O Prémio Nobel Paul Krugman escreveu certa vez: "Produtividade não é tudo, mas a longo prazo é quase tudo". A produtividade é crucial para estimular o desenvolvimento económico, que, por sua vez, cria uma ampla gama de novas oportunidades que permitem diminuir os índices de pobreza. E a história mostra que as novas tecnologias são fundamentais para impulsionar o incremento da produtividade. Além disso, o aumento da produtividade será crucial para a economia global recuperar do choque causado pela pandemia de covid-19.
Assim, estará o mundo à beira de uma Quarta Revolução industrial impulsionada por desenvolvimentos tecnológicos em TIC, incluindo a Internet das Coisas (IoT)? Numa pesquisa, conduzida em colaboração com o Imperial College of London, a Ericsson Research encontrou evidências que ligam os dispositivos de IoT ao crescimento da produtividade.
Os resultados sugerem que um aumento de 10 pontos percentuais no aumento dos dispositivos de IoT por habitante está associado a um crescimento de 0,23 pontos percentuais no crescimento da produtividade, o que equivale a uma contribuição 197 mil milhões de dólares, com base no PIB mundial em 2018.
Desde a Revolução Industrial, os principais avanços tecnológicos possibilitaram mudar radicalmente o modo de vida da Humanidade, bem como a forma como são produzidos bens e serviços. De acordo com essa visão, décadas de evolução técnica são impulsionadas por tecnologias holísticas com potencial inerente de progresso e complementaridades inovadoras, o que dá origem a crescentes retornos em escala. Nesse contexto, podemos considerar a IoT uma complementaridade inovadora baseada em melhorias técnicas em TIC.
As ligações de IoT têm crescido exponencialmente ao longo da última década. Esta evolução sentiu-se particularmente na China. Se esta evolução a nível global rondou os 40%, no caso chinês esse valor ascende aos 70%. Mais, a China tem o segundo maior número de ligações IoT per capita, apenas superada pela Suécia.
Argumenta-se que a IoT impactará tanto os consumidores como as indústrias. Se no que concerne às indústrias o padrão de avaliação pode ser a produtividade, já no primeiro caso esse impacto terá de se refletir nos preços medidos através de premissas como a economia de tempo, oferta de bens ou incremento de qualidade.
Consideramos que os efeitos da produtividade ocorrerão por meio de dois canais. Em primeiro lugar, pelo aprofundamento do capital (aumento da razão capital/trabalho), à medida que as empresas investem na conectividade dos equipamentos. Em segundo lugar, na forma de crescimento da Produtividade Total dos Fatores (PTF), que se pode aferir com o aumento da eficiência e otimização no processo de produção, inovação complementar e acumulação de capital intangível complementar, que inclui capital organizacional e spillovers (ou efeitos de rede da acumulação e implementação de capital de comunicações).
A PTF é o crescimento económico não atribuído a injeções de capital e trabalho. Portanto, representa a produtividade alcançada com o uso de novas tecnologias e uma organização mais inteligente da produção. Como resultado, esta é alcançada sem entradas adicionais de recursos. A produtividade desempenha um papel fundamental no incentivo ao desenvolvimento económico. Dessa forma, o seu aumento libertará recursos que possibilitarão refinar outras metas importantes de sustentabilidade, como saúde, ambiente, segurança e educação.
Com base em dados registados em 82 países entre 2010-2017, encontramos uma forte associação entre a mudança nas ligações de IoT por habitante e o crescimento da PTF, o que sugere grandes efeitos nos estágios iniciais de difusão. Verificamos um crescimento a rondar os 30% ao ano nas ligações de IoT por habitante, o que implica uma contribuição anual para o crescimento da PTF de 0,69%, mais concretamente, 592 biliões de dólares.
Embora este estudo seja anterior à pandemia de Covid-19, o aumento da produtividade será um fator chave para uma rápida recuperação económica.
Luís Muchacho, Networks Pre-Sales Lead da Ericsson Portugal