Interdependência

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Um dos efeitos da globalização tecnológica é a transformação de um mundo “interligado” num mundo “interdependente”. Isto significa que estão a ser criadas novas ligações entre países e entre empresas, naquilo que tem sido designado como uma inversão geoeconómica. A queda de um inimigo é mais perigosa do que a sua primazia, uma vez que o colapso do sistema pode provocar uma transferência imediata de conhecimento.

A redistribuição de poder não é uma novidade das crises políticas. A diferença está na inexistência de legislação internacional capaz de regular a utilização de tecnologia e acompanhar a sua velocidade. Foi no pressuposto de uma utilização indevida de data que o governo dos Estados Unidos justificou as restrições à Huawei, provocando um impacto negativo de 30 mil milhões nas suas contas.

O que se verificaria na prática seria um benefício para os concorrentes da Huawei com uma procura adicional estimada de 50 milhões de dispositivos móveis. O mesmo acontece com a decisão de não cumprir os acordos climáticos internacionais, com benefícios de curto prazo para a indústria norte-americana. Para evitar o abismo ecológico, os cumpridores não podem mudar as suas políticas e vão assistir ao aproveitando do seu bom comportamento.

O equilíbrio político alcançado com a Frota do Pacífico norte-americana, que tem permitido o controlo militar daquela região, não vai impedir a expansão económica dos gigantes asiáticos. Pela extensão do seu mercado, a China pode desenvolver tecnologia até um nível elevado de maturidade que lhe permita conquistar o mercado global, pois estes espaços estão livres para ser ocupados.

As empresas querem vender a preços competitivos, o que num mercado global significa cooperar e concorrer com entidades cujos valores são diferentes dos seus. Não existem empresas que defendam a exploração infantil, mas a verdade é que, do tântalo ao cacau, continuam a importar matéria-prima e a produzir os seus produtos em países pobres cujas populações pagam a fatura humanitária.

As iniciativas de comércio justo - que visam criar alianças entre produtores, distribuidores e consumidores para desenvolver práticas comerciais justas - não têm expressão. É ingénuo pensar que as empresas vão prescindir das suas vantagens concorrenciais, sabendo que se o fizerem outras ocupam o seu lugar. A solução está no consumidor disposto a pagar, num contexto económico onde os comportamentos individuais podem impor as mudanças necessárias.

Managing director da OMD

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