Arriscar, no Dicionário Priberam, tem duas definições: pôr ou pôr-se em risco, e sujeitar-se à sorte. Em suma, arriscar pode ter tanto de bom como de desafiante. Afinal, saímos da nossa zona de conforto em busca de algo que cremos ser melhor - no meu caso, algo que acredito piamente que poderá beneficiar a nossa sociedade: as soluções de mobilidade partilhada..Sobretudo ao nível da micromobilidade, vulgo as trotinetes e bicicletas elétricas, a implementação destas tem gerado um debate que acredito ser bastante positivo, no sentido em que impulsiona o trabalho colaborativo entre municípios e operadoras. Existem, no entanto, diferentes velocidades no seu processo de integração na sociedade que sinto que necessitam de ser alinhadas, ainda que muito esforço seja já colocado nesse sentido..Em primeiro lugar, consideremos o ritmo de desenvolvimento tecnológico. A crescente automação e capacidade de computação - associadas à maré de talento que tanto contribui para a onda de inovação a que assistimos - tem levado a que estes veículos de micromobilidade, talvez à primeira vista bastante elementares, possam ser hoje equipados com funcionalidades nunca antes pensadas possíveis, como a deteção de condutores embriagados ou outro tipo de ilegalidades ao comando dos veículos. Possivelmente há cinco anos, quando foram primeiramente introduzidos, não se colocavam sequer estes cenários em cima da mesa. A flexibilidade que o progresso tecnológico admite tem também levado à criação de soluções com um alto impacto positivo nas cidades, como seja ao nível do estacionamento e da imposição de limitações geográficas para o efeito..Não obstante, a segunda velocidade em ação é o pilar que cimenta a fundação destas soluções nos centros urbanos: a educação da população. De nada serve introduzir estes veículos se as pessoas não os entenderem, e sobretudo as suas vantagens. Conforme mencionei acima, tem sido depositado um grande esforço por parte de todos os envolvidos no setor neste sentido; veja-se o caso do conceito das trotinetes enquanto "o transporte dos estrangeiros". Múltiplas ocasiões reportaram já que este não é, de todo, o caso; os habitantes locais das cidades são, inequivocamente, quem mais usa com uma consistência diária as trotinetes e bicicletas elétricas para as suas deslocações do quotidiano. É de extrema importância a contínua promoção da literacia dos utilizadores sobre o uso adequado e correto destes veículos, e de como estas boas práticas apenas contribuirão para uma melhor e mais simples associação dos mesmos com as redes preexistentes de transportes..Chego, por fim, àquele que considero ser o cerne da preocupação mais generalizada: a segurança dos utilizadores. A segurança das pessoas deve sempre ser a prioridade para qualquer operador neste setor; assim, numa primeira instância, a atribuição de seguros é algo que já é prática corrente no setor, por exemplo, decorrente da necessidade de providenciar uma rede de segurança aos riders; ainda assim, sou da opinião de que temos que ir mais longe. Por muitos sensores que existam para detetar derrapagens e usos imprudentes, se o utilizador não for educado para um uso seguro, de nada servirá; neste sentido, acredito que o caminho se deve centrar no afunilamento do poder da informação recolhida por estes veículos para uma sensibilização mais aplicada - por outras palavras, que se invista cada vez mais numa experiência de utilização que reflita no utilizador a consequência da sua imprudência..O equilíbrio destas "velocidades" é crucial para atingirmos um "ponto rebuçado" no que à micromobilidade toca. Sermos visionários na sua implementação é prova do espírito pioneiro que muito caracteriza o nosso setor empreendedor; é preciso também termos a visão para procurarmos uma educação da população o mais homogénea possível, para que as trotinetes que vemos todos os dias sejam desfrutadas em segurança, sem medo do que apareça na próxima esquina..Frederico Venâncio, Diretor de Micromoblidade de Bolt em Portugal