Ivory. A empresa que oferece uma sessão de terapia em cada venda quer levar saúde mental além-fronteiras

Startup portuguesa quer expandir plataforma de saúde mental e alargar serviços à Europa até ao final do ano. Em setembro vai ao mercado à procura de 100 mil euros para alavancar o crescimento.
Afonso e Francisco Soares, fundadores da Ivory. Foto: Paulo Spranger/Global Imagens
Afonso e Francisco Soares, fundadores da Ivory. Foto: Paulo Spranger/Global ImagensAfonso e Francisco Soares, fundadores da Ivory. Foto: Paulo Spranger/Global Imagens
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“Todas as pessoas com quem te cruzas estão a enfrentar uma batalha que desconheces. Sê gentil. Sempre”. Esta é a frase que enfeita  uma das peças best seller da Ivory. Mas há mais. As t-shirts, sweats e hoodies da startup portuguesa carregam às costas mensagens disruptivas em letras garrafais sobre saúde mental e vêm com um bónus: em cada compra é oferecida uma consulta de psicologia. A ideia nasceu pelas mãos dos irmãos Francisco e Afonso Soares, de 26 e 24 anos, que estudaram gestão de informação na Nova IMS.

O negócio é filho da pandemia e deu os primeiros passos em 2020, mas a motivação já vinha de trás e foi a experiência pessoal de Francisco que serviu de combustível ao projeto. Aos 18 anos, e depois de ter enfrentado a morte do pai na adolescência, o jovem viveu um quadro de performance anxiety.

A caminhada foi solitária por vergonha de partilhar com os amigos o que estava a viver. “A minha mãe já me tinha aconselhado a fazer terapia, após a morte do meu pai, por ser o irmão mais velho. Eu dizia que isso era para pessoas fracas”, conta. Um ano e meio após começar a lidar com a patologia deu o passo seguinte e procurou ajuda profissional. “Finalmente tive coragem para experimentar terapia. Olhei para a minha psicóloga e disse: isto é incrível, não sei como é que não estamos todos a falar sobre isto. Por que é que é tão estranho irmos ao psicólogo? Um dia vou fazer algo sobre saúde mental”, relembra.  

Dois anos depois criou a Ivory com o irmão. Inicialmente produziam peças de roupa com mensagens sobre várias causas sociais e doavam as receitas a instituições. Mas foi a primeira campanha sobre saúde mental que mudou o rumo do projeto. “You are not alone” foi lançada no final de 2020 em parceria com Francisco Lima, o filho do falecido ator Pedro Lima, e, a partir daí, a startup dedicou-se em exclusivo ao tema. Com mensagens de sensibilização cada vez mais profundas, começaram a chegar pedidos de ajuda. “

As pessoas escreviam-nos e começámos por ter um psicólogo a responder às mensagens nas nossas plataformas. A partir daí percebemos que tínhamos de fazer mais e começámos a entrar na parte clínica”, explica Francisco. Atualmente a Ivory é uma plataforma de saúde mental que conta com uma equipa de cinco psicólogos clínicos que dão consultas online por um valor de 40 euros. É possível marcar as sessões diretamente no website. Mas, para quem comprar uma das peças de roupa, a primeira sessão de terapia é gratuita e pode ser oferecida a outra pessoa.

Internacionalização

Nos último ano a Ivory vendeu nove mil peças de roupa e 1650 consultas de psicologia, oferecendo ainda 850 sessões de terapia. Além do corpo clínico, a startup conta com uma equipa de 11 pessoas e 30 comerciais. A faturação prevista para este ano é de 750 mil euros e, no próximo, será ultrapassada a fasquia do milhão de euros. Recentemente estrearam-se também no mercado corporativo com a oferta de soluções de saúde mental business no seguimento da procura de duas empresas da Suécia e dos Estados Unidos às quais venderam consultas para os trabalhadores.

Esta é uma franja do negócio que os dois irmãos querem explorar e, em andamento, estão já a ser negociadas parcerias com outras organizações. 20% das vendas da Ivory são feitas para o estrangeiro, sendo os Estados Unidos e a Alemanha os países que mais compram. O objetivo para este ano é dar o passo em frente e penetrar no mercado europeu.

“Até 2025 queremos ser a maior referência em saúde mental em Portugal. Queremos começar este ano a explorar a Europa e depois seguir para o mundo. Temos já muita audiência internacional na Alemanha, Irlanda e Estados Unidos. Vamos testar, começando por um país para ganhar nome”, projeta Afonso Soares.

Para dar músculo ao crescimento, a Ivory vai ao mercado depois do verão à procura de um financiamento de 100 mil euros. “O que fazemos bem é o marketing. Rapidamente aumentamos a equipa de psicólogos sem investimento nenhum. Esta ronda será para nos permitir investir em mais stock. A nossa roupa é marketing, as pessoas ao comprar a camisola estão a fazer publicidade à nossa plataforma de saúde mental. Vender roupa é bom porque estamos a criar awareness”, adianta o cofundador.

Com 30 mil seguidores no Instagram, a comunidade digital é também uma fatia importante no plano de comunicação. Nomes como Catarina Furtado, Madalena Abecassis, David Carreira, Carolina Deslandes ou Kelly Bailey já usaram peças da Ivory. Em breve, no Rock in Rio, um artista irá também atuar envergando as mensagens da marca. Esta é uma forma de a startup sensibilizar para a causa que, acredita, está a agigantar-se em pertinência. “A saúde mental vai ser dos maiores mercados nos próximos anos, a solidão vai ser a pandemia desta década. Com as tecnologias as pessoas ficam mais em casa. A tecnologia serve para nos ligar mas afasta-nos emocionalmente”, alerta Francisco Soares.

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