John Knight. Grilo da consciência de Jamie Oliver investe em startup portuguesa

Consultor de Jamie Oliver acaba de se tornar sócio da startup portuguesa NY Sliders, rede de restaurantes de hambúrgueres ao estilo americano.
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Foi entre pensar um espaço de um novo café com sanduíches na Costa Rica e outro, um barbecue em Belfast, que John Knight, fundador da Maverick Consulting, foi surpreendido pelo e-mail de Alexandre Meireles, cofundador da NY Sliders. Nove meses depois, Knight estava em Lisboa para assinar contrato e tornar-se sócio (detém 5% da empresa com a opção de outro tanto, a curto prazo) da marca portuguesa de hambúrgueres, já com quatro lojas em Portugal.

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John vai ajudar a repensar o negócio: a lupa vai passar até pelos ingredientes escolhidos para os hambúrgueres. (Fotografia: Orlando Almeida/GI)[/caption]

No e-mail, Alexandre desafiava John a conversarem por Skype: andava à procura de uma pessoa que pudesse ajudar a NY Sliders a pensar o negócio fundado há um ano. O nome de Knight surgiu em plena busca online: nascido na Argentina, o engenheiro começou a trabalhar com chefs e restaurantes nos anos 2000. Os conceitos desenvolvidos valeram-lhe colaborar no desenvolvimento da marca de Jamie Oliver, Patras, nos Estados Unidos ou em cadeias como Aldea, de George Mendes, da cadeia de fast-food KFC ou do conceito norte-americano de comida saudável e de proximidade, SweetGreen.

No mesmo dia, Alexandre e John marcaram uma conversa por Skype e começaram a conversar sobre as mudanças potenciais na marca portuguesa.

"Há muitos restaurantes onde a comida é ótima mas os preços são apenas acessíveis a uma pequena percentagem da população. Por isso, os restaurantes de comida rápida estão, de alguma forma, a encontrar-se com os sofisticados numa espécie de secção intermédia", esclarece. E explica melhor: "Fast casual é o termo: usar o mesmo formato de serviço, o rápido, mas usando técnicas de cozinha e ingredientes frescos e da época que os melhores restaurantes usam. Só que para servir hambúrgueres. Porque, mesmo que se coma na secretária ou em frente ao ecrã da televisão, as pessoas querem comer bem, boa comida", diz o consultor.

John estudou engenharia e trabalhou durante anos numa fábrica de componentes. Em pouco tempo, a empresa mexicana passou a produção para a Ásia - China - e o trabalho acabou. Nessa altura, a mulher de John começou a trabalhar com chefs e ele envolveu-se no projeto. Rapidamente começou a trabalhar no desenvolvimento de conceitos e projetos para alguns deles e, mais depressa ainda, foi percebendo que a questão dos restaurantes baseia-se em duas verdades sobre comida. “Temos de gostar do que estamos a comer e aproveitar o momento e, ao mesmo tempo, socializar. Como podemos trazer essas duas coisas para um restaurante para que esse seja o sítio onde as pessoas querem estar?”, questiona, em conversa com o Dinheiro Vivo.

Uma questão de egos

Sentado numa mesa com os grandes decisores da cadeia norte-americana de fast-food KFC, John apontou todos os defeitos que detetou no serviço e no conceito e o que consideraria melhor. A resposta foi... silêncio. "Eles sabem para onde devem ir, o que têm que mudar mas não podem. A coisa mais valiosa para eles é o recibo de vencimento no final do ano. Se têm que mudar tudo, não lhes interessa", explica.

Essa vontade de mudança, considera o consultor, é uma das principais características dos novos empreendedores da restauração. "A maior parte têm 28, 30 anos, vêm do mercado financeiro onde conseguiram poupar dinheiro estando à frente de um computador a comprar e a vender ações, juntam dois milhões de dólares para investir e criam conceitos para chegar às pessoas". E Jamie Oliver, é assim? "A maior diferença entre ele e chefs como Ramsey e os empreendedores atuais é o ego: tudo sobre eles, não tem a ver com o restaurante ou com o negócio mas com eles. A grande missão do Jamie Oliver é construir um império televisivo e não um bom restaurante", analisa.

Observar os clientes

Mas voltando a Lisboa: dos princípios fundamentais à prática, John veio a Portugal olhar para o investimento. Observou clientes, chegou à primeira conclusão.

“O almoço é a maior refeição do dia e, no NY Sliders, as pessoas comiam sem prato. Agora já não”, conta. Além de nos restaurantes terem passado a servir no prato os sliders, pequenos hambúrgueres cozinhados com ingredientes frescos e da época, John e Alexandre chegaram a outra conclusão: com o tempo contado, a última coisa de que as pessoas devem lembrar-se depois do almoço é do stress pelo serviço lento.

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Alexandre Meireles e John Knight, agora sócios na NY Sliders. (Orlando Almeida/GI)[/caption]

"O que tem acontecido no mercado é que as pessoas têm cada vez mais uma consciência do sabor que deve ter a boa comida. A maior parte das pessoas tinha-se esquecido do sabor e come apenas porque precisa de comer. Claro que o faz, na maioria das vezes, escolhendo refeições low-cost", explica John.

Por isso, a NY Sliders está a testar processos de atendimento, que não deverá demorar mais de seis minutos entre o pedido e a entrega da refeição ao cliente. “No mundo de hoje não há desculpa para má comida nem para mau serviço. Todos sabemos as técnicas, vemos todos os segredos dos melhores chefs em programas de televisão. A questão é ter comida boa e rapidamente”, explica. Este ano, a faturação da empresa deverá chegar aos 750 mil euros e, em 2016, a administração espera que ultrapasse o milhão de euros.

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