Japão. Afinal, o que se passa com a economia?
É uma das maiores potências do mundo mas a economia japonesa está em dificuldades há décadas. Em semana de reunião de política monetária do Banco do Japão (marcada para 29 de julho e onde se devem aprovar mais estímulos à economia) e perante a euforia com o Pokemon Go (que tem levado as ações da Nintendo a comportamentos extremos) há várias razões a travar o crescimento nipónico.
Para começar, o país tem sido apoiado por estímulos monetários e fiscais massivos que, até agora, têm falhado em promover o crescimento. O Banco do Japão deverá, na reunião desta semana, decidir se vai voltar a reforçar os estímulos, prosseguindo o comportamento de terapia de choque na economia num país que foi dos primeiros a aplicar taxas de juro negativas.
O enquadramento social também não ajuda. O Japão tem a população mais velha do mundo, a menor taxa de natalidade e uma imigração muito reduzida, segundo a Bloomberg. Mas isso não é tudo. No início dos anos 90 o crescimento do pós-guerra colapsou - seguiram-se décadas de deflação e o Japão começou a sofrer de falta de trabalhadores.
Além disso, os japoneses estão a controlar os gastos e isso leva as empresas a investir fora do Japão, onde o potencial de crescimento é maior. E a falta de regras regulatórias acentua a tendência. Os salários estão estagnados e o crescimento tem-se mantido reduzido, com recessões frequentes.
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REUTERS/Toru Hanai[/caption]
O Japão também está a sofrer com uma elevada dívida, que ultrapassa a de outros países devido aos pacotes de estímulos introduzidos na economia: é superior à da Grécia e chega a 246,6% do PIB. A dívida portuguesa é 150% do PIB.
O plano de recuperação do primeiro-ministro Shinzo Abe, conhecido como Abenomics, ajudou a desvalorizar o yen e a aumentar os lucros das empresas mas os salários e o poder de compra continuam frágeis. E uma dívida elevada levou o governo a ponderar aumentar os impostos. Mas a última vez que se avançou com essa imposição, em 2014, o consumo e o PIB caíram ainda mais, atirando a economia para uma recessão.
A decisão do governo de adiar a introdução de novos aumentos pode ter servido como fator de proteção contra a recessão mas desapontou os investidores que esperavam ver o Japão a atacar a dívida.
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O príncipe japonês Naruhito (centro), a princesa Masako e a filha de ambos, Aiko. REUTERS/Imperial Household Agency of Japan[/caption]
Ao mesmo tempo, o Banco do Japão procura aumentar a inflação, com um programa sem precedentes de compra de ativos, que começou em 2013, numa escala muito superior aos restantes países desenvolvidos.
A política monetária enfraqueceu o yen e, até ao início deste ano, as exportadoras sentiram os benefícios: os lucros das empresas aumentaram e as ações subiram. Mas o consumo não acompanhou a euforia, com o banco central ainda longe da meta de 2%, nem a inflação. Para piorar ainda mais a situação, o yen voltou a ficar mais forte em 2016 e é visto como um ativo de refúgio em tempos de incerteza global.
O que está, então, o Banco do Japão a preparar? O banco central diz que é preciso continuar a tomar medidas para ir ao encontro das metas do plano de recuperação económica, o Abenomics, que tem metas ambiciosas para este outono. Além disso, a par com os estímulos implementados até agora para potenciar o crescimento, os economistas e decisores políticos têm dito que são necessárias estratégias mais dramáticas.
Segundo a Bloomberg, estas medidas podem passar por alargar a força laboral, incluindo através da contratação e promoção de mulheres e permitindo que os trabalhadores mais velhos fiquem mais tempo a trabalhar - uma medida que chocará de frente com as tradições culturais japonesas.
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REUTERS/Yuya Shino[/caption]
Será necessário também atacar o envelhecimento da população, possivelmente através da imigração, que não é bem vista no Japão. A solução pode passar também pela geração de mais receita com menor dívida governamental mas essa medida colocará pressão para aumentar os impostos, que vão minar o consumo. Poderão também ser aplicadas mudanças na legislação laboral para práticas laborais mais flexíveis e aumentos salariais - o que encontrará resistência do lado das empresas.