Mais ou menos pela altura em que se descobriu o negócio milionário do então vereador Ricardo Robles - à data, o rosto em Lisboa do Bloco de Esquerda, que vendia por 5,7 milhões de euros um prédio que comprara em Alfama por 347 mil euros -, chegava também às notícias que a própria Catarina Martins era proprietária de um projeto de Alojamento Local..A líder bloquista abrira a Logradouro com o marido em 2008, num investimento de 190 mil euros, financiado em 75% por fundos europeus previstos para reabilitação com fins turísticos. Assim nasceram quatro unidades em pleno Castelo do Sabugal feitos "casas de campo" (RNET 3232, 3233) e geridos ainda pelo marido da líder bloquista, também sócio, com preços entre 60 e 100 euros por noite (sem pequeno-almoço e com wi-fi mediante reserva). O negócio da Logradouro, Lda., que tem agora como sócios maioritários os sogros de Catarina Martins, mantendo-se ela com uma participação minoritária, de forma a cumprir o regime de exclusividade dos deputados, contava ainda com um Alojamento Local. A Casa da Marzagona desapareceu entretanto do Registo Nacional, onde constava com a licença 7279, e de sites como Airbnb, mas é ainda rastreável nos motores de busca..Em resumo, Catarina Martins, que assumiu a primeira fila na manifestação pelo Direito à Habitação e o megafone ao que se gritava a mensagem "casas são para morar, não para negociar e especular", foi proprietária de um AL e tem até hoje, com o marido e os sogros, um negócio de casas para turismo na Guarda. Ilegal, (ainda) não! Imoral?.É verdade que este é um distrito de baixos preços na habitação, mas isso não significa que seja isento de problemas, como aliás ainda recentemente frisou o presidente do Instituto Politécnico da Guarda - "Faltam casas para estudantes. Sem mais alojamento condigno a preços acessíveis, não conseguiremos mais estudantes na Guarda e em Seia", afirmou Joaquim Brigas na abertura deste ano letivo. Por outro lado, este é dos distritos em que os preços mais têm subido desde a pandemia: o barómetro Imovirtual aponta uma escalada de 55% no preço médio de arrendamento na Guarda em dois anos, a maior do país nesse intervalo, de cerca de 350 para 551 euros..Nos últimos dados disponíveis, em relatório financeiro de 2021 - antes do boom da recuperação turística, portanto - da Logradouro, Lda., a faturação apontada ao negócio da líder bloquista e família é de perto de 21 mil euros, sendo os gastos com pessoal (um funcionário) da ordem dos 9500 euros. Se Catarina Martins fizesse o que prega, começaria por prescindir do seu negócio a bem dos estudantes da região. Como aliás a própria defendeu num projeto do BE do final do ano passado: "O Estado devia fazer um levantamento das necessidades mais prementes" de alojamento para estudantes universitários e "requisitar esses quartos ao alojamento local", disse. A questão é se as suas casinhas de turismo rural não deviam seguir o mesmo fim, para prevenir desde já o adensar da crise habitacional também na Guarda. Quando poderão os alunos do IPG mudar-se para os Palheiros do Castelo?.SOBE: António Saraiva, presidente cessante da CIP.Dos tempos da troika à geringonça, da pandemia ao regresso da guerra à Europa, não houve tempo para respirar fundo nos 13 anos que António Saraiva passou à frente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), de que agora se despede. E durante todos estes anos, o líder da CIP defendeu de forma exemplar e por vezes até com prejuízo pessoal não apenas aqueles que representa mas sobretudo o país, pondo esse desígnio de ver Portugal melhorar e crescer à frente de tudo. Fê-lo sem medo de deixar alertas mesmo quando ninguém queria ver o tanto que podia correr mal. Cumpriu-o sem desanimar de todas as vezes em que lhe fizeram orelhas moucas. Assumiu-o sem medo de dar um murro na mesa quando mais nada poderia resultar - como quando bateu com a porta da concertação social a um governo reiterada e acintosamente desrespeitador das instituições democráticas e do diálogo. Lutador, respeitador, conciliador mas firme, António Saraiva é um homem de muitos créditos e cuja vida e conquistas dispensam apresentações. Mas são homens como ele que as merecem, são ações como as dele que devem ser enaltecidas e ecoadas para nos servirem de exemplo. Na despedida da CIP, António Saraiva merece um agradecimento de todos os patrões. Mas é sobretudo credor de um obrigada de toda a sociedade portuguesa. Aqui fica o meu reconhecimento, enquanto portuguesa e enquanto diretora do Dinheiro Vivo. Obrigada a um grande Senhor, que tem ainda muito para dar a este país..SOBE: Armindo Monteiro, presidente eleito da CIP.Foi suave e praticamente unânime a escolha de Armindo Monteiro para a liderança da maior estrutura representativa dos empresários portugueses, mas não é fácil a sua missão, sob um céu carregado de ameaças - inflação, guerra, crise, juros, etc. São imensos os desafios que o empresário assume a partir de dia 26 e grandes os sapatos que vai calçar, mas com duas certezas a escudá-lo: o apoio e vontade de contribuir dos que vai representar e a sua grande experiência quer nas empresas quer no mundo do associativismo, que acumula desde que fundou a Softline (1994) e liderou a ANJE (2010). Armindo Monteiro é o homem certo, no lugar certo para fazer um excelente trabalho.