Prestes a completar cinco anos em Portugal - assinala o quinto aniversário na segunda-feira - a empresa por trás da app de entregas rápidas Glovo é um caso de sucesso que se traduz em números: começou com quatro funcionários, numa única cidade, e 30 colaboradores; hoje tem 120 trabalhadores, fornece serviços em 94 localidades e conta com dez mil colaboradores no total (contando com os parceiros). E não para de evoluir..A expansão da Glovo em Portugal é evidente. Qual foi a receita para este êxito? É impressionante, de facto, mas penso que tal se resume a três grandes áreas. Uma é termos a equipa certa, motivando as pessoas e sempre tentando ser económicos nos recursos. A segunda será oferecer tudo aos nossos utilizadores - somos uma app que não só oferece comida, mas também o que chamamos comércio rápido, compras de supermercado, de farmácia, telemóveis... Tudo o que precisar. Fomos pioneiros nesta área. E a terceira é tentarmos ser a app mais fácil, conveniente e acessível, a começar no custo da taxa de entrega. Acreditamos que somos a opção mais barata em Portugal, no nosso programa Prime, pelo qual se paga uma assinatura mensal e se recebe as entregas gratuitamente..E qual é a percentagem de clientes que têm a assinatura? Entre 20 a 25% dos nossos pedidos principais são Prime. E está a crescer a cada mês..Sei que investiram 40 milhões de euros este ano em desenvolvimento da app, entre suporte técnico e novos serviços. Quais são os planos para 2023? Ainda estamos a fechar este ano e só entregámos o plano de negócios há uma semana, que ainda não foi aprovado, mas o plano é manter os atuais níveis de investimento. O nosso investimento cresce com o volume de negócio, pelo que deveremos investir mais do que no ano passado..E que tipo de novos serviços podemos esperar? Sei que os pagamentos com MBWay serão incluídos em breve na app... Sim, o MBWay vai ser incluído ainda este ano, muito em breve. Quanto ao futuro... Este ano foi muito agitado. Fizemos parceria com duas grandes empresas portuguesas e os planos são continuar a adicionar ao portefólio do que oferecemos..As empresas foram a Domino's e a H3, certo? É uma estratégia que têm vindo a implementar: parcerias de exclusividade com empresas fortes no mercado. Qual o peso desses parceiros no negócio? Não posso dar os números exatos..Mas pretende continuar a desenvolver este modelo? Sim, acho que esse é o caminho a seguir nos próximos meses ou anos. Vivemos num cenário muito competitivo e precisamos de ter algumas parcerias importantes para garantir que os utilizadores nos continuem a escolher. Mas isso não funcionará se não tivermos as melhores operacionalidades ou serviços. Afinal, ter o melhor conteúdo sem boas operações não fará sentido..Há alguma nova empresa que vá entrar para o portefólio? Assinámos recentemente com a Cervejaria Ramiro, que é uma parceira bem conhecida. E não posso dizer mais, porque estamos prestes a fechar negócio e este não seria o local para o anunciar [risos]. Mas fique atento, teremos alguns nomes grandes em breve..E as pequenas empresas que usam a Glovo como plataforma? Não arrisca reduzir-lhes o negócio por ter esses grandes tubarões como seus clientes? Esse é um tópico muito debatido na nossa organização. Antes de tudo, somos uma plataforma aberta a qualquer tipo de restaurante ou loja. E temos vários projetos, tanto para proteger as pequenas empresas, quanto para reduzir a dependência de parceiros maiores. Desenvolvemos constantemente tecnologia para garantir que damos visibilidade aos pequenos parceiros..A Glovo agora inclui o Q-commerce, a Glovo Express - que entrega itens de "primeira necessidade" em menos de 30 minutos - e que segundo dizem está com crescimentos acima dos 100%. Não estará a competir com os seus próprios parceiros, já que é a Glovo quem armazena e vende o artigo? Agora somos um mercado, com espaço para tudo..Inclusive os vossos próprios produtos... Exatamente. O que tentamos oferecer é conveniência. E não temos problemas em ter parceiros ou concorrentes semelhantes a fazer entregas ultrarrápidas na nossa app..O governo Português prepara-se para regulamentar o setor, nomeadamente a profissão de estafeta, e é muito provável que a lei não venha a permitir mantê-los como puros trabalhadores independentes. Na sua opinião, qual seria uma solução justa e equilibrada para esta profissão? Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que sou a favor de regular esta atividade, para proteger os estafetas. O que devemos ter a certeza é que, ao fazê-lo, estamos realmente a protegê-los. Fizemos um grande estudo, através do ISCTE, com todos os estafetas que trabalham em Portugal. E descobrimos, com dados sólidos, que a maioria deles quer manter a flexibilidade no trabalho. A regulação deve ter isso em conta. A flexibilidade faz parte deste modelo de trabalho. Se regularmos esta profissão de uma forma que a flexibilização desapareça, o modelo morrerá, e nós deixamos de poder operar. Os estafetas são tão importantes para nós quanto os nossos utilizadores e parceiros..Conhece algum país que tenha um modelo que funcione bem? Há muitos exemplos recentes, bons e maus. Vivo no pior de todos, Espanha. Eu sou espanhol e o que foi feito aqui foi uma catástrofe, com empresas a fechar e mais de dez mil estafetas a perder os empregos, precisamente porque o regulamento não tinha qualquer flexibilidade. Devemos concentrar-nos no que França e Itália fizeram. Lá está a funcionar bem..O que vê a Glovo a fazer daqui a cinco anos? Vamos ampliar o nosso portefólio e saltar para outros serviços. Estamos agora a fazer alguns testes noutros países, como mandar a roupa para a lavandaria e ir depois buscá-la... Queremos oferecer acesso a tudo na sua cidade em 30 minutos.