Inovação pedagógica e tecnologia: Quo vadis?

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A transformação a que assistimos na forma de viver, sentir e pensar, a par de um desenvolvimento tecnológico acelerado, produto e produtor dessa mudança, confrontam a escola, em qualquer nível de ensino, com a necessidade de refletir sobre o que muda e o que permanece, ou deve permanecer, e sobre o modo de enquadrar essas mudanças no seu próprio redimensionamento. Neste contexto, o processo de ensino-aprendizagem tem de assumir a ousadia de se renovar, não cedendo a facilitismos.

A tecnologia educativa não é mais do que um meio para esse efeito. Negar a inevitabilidade do progresso tecnológico, nomeadamente no domínio da inteligência artificial, e o impacto que necessariamente tem nos modos de ensinar, aprender e avaliar é não só incoerente, mas contraproducente.

Da mesma forma que não conseguimos parar o vento com as mãos, também não iremos parar a evolução tecnológica entrando simplesmente em negação. Esse progresso sempre existirá e, como tal, é necessário apropriá-lo no que tem de mais positivo e, simultaneamente, gerar debates fundamentados e construir as ferramentas necessárias para suplantar, ou minimizar, os efeitos perversos que possa comportar. A construção de saber e de uma cidadania esclarecida, como base para o exercício de liberdade responsável e para a tomada de decisões científica e eticamente fundamentadas, continua a ser a grande finalidade da escola em geral e da universidade em particular.

Como afirmou a Comissária Europeia Mariya Gabriel, na EdTech Summit Portugal, organizada recentemente pela Universidade de Coimbra, "defender o direito ao acesso universal à educação e competências digitais é vital para garantir que cada membro da nossa sociedade tenha oportunidade de florescer e levar uma vida gratificante no mundo cada vez mais digital (...), abrindo portas a oportunidades para todos". O desenvolvimento tecnológico é, pois, a interface inevitável para pensar a escola atual e futura. Assume um papel central como área de formação, mas também, como impulsionador de alterações nos paradigmas de transmissão de conhecimentos, de produção de ciência e da respetiva aplicação social e económica.

Porém, a tecnologia não é suficiente para a concretização de um desenvolvimento inteligente e humanista. As pessoas continuarão a ser o mais importante. Na escola, o papel do professor muda nos cenários atuais, mas continua a caber-lhe a responsabilidade de estimular o sentido crítico que permita distinguir as verdades das pseudoverdades. Cabe ao professor posicionar o "como". Como ensinar, como preparar, como conectar, como avaliar. Como utilizar de forma inteligente as ferramentas tecnológicas que tem ao seu dispor para construir cooperativamente inovação pedagógica. Para esse efeito é necessário assegurar formação docente e tempo de preparação, salas adaptadas, acesso a tecnologia e ferramentas digitais, mas é o modo de utilizar essas condições que determinará a efetivação de um ensino que não nega ou "diaboliza" as transformações em curso, mas prepara os estudantes para a vivência responsável num mundo que as integra.

Reitor da Universidade de Coimbra

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