A instabilidade política e social, os ataques cibernéticos e a retenção de talento são as maiores preocupações dos empresários portugueses em 2024. A nível internacional, são os eventos climáticos extremos a liderar a tabela de ameaças que constam do estudo A Visão das Empresas Portuguesas sobre os Riscos realizado pela Marsh Portugal..Responderam ao inquérito representantes de 134 empresas, de diversos setores e de diferentes dimensões, quer em número de trabalhadores, quer em volume de negócios, numa amostra alargada do tecido económico nacional. A indústria transformadora (16%), os serviços profissionais (14%) e a construção (9%) são os setores com mais respostas, sendo que 70% dos inquiridos são de empresas com mais de 250 trabalhadores. Há 22% de empresas cotadas em bolsa e, em termos de faturação, a maior fatia, 33%, são empresas com vendas acima de 250 milhões de euros, sendo que os patamares dos 50 a 250 milhões e dos 5 a 50 milhões de euros de volume de negócios ocupam ambos 29% das respostas. Há ainda 9% de microempresas, com vendas até cinco milhões..Realizado entre dezembro e janeiro, não admira, por isso, que a questão da instabilidade tenha, este ano, ganhado nova vida, subindo ao lugar cimeiro nas preocupações dos empresários. Recorde-se que foi em novembro que o Presidente da República anunciou a dissolução da Assembleia da República, mas que esta só aconteceu efetivamente a 15 de janeiro. Desde 2017 que o tema da instabilidade política e social estava remetido para 2.ª, ou mesmo 3.ª, preocupação dos gestores quanto aos riscos para as suas empresas, ocupando, então, os ataques cibernéticos o lugar cimeiro na tabela de riscos. Em 2022, e muito por efeito da pandemia, a falha na cadeia de abastecimento liderava a tabela. .Este ano, a instabilidade política e social foi apontada por 58% dos inquiridos, mais 13 pontos percentuais do que havia recolhido em 2023. Os ataques cibernéticos foram apontados por 47% dos gestores e a retenção de talento por 44%, mais nove pontos percentuais do que há um ano. Os efeitos climáticos extremos (36%) e recessão (24%) ocupam as restantes posições no top-5 dos riscos que as empresas acreditam que terão de enfrentar a nível nacional este ano..Quanto aos riscos para a economia mundial, os gestores portugueses apontaram, pela primeira vez numa década - os mesmos 10 anos que o estudo da Marsh está a assinalar em 2024 -, os eventos climáticos extremos como a maior preocupação. Subiu diretamente da 3.ª para a 1.ª posição, sendo indicado por 49% dos inquiridos, mais sete pontos percentuais do que no ano passado. Seguem-se o crime e a insegurança cibernéticas (42%), a estagnação económica prolongada (34%), os conflitos interestatais (28%) e a geopolitização de recursos estratégicos, um tema que preocupa 27% dos inquiridos e que só no ano passado entrou no top-5 das respostas, impulsionado pela guerra na Ucrânia..“Os números são bastante harmónicos com o que tem sido a evolução do mundo das empresas na última década, muito afetadas tanto pelas questões sociais internas, exacerbadas, nos últimos anos, pela pandemia, como por fatores externos, com alterações e instabilidade social que derivam da migração involuntária em massa, em resultado dos conflitos e alterações climáticas no Norte de África e no Médio Oriente”, refere Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh Portugal..Para este responsável, as empresas portuguesas “têm feito progressos no sentido de uma evolução para uma gestão mais resiliente, em que a gestão de risco faz parte do processo de decisão”, mas há ainda, admite, “um longo caminho a percorrer”. Quanto ao futuro, Fernando Chaves acredita que falta visão sobre o impacto dos riscos ambientais no que será o futuro das organizações. “É dos riscos ambientais que poderão existir grandes impactos económicos e sociais que podem levar a maior disparidade entre ricos e pobres, gerando maior propensão à existência de crime organizado e a tensões geopolíticas”, alerta..Quanto aos riscos cibernéticos, o responsável da Marsh Portugal sublinha que as empresas têm vindo a “investir cada vez mais” na preparação das estruturas para lhes fazer frente, mas também na capacitação das suas pessoas. “É preciso estar consciente de que a digitalização das empresas veio para ficar e que os incidentes podem ocorrer também por falha humana. Não basta investir em capacidade técnica, seja em hardware ou software, é preciso ter políticas de formação”, defende. .E se é verdade que a conjuntura económica não é a mais favorável para investir, a Marsh Portugal lembra que a 4ª Revolução Industrial obriga à capacitação constante dos recursos humanos, o que acabará, acredita, por ser um fator positivo no que à captação e retenção de talento diz respeito. .Refira-se que as conclusões do inquérito correspondem às respostas nacionais ao estudo 'Global Risks Report', produzido pelo Fórum Económico Mundial com o apoio da Marsh McLennan. Os resultados de ambos os estudos são hoje apresentados pela Marsh Portugal no evento “Raio-X aos Riscos 2024”.