Ir com muita sede ao pote dos lucros pode hipotecar o país

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A definição de "lucros excessivos" é no mínimo escorregadia e com demasiada regularidade tem servido de slogan à linha demagógica das ideologias de esquerda. Quanto mais extremista a voz, mais ênfase dá ao "escândalo" de alguns fazerem dinheiro enquanto tantos passam fome. Mais ou menos como aquelas alminhas que não veem porque a virtude e os resultados de um bom profissional - sobretudo se estiver no topo da estrutura hierárquica - devem distingui-lo positivamente na remuneração merecida. Por cá, o lucro é visto como merecedor de castigo e quem faz fortuna é culpado de crime de lesa-pátria. Um disparate que tem corrido com os nossos melhores para paragens onde a sua capacidade é reconhecida sem rancor ou inveja e que tem afastado investimentos de que muito precisaríamos para pôr Portugal a crescer.

Dito isto, com algumas das maiores economias europeias a fazê-lo, parece cada vez mais inevitável que Portugal siga o exemplo de Itália, Reino Unido e Espanha, que tomaram a decisão de criar um imposto extraordinário para colher nos lucros inesperados de grandes empresas receita extra que permita financiar os apoios dos quais depende a sobrevivência de famílias e empresas menos afortunadas pela área de negócio em que se movem. O setor energético será um dos alvos mais apetecíveis - basta ver que as cinco maiores petrolíferas do mundo acumularam no segundo trimestre deste ano lucros de 60 mil milhões -, mas na lista de potenciais vítimas estão também bancos e tecnológicas, por exemplo.

Fazê-lo, porém, só seria aceitável cumprindo três premissas fundamentais.

A primeira delas é o caráter temporário dessa medida, que teria de ser bem marcado num curto e improlongável horizonte temporal, mobilizando as companhias no sentido de uma mobilização para dar resposta a uma situação de emergência nacional. Em Portugal, onde o extraordinário tende a tornar-se regra - veja-se as contribuições extraordinárias sobre as energéticas, as farmacêuticas, a banca, que há uma década vê sendo renovadas ano após ano... -, o risco é demasiado grande para acreditar na boa vontade. E eternizar este tipo de penalização fiscal tem por efeito direto a desistência de as empresas investirem no país.

A segunda condição imprescindível é a igualdade de tratamento: se pedimos ao setor privado que faça sacrifícios, o Estado tem de dar o exemplo. Em sete meses apenas, o Fisco já recolheu em impostos mais 2 mil milhões de euros do que o que previa receber a mais neste ano completo. Antes de retirar uma fatia do bolo dos lucros alheios - e privados -, portanto, o governo devia pôr a receita extra acumulada nos seus próprios cofres na equação dos fundos disponíveis para apoiar famílias e empresas.

A terceira premissa consiste em não cair em demagogias ideológicas que façam desconfiar que a intenção é castigar os bons resultados e ameacem os setores chamados a contribuir mais. Ir com demasiada sede ao pote da banca pode significar deixar os bancos sem suporte para serem, eles próprios, flexíveis quando a crise levar ao incumprimento dos seus clientes. Taxar loucamente as energéticas dados os seus resultados extraordinários será pôr em risco a transformação energética que se assume prioritária e imprescindível - o dinheiro entregue ao Estado não será usado para adotar novas tecnologias, para estimular a inovação, para investimentos transformativos.

É bom que se pense bem no que estamos a arriscar e que se assuma o que pode perder-se a médio e longo prazo na ânsia ganhar hoje uns votos a mais.

SOBE: João Manso Neto, presidente da Greenvolt
Apenas um ano depois de João Manso Neto assumir o leme e gizar uma estratégia que tem sido pontuada com êxitos quase semanais, a Greenvolt recebeu a sua primeira notação financeira. E a EthiFinance classificou-a com um rating BBB- e outlook estável, o que significa que vê na energética o potencial para ser considerada um "investimento de qualidade para os investidores no mercado de dívida". "Não só reconhece o trabalho feito como revela confiança na estratégia definida para o crescimento da empresa. E vem ajudar a concretizá-lo, abrindo-nos portas para realizarmos novas emissões", comentou o CEO. O que ele não disse, mas merece registo é que essa conquista tem o nome do próprio Manso Neto. É dele a lógica, é dele o conhecimento técnico, é dele a visão e é dele o trabalho de escolha e orientação de objetivos que permitem à Greenvolt ser uma companhia cada vez mais relevante. Oxalá tivéssemos mais gestores deste calibre.

E SOBE: Daniel Traça e Carlos Carreiras, dean da Nova SBE e presidente da CMC
São as caras das Conferências do Estoril, que nos últimos dois dias levaram a palco, no campus da Nova SBE uma série de pessoas mais ou menos conhecidas mas todas extraordinárias pela sua capacidade de entrega e desejo de melhorar o futuro da humanidade. São ideias e debates e a larga maioria dos intervenientes estão até afastados dos centros de decisão, mas fazem o que é mais raro e fundamental: trazem a discussão para a terra e envolvem a sociedade civil. De pés bem assentes no chão, esta edição valeu mais pelo papel central que deu aos mais jovens, aqueles que ditarão as decisões e os caminhos de amanhã. Permitindo-lhes questionar e acrescentar o seu pensamento aos daqueles que já têm voz. As Conferências do Estoril são o tipo de iniciativas que fazem falta a Portugal.

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