Investir em competências para o futuro

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Na campanha para as Europeias pouco se falou de economia. Os temas nacionais tiveram natural protagonismo, dada a intensidade do combate político que se trava hoje em Portugal. Já o debate sobre a Europa esteve centrado em assuntos como a ascensão dos populismos, o fluxo migratório, a turbulência geopolítica ou os direitos sociais.

São assuntos importantes, sem dúvida, mas é pena que não se tenha debatido mais a economia europeia. É que, para lá de problemas conjunturais como a inflação ou as taxas de juro, há questões estruturais que podem pôr em risco o projeto europeu, como a perda de competitividade económica. Sem competitividade, os grandes pilares da UE – em particular o modelo social europeu – ameaçam ruir.

É fácil fazer o diagnóstico das debilidades estruturais da UE. A competitividade da Europa é penalizada, sobretudo, pelo envelhecimento populacional, pela divergência entre as competências oferecidas e as necessidades do mercado de trabalho, pela lentidão da dupla transição ecológica e digital, pela deslocalização industrial, pelo défice de investimento em I&D, pelo atraso das redes transeuropeias de alto desempenho, pela dependência em relação às matérias-primas críticas importadas, pela fragmentação do mercado europeu, pela falta de um mercado de capitais unificado e pelo pesado ambiente regulatório.

Por este conjunto de razões, a Europa está a falhar na transição para uma economia verde, digital, inclusiva e resiliente e a distanciar-se de outras potências económicas. Consciente disso, a Comissão Europeia encomendou ao antigo presidente do BCE, Mário Draghi, um estudo sobre a perda de competitividade da UE no quadro da economia global.

Se tivesse de apontar uma prioridade, tendo em conta as debilidades referidas, escolheria o investimento em competências críticas. Creio que na base do atraso estrutural europeu está a educação e formação digitais, sem as quais a UE não pode aspirar a uma economia mais intensiva em tecnologia e, por isso, mais competitiva e produtiva.

Para o futuro da economia europeia e, consequentemente, da coesão social na UE, tem de haver, nos diferentes níveis de ensino, uma oferta formativa de qualidade na área da informática. Simultaneamente, há que atrair as novas gerações para os cursos superiores em tecnologias e desenvolver competências digitais nos adultos. Tudo isto para colmatar a escassez de profissionais das tecnologias digitais, fator crucial para a competitividade económica.

Alexandre Meireles, presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

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