Carlos Rebelo é um daqueles alunos brilhantes. Terminou o secundário com média de 19,8 valores. Na licenciatura em Engenharia Física Tecnológica, no Técnico (2020-2023), recebeu o diploma de mérito nos dois primeiros anos. Interessado em especializar-se em áreas como aerodinâmica, propulsão e mecânica de aeronaves, data science, machine learning e empreendedorismo, agora, aos 22 anos, e na reta final do Mestrado em Engenharia Aeronáutica, lidera uma empresa de estudantes: é presidente da Junitec para o mandato 2024/25..As júnior empresas, com estatuto de organizações sem fins lucrativos, são geridas na totalidade por alunos. No caso da Junitec, presta serviços de consultoria por estudantes do Instituto Superior Técnico – essa é a diferença para uma empresa “normal”, para fornecer soluções tecnológicas inovadoras potenciadas por machine learning, inteligência artificial, análise de dados, automação, desenvolvimento web, software e pesquisa e desenvolvimento..Ninguém estranha por aqui a rotatividade no recrutamento. Faz parte do ADN desta júnior empresa que todos os anos sejam eleitos novos corpos sociais e se abram vagas de trabalho para alunos se candidatarem, de acordo com os projetos em curso. “A nossa principal missão é valorizar os estudantes do Técnico, que são nossos membros, oferecendo-lhes uma experiência única de vivenciar o que é estar numa empresa no dia-a-dia. Uma empresa em que, obviamente, como somos estudantes, o ambiente é espetacular e estamos todos adaptados ao contexto dos estudos e dos exames”, explica Carlos Rebelo. “Para além disso, oferecemos a possibilidade de integrar projetos tecnológicos com impacto. De outra forma, os alunos não teriam facilmente acesso a estas empresas ou entidades”..Com mais de 70 membros internos, espalhados pela direção, área fiscal, consultoria, inovação, marketing e recursos humanos, a Junitec, criada em 1990, é a mais antiga júnior empresa em Portugal e uma das principais impulsionadoras do movimento de juniores empresários nacional. O presidente desta empresa de alunos do Técnico acrescenta que têm o único hub de inovação a lançar startups do zero no conjunto de júnior empresas europeias. Organizam também a Tecstorm, uma maratona tecnológica que apoia o empreendedorismo jovem e o desenvolvimento de ideias com impacto social..A Junitec trabalha quatro áreas: mobilidade, saúde, sustentabilidade e serviços na banca e seguradoras. “Fazemos desenvolvimento de produtos tecnológicos, do início ao fim. Ou seja, começamos pelo levantamento de requisitos, percebemos quais são os problemas que a empresa quer combater e depois desenvolvemos tecnologia do início ao fim”, explica Carlos Rebelo. “Entregamos o produto finalizado para ser integrado na empresa.”.Como grandes clientes têm, na área da mobilidade, a Hitachi e, na saúde, o CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento), com o qual criaram a prova de conceito de uma pulseira inteligente que monitoriza o estado de cada paciente que chega às urgências hospitalares, transmitindo dados para uma aplicação web onde os profissionais de saúde gerem as prioridades de atendimento. Na área da sustentabilidade e apoio social, criaram o projeto Oficina dos Sons, uma plataforma de e-learning para o desenvolvimento linguístico de crianças com dificuldades de leitura e escrita..Têm duas tipologias de consultoria de projetos dentro das áreas tecnológicas – que é a sua atuação principal. Uma delas são projetos internos, onde o gestor e os desenvolvedores são todos membros internos da Junitec, e estes não são remunerados. Ganham experiência e a todos eles é-lhes atribuído um valor de 200 euros anuais para investirem em formação. Depois têm outra tipologia de projetos, em outsourcing, em que o gestor também é membro interno da Junitec, para garantir qualidade, mas neste caso os desenvolvedores são estudantes recrutados para executarem apenas esse projeto. Estes sim são remunerados – podem chegar a ganhar mais do que o salário mínimo mensal por 15 horas de dedicação semanal..“Uma das grandes vantagens de todo o planeamento de projetos é que está em linha, por exemplo, com o calendário de exames ou alturas de entregas trabalhos para a universidade, e o cliente está a par disso”, explica Carlos Rebelo. “Desta forma, os estudantes conseguem ter contacto com projetos empresariais, com impacto nas empresas, sem terem de abdicar do lado académico.”.Com uma faturação de 150 mil euros no ano 2023/24, sendo uma organização sem fins lucrativos, o que sobra depois de pagas as despesas operacionais é investido em formação para os membros da Junitec e, este ano, vão oferecer seis bolsas de estudo no valor de mil euros cada uma a estudantes que não façam parte da júnior empresa..“Quando nós sairmos do mercado de trabalho, vamos com a sensação de que tivemos uma experiência mais completa durante o nosso período de universidade, conseguimos adquirir tudo aquilo que nós queríamos e estamos mais prontos, por exemplo, para quando chegamos ao mercado de trabalho, conseguir ver para lá do nosso trabalho diário”, atesta Carlos Rebelo , que hoje é como se fosse um CEO de uma empresa. “Posso dizer que esta experiência me ensinou a ser empreendedor. Acho que em Portugal, concretamente no cenário do empreendedorismo, estamos a conseguir evoluir muito bem e a ter cada vez mais oportunidades, mais interessantes. E, por isso, eu gostava muito de ficar no nosso país. É, sem dúvida, uma prioridade para mim.”