Imagine uma grande empresa, com múltiplas fábricas a produzir vários produtos.
A evolução do mercado faz prever um aumento da procura de um produto particularmente complexo, decisivo para a rentabilidade da empresa.
Os diretores de produção das várias fábricas admitem que, a confirmarem-se as previsões, valeria a pena especializarem-se no dito produto, subcontratando a restante produção a outras empresas.
A coordenação entre eles, quiçá partilhando provisões e capacidade, é essencial. Todos concordam ser este o caminho a seguir, mas não têm o poder para tomar as decisões críticas.
Para sua surpresa, a administração não altera as rotinas. Mesmo quando a procura se anuncia talvez mais forte do que o antecipado, insiste em que a empresa tem possibilidade de responder a tudo: enuncia a capacidade existente, as máquinas disponíveis e o número de trabalhadores. Nas fábricas, a situação é distinta, sendo que várias delas estão muito perto do limite de capacidade.
Usando as novas tecnologias, os diretores de produção trocam mensagens e decidem confrontar a administração com a necessidade de agir, sob pena de não se conseguir dar resposta às encomendas, pondo em causa a reputação da empresa.
A resposta é a mesma de sempre: tantas fábricas, máquinas, trabalhadores. Está fora de questão a especialização. "Para quê? Para dar a ganhar dinheiro aos outros? À concorrência? Não nos empurrem para isso!".
Em surdina, quem está no terreno, começa a duvidar da competência da administração. Ninguém percebe a sua obsessão em fazerem tudo sozinhos, correndo riscos desnecessários. Alguém alvitra que estarão demasiado longe do mercado, não percebem os clientes, cujas necessidades confundem com gongóricas campanhas de marketing e gestão de imagem.
Começam a desconfiar que não querem subcontratar, não apenas por arrogância, mas para que não se descubra que nunca souberam, ao certo, os custos totais de produção.
Quando a situação ameaça descalabro, os acionistas dão-se conta do que se passa e despedem a administração.
Haja saúde!
Alberto Castro, economista e professor universitário