IA), que considerou a imagem passível de atrair a sua atenção. Estes são alguns dos rostos da IA na atividade da mediação imobiliária. Mas há muitos mais e outros virão.
Como revela Mariana Coimbra, diretora de Marketing da ERA, muitas das descrições de imóveis que aparecem no site da marca foram construídas com a ajuda do ChatGPT e as imagens foram trabalhadas por uma ferramenta de home staging virtual com IA, que ajudam “a sonhar com aquilo em que um espaço vazio se pode tornar ou até mesmo com o que um imóvel para reabilitação ou construção pode ser”.
Nos últimos anos, as ferramentas de IA entraram progressivamente nas redes imobiliárias. Ajudam a vender casas de uma forma mais eficiente e rápida, mas também apoiam o trabalho dos agentes imobiliários. Na Zome, está presente em várias frentes do negócio. Segundo Carlos Santos, CEO desta rede, esta tecnologia auxilia “a automatizar tarefas administrativas, como a validação documental e o tratamento de processos financeiros”.
Na área de marketing, “é usada para criar conteúdos e peças de divulgação de imóveis de forma mais rápida e personalizada” e permite “identificar de forma acelerada o imóvel certo para o cliente certo”, adianta Carlos Santos. Com a IA, “conseguimos criar campanhas de marketing mais impactantes, melhorar a tomada de decisão com base em dados e oferecer uma experiência de cliente mais personalizada”. Em conclusão, garante um “serviço mais ágil e eficaz”. Na Century 21, a aposta tem sido na análise de grandes volumes de dados, no reconhecimento de padrões, na interpretação do mercado, na introdução de chatbots para melhor qualificar os clientes e as suas necessidades e nas traduções automáticas,
Sem sombra de dúvidas, o imobiliário “está à beira de uma transformação profunda impulsionada pela IA”, frisa Caetano de Bragança, diretor de consultoria na JLL. “Tecnologias como a IA generativa e outras inovações vão remodelar o setor, desde a criação de novos tipos de ativos até à redefinição de modelos de investimento e receitas”. No curto prazo, “continuará a melhorar a eficiência das transações imobiliárias, proporcionando uma maior previsibilidade no mercado e facilitando a personalização da experiência dos clientes”.
Um pouco mais para a frente, “será essencial para o desenvolvimento de edifícios inteligentes e sustentáveis, ajudando a otimizar o consumo energético e a gestão dos espaços e recursos”, diz. E também “será cada vez mais usada para prever tendências de mercado e identificar novas oportunidades de investimento”. Ricardo Sousa, CEO da Century 21, destaca ainda as possibilidades de geração automatizada de leads, o reconhecimento de imagens, análises de mercado, processos de prevenção e branqueamento de capitais, criação automática de textos descritivos, entre outras potenciais tarefas. Para os agentes imobiliários, será “um enorme acelerador da sua profissionalização”, aponta Mariana Coimbra. E “poderá ser um importante regulador do preço da habitação”, prevê.
Inteligência emocional
Com tantas tarefas que já executa e virá a assegurar, a IA parece que não irá substituir os humanos. Esta é a forte convicção das várias redes contactadas pelo DN/DV. “Não substitui e não vai substituir o papel dos agentes imobiliários. A inteligência emocional e a conexão humana são insubstituíveis”, sublinha Ricardo Sousa. Para o gestor, neste mundo onde a tecnologia tende a estar presente em tudo, “o que realmente faz diferença é o fator humano: a empatia, a capacidade de entender que cada pessoa tem as suas aspirações e até de perceber que comprar ou vender uma casa não é uma simples transação”.
Para Marco Tairum, CEO da Keller Williams Portugal, o papel da tecnologia é apoiar e suportar o negócio dos consultores, e não substituí-los. O foco tem de estar na formação, que é essencial para ajudar os consultores a fazerem a adaptação a esta nova tecnologia, em tornar a IA “numa mais valia para as diferentes necessidades” do negócio, defende. “Os consultores com maior resistência podem, a longo prazo, sofrer o impacto dessa falta de adaptação, mas isso acontece com a IA como em qualquer outro processo de evolução”, conclui.
Manuel Alvarez, presidente da RE/MAX Portugal, também está seguro que a IA “vem complementar o trabalho dos agentes, automatizando tarefas repetitivas e permitindo-lhes concentrar-se no atendimento ao cliente e nas negociações”. Para este responsável, “os agentes que aprenderem a usar estas ferramentas terão um desempenho ainda melhor, garantindo o seu papel essencial no setor”.