Instabilidade, crime cibernético e talento preocupam os empresários

Estudo mostra que a instabilidade política e social é a ameaça que as empresas mais temem em 2024 no país. A nível global, são os eventos climáticos extremos que lideram a tabela.
A Indústria 4.0 veio para ficar, com todos os desafios que cria às empresas, lembra a Marsh Portugal
A Indústria 4.0 veio para ficar, com todos os desafios que cria às empresas, lembra a Marsh PortugalRui Miguel Pedrosa / Global Imagens
Publicado a

A instabilidade política e social, os ataques cibernéticos e a retenção de talento são as maiores preocupações dos empresários portugueses em 2024. A nível internacional, são os eventos climáticos extremos a liderar a tabela de ameaças que constam do estudo A Visão das Empresas Portuguesas sobre os Riscos  realizado pela Marsh Portugal.

Responderam ao inquérito representantes de 134 empresas, de diversos setores e de diferentes dimensões, quer em número de trabalhadores, quer em volume de negócios, numa amostra alargada do tecido económico nacional. A indústria transformadora (16%), os serviços profissionais (14%) e a construção (9%) são os setores com mais respostas, sendo que 70% dos inquiridos são de empresas com mais de 250 trabalhadores. Há 22% de empresas cotadas em bolsa e, em termos de faturação, a maior fatia, 33%, são empresas com vendas acima de 250 milhões de euros, sendo que os patamares dos 50 a 250 milhões e dos 5 a 50 milhões de euros de volume de negócios ocupam ambos 29% das respostas. Há ainda 9% de microempresas, com vendas até cinco milhões.

Realizado entre dezembro e janeiro, não admira, por isso, que a questão da instabilidade tenha, este ano, ganhado nova vida, subindo ao lugar cimeiro nas preocupações dos empresários. Recorde-se que foi em novembro que o Presidente da República anunciou a dissolução da Assembleia da República, mas que esta só aconteceu efetivamente a 15 de janeiro. Desde 2017 que o tema da instabilidade política e social estava remetido para 2.ª, ou mesmo 3.ª, preocupação dos gestores quanto aos riscos para as suas empresas, ocupando, então, os ataques cibernéticos o lugar cimeiro na tabela de riscos. Em 2022, e muito por efeito da pandemia, a falha na cadeia de abastecimento liderava a tabela. 

Este ano, a instabilidade política e social foi apontada por 58% dos inquiridos, mais 13 pontos percentuais do que havia recolhido em 2023. Os ataques cibernéticos foram apontados por 47% dos gestores e a retenção de talento por 44%, mais nove pontos percentuais do que há um ano. Os efeitos climáticos extremos (36%) e recessão (24%) ocupam as restantes posições no top-5 dos riscos que as empresas acreditam que terão de enfrentar a nível nacional este ano.

Quanto aos riscos para a economia mundial, os gestores portugueses apontaram, pela primeira vez numa década - os mesmos 10 anos que o estudo da Marsh está a assinalar em 2024 -, os eventos climáticos extremos como a maior preocupação. Subiu diretamente da 3.ª para a 1.ª posição, sendo indicado por 49% dos inquiridos, mais sete pontos percentuais do que no ano passado. Seguem-se o crime e a insegurança cibernéticas (42%), a estagnação económica prolongada (34%), os conflitos interestatais (28%) e a geopolitização de recursos estratégicos, um tema que preocupa 27% dos inquiridos e que só no ano passado entrou no top-5 das respostas, impulsionado pela guerra na Ucrânia.

“Os números são bastante harmónicos com o que tem sido a evolução do mundo das empresas na última década, muito afetadas tanto pelas questões sociais internas,  exacerbadas, nos últimos anos, pela pandemia, como por fatores externos, com alterações e instabilidade social que derivam da migração involuntária em massa, em resultado dos conflitos e alterações climáticas no Norte de África e no Médio Oriente”, refere Fernando Chaves, Risk Specialist  da Marsh Portugal.

Para este responsável, as empresas portuguesas “têm feito progressos no sentido de uma evolução para uma gestão mais resiliente, em que a gestão de risco faz parte do processo de decisão”, mas há ainda, admite, “um longo caminho a percorrer”. Quanto ao futuro, Fernando Chaves acredita que falta visão sobre o impacto dos riscos ambientais no que será o futuro das organizações. “É dos riscos ambientais que poderão existir grandes impactos económicos e sociais que podem levar a maior disparidade entre ricos e pobres, gerando maior propensão à existência de crime organizado e a tensões geopolíticas”, alerta.

Quanto aos riscos cibernéticos, o responsável da Marsh Portugal sublinha que as empresas têm vindo a “investir cada vez mais” na  preparação das estruturas para lhes fazer frente, mas também na capacitação das suas pessoas. “É preciso estar consciente de que a digitalização das empresas veio para ficar e que os incidentes podem ocorrer também por falha humana. Não basta investir em capacidade técnica, seja em hardware ou software, é preciso ter políticas de formação”, defende.  

E se é verdade que a conjuntura económica não é a mais favorável para investir, a Marsh Portugal lembra que a 4ª Revolução Industrial obriga à capacitação constante dos recursos humanos, o que acabará, acredita,  por ser um fator positivo no que à captação e retenção de talento diz respeito. 

Refira-se que as conclusões do inquérito correspondem às respostas nacionais ao estudo 'Global Risks Report', produzido pelo Fórum Económico Mundial com o apoio da Marsh McLennan.  Os resultados de ambos os estudos são hoje apresentados pela Marsh Portugal no evento “Raio-X aos Riscos 2024”.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt