
Os investidores brasileiros aplicaram 61,3 milhões de euros em habitação na Área de Reabilitação Urbana (ARU) de Lisboa no primeiro semestre deste ano, um aumento de 121% face ao valor médio semestral que dispuseram para o efeito em 2023 (27,8 milhões), revelam os dados da Confidencial Imobiliário. No total, o território da ARU (exclui apenas as freguesias do Parque das Nações, Lumiar e Santa Clara) recebeu 463,8 milhões de euros de investimento estrangeiro nos primeiros seis meses deste ano, um crescimento de 2%. Foram escrituradas 796 casas.
Em termos globais, o volume de transações na ARU de Lisboa ultrapassou 1478 milhões de euros nos primeiros seis meses deste ano, um aumento de 33% face aos 1108 milhões da média semestral de 2023. É o melhor semestre desde, pelo menos, 2016. E este forte crescimento deve-se ao mercado doméstico, que assegurou 69% do investimento. Os portugueses aplicaram mais de mil milhões de euros na compra de casa em Lisboa neste período, mais 55%, diz a consultora especializada em dados do setor imobiliário. É também o melhor período do mercado nacional nos últimos oito anos. No total, os nacionais adquiriram 2070 habitações.
O ticket médio pago pelos investidores portugueses acabou por aumentar 19%, para mais de 490 mil euros. Já o valor médio pago por estrangeiros cresceu apenas 1%, totalizando pouco mais de 582 mil euros. O gap no montante aplicado por estes investidores reduziu-se para 19%, quando na média do semestre do ano passado era de 40%.
Imune aos regimes
Esta procura evidencia que a atratividade da cidade está “imune às alterações dos regimes fiscais e legais”, de que são exemplo os vistos gold e o regime de residentes não habituais, aponta Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário. É também ilustrativa de “um mercado maduro, com uma dinâmica estabelecida”, acrescenta. Depois da retração verificada em 2023, verifica-se que “a confiança foi restabelecida” junto dos investidores, quer estrangeiros quer nacionais, fator a que não será alheio o controlo da inflação e a descida das taxas de juro.
Ainda assim, nota-se algumas alterações na dinâmica do investimento externo em habitação. No primeiro semestre deste ano, os franceses foram os mais ativos na aquisição de casas em Lisboa, tendo destronado os norte-americanos na liderança do ranking dos maiores investidores estrangeiros. Os franceses aplicaram 67,8 milhões de euros, um aumento de 16% face à média semestral de 2023. Já os investidores provenientes dos EUA gastaram 62,5 milhões, uma quebra de 11%.
A lista das seis principais nacionalidades que adquiriram imóveis residenciais na capital indica mesmo que houve uma redução do investimento em mais três: Reino Unido (34,6 milhões, menos 39%), Alemanha (23 milhões, quebra de 15%) e China (16,5 milhões, decréscimo de 39%). Há também a destacar que se registaram aquisições de investidores de 58 países, inferior aos “padrões anuais de cerca de 70 nacionalidades ativas, mas não divergente das realidades semestrais passadas”, diz a consultora.
Novos focos
A freguesia de S. Vicente parece que foi descoberta pelos compradores estrangeiros, Não é a que capta mais investimento do exterior - ocupa o terceiro lugar -, mas regista um crescimento de 223% face à média semestral de 2023. Em S. Vicente foram aplicados 55,9 milhões de euros, 12% do total investido por estrangeiros. Segundo a Confidencial Imobiliário, captou mais nestes primeiros seis meses de 2024 do que todo o ano passado (34,6 milhões). A Misericórdia é o lugar de eleição do investimento estrangeiro, tendo captado 66,3 milhões, um aumento de 84%, S. Vicente e a Misericórdia são as freguesias onde o capital estrangeiro é dominante, com um peso no total do investimento de 67% e 69% respetivamente. O pódio fecha com a Estrela, que assegurou 56,9 milhões, mas apresentou uma quebra de 27%. São zonas do centro histórico da cidade onde “há uma ligação com o racional do turismo”, justifica Ricardo Guimarães, com muitos destes compradores a pensar no mercado do arrendamento de curta e média duração.
Os dados da Confidencial Imobiliário dão também nota de uma maior dispersão das aplicações de capital estrangeiro no território da cidade. Em Alvalade, cresceu 193% (total de 7,5 milhões de euros), em Domingos de Benfica verificou-se um aumento de 157% (cinco milhões de euros), no Beato incrementou 145% (3,2 milhões), e na Ajuda subiu 118% (9,7 milhões). No total do valor aplicado por estes compradores, é ainda assim pouco significativo.