IEFP arranja 89 mil empregos e põe 162 mil em formação

O número de colocações de desempregados feitas pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) atingiu, em outubro, o valor mais elevado de que há registo (desde o final de 1977), uma preciosa ajuda para fazer descer os números do desemprego oficial.
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No mês em causa, a rede de centros tutelada pelo Ministério do Emprego e da Segurança Social arranjou trabalho a 10 408 pessoas. E de janeiro a outubro, o IEFP realizou um total de 89 198 colocações -- ações de formação que, basicamente, que não contam como desemprego.

Ambos os valores são máximos de sempre. O aumento do contingente de inscritos nessas ações de formação profissional foi muito elevado, mais de 26%. O instituto contabilizou 162 181 pessoas neste grupo. A maioria seria considerada desempregada caso não estivesse "ocupada" por esses programas. Alguns garantem, a curto ou médio prazo, uma saída profissional.

De acordo com os dados ontem publicados, que permitem atualizar as séries históricas do Banco de Portugal até outubro, o desemprego está a cair de forma vertiginosa, pese embora os sinais de enfraquecimento da economia, divulgados na semana passada pelo banco central.

O desemprego contabilizado pelo IEFP, que em janeiro de 2013 tocou um máximo histórico de 740 mil casos, estava a cair 12,9% em outubro deste ano face a igual mês de 2013. Estão agora sem trabalho 605 516 pessoas.

A descida de outubro é a mais pronunciada dos últimos 15 anos, sendo preciso recuar até 1999 para encontrar uma redução dessa magnitude (13,3%).

Até ao colapso do BES, a economia portuguesa estava a dar alguns sinais (tímidos) de recuperação, mas desde agosto, inclusive, que a atividade está a fraquejar. Caiu 0,2% em agosto, deslizou 0,6% em setembro e em outubro a contração já ia em 1%.

Este ano, o Governo espera uma retoma de 1% em termos reais e uma descida da taxa de desemprego de 16,2% para 14,2% da população ativa. A anemia da economia europeia que deprime as exportaçoes, a dificuldade em obter crédito a prazos comportáveis e a falta de confiança dos investidores explicam muito do que está a acontecer.

O retrato mais benigno do mercado de trabalho oferecido pelas autoridades está influenciado por uma série de fatores. É certo que a economia não está hoje em recessão e que isso ajuda, mas ainda assim muitos portugueses continuam a emigrar (menos do que no auge da crise em 2012 e 2013) à procura de trabalho, fugindo das fileiras do desemprego. As regras de acesso ao subsídio são hoje muito mais exigentes, forçando uma aceitação mais veloz de trabalhos com remunerações inferiores; e as regras de cálculo da prestação são muito menos generosas.

Além disso, o Governo tem vindo a multiplicar-se na criação de programas de formação que, mal ou bem, evitam um cenário pior no desemprego.

De acordo com o IEFP, havia em outubro um total de 162.181 "ocupados", isto é, indivíduos "integrados em programas de emprego ou formação profissional, com exceção dos programas que visem a integração direta no mercado de trabalho". Estavam à procura de emprego, diziam-se disponíveis e tinham capacidade para trabalhar, mas por estarem em formação foram retirados do grupo dos desempregados. Este universo de ocupados aumentou 26,2% em outubro.

O regresso dos despedimentos coletivos?

Desde o início de 2013 que as estatísticas oficiais dos despedimentos coletivos foram descontinuadas pelo Governo, mas uma consulta rápida à base de dados do Eurofound mostra uma nova vaga de casos de "reestruturação interna" de várias empresas por motivos de deslocalização ou de dificuldades financeiras graves.

Este ano, o total anunciado em postos de trabalho que podem vir a ser extintos ascende já a 2600. A base de dados não está completa pois regista apenas os casos mais mediáticos, mas serve de barómetro das condições do mercado de trabalho.

É o caso das reestruturações na banca, parte delas resultado dos "remédios" impostos pela Comissão Europeia às entidades que usaram instrumentos públicos de recapitalização.

Segundo o Eurofound, três bancos nacionais - BCP, BPI e Banif - apresentaram planos para reduzir a força de trabalho. Total previsto: 1050 postos.

A maior fatia cabe ao BCP (500). O antigo BES não apresentou quaisquer planos até à data. A PT também não. O corte mais severo cabe a outro banco, o Barclays, que no âmbito de um plano de reestruturação global pretende reduzir 400 efetivos na operação portuguesa.

Fora do sector financeiro, aparecem uma empresa de componentes eletrónicos (Kemet) e duas fábricas têxteis (Bravotex e Filobranca). Juntas poderão ser responsáveis por mais 324 rescisões ou casos de desemprego.

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