Nos últimos meses as taxas de juro têm disparado. Mas, mesmo assim, não se tem registado um travão no crédito à habitação. No final de maio, o total de crédito à habitação nos balanços dos bancos totalizava 98,7 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 4,8% face ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados divulgados na quarta-feira pelo Banco de Portugal (BdP).
Estes valores confirmam a tendência de crescimento do crédito à habitação que tem vindo a ser registada nos últimos meses, ao mesmo tempo que os preços das casas continuam a aumentar a um ritmo acelerado fruto do aumento da procura, nomeadamente por estrangeiros, e da escassez de imóveis. No primeiro trimestre deste ano, segundo os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os preços de venda da habitação em Portugal cresceram 12,9% face a igual período do ano passado. Durante os três primeiros meses do ano foram negociadas 43.544 habitações, um acréscimo de 25,8%.
O contínuo aumento de crédito à habitação acontece numa altura em que têm surgido preocupações sobre o eventual incumprimento por parte das famílias face ao aumento das taxas de juro. A Euribor a seis meses, por exemplo, disparou dos negativos -0,546% no final de 2021 para 0,225% esta semana. Como em Portugal, 90% dos contratos de empréstimos à habitação são com taxa variável, isso leva a que a subida das taxas de juro se traduza num acréscimo do valor a pagar na prestação. Mas apesar de o recente Relatório de Estabilidade Financeira apresentado pelo BdP admitir o risco de maior incumprimento do crédito da casa, Mário Centeno afastou o cenário de uma subida preocupante.
Ainda assim, o supervisor deixou o aviso que no "contexto do recente maior crescimento observado no crédito à habitação, é fundamental assegurar que este não passe a assumir um papel determinante para a evolução dos preços no mercado imobiliário", de modo a que não se voltem a repetir excessos que levaram a crise passadas. Aliás, para prevenir esse risco, o BdP tem introduzido travões ao crédito. Desde abril que vigoram novas regras para limitar os prazos máximos de pagamento dos contratos de crédito consoante a idade dos titulares, medida que se juntou a outras limitações relacionadas com o montante do empréstimo e valor do imóvel e também às taxas de esforço. Medidas que, segundo o BdP, "se têm traduzido numa melhoria do perfil de risco dos mutuários e das características da carteira de crédito à habitação".
No que toca aos empréstimos concedidos pelos bancos às empresas, no final do mês passado totalizaram 76,7 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 2,8% em relação a maio de 2021. Porém, "este crescimento foi inferior ao registado nos meses anteriores, uma tendência que se mantém desde fevereiro", sublinhou o Banco de Portugal no boletim divulgado na quarta-feira. Esta desaceleração foi mais expressiva nas pequenas e médias empresas e nas empresas do setor do alojamento e restauração. Pelo contrário, aceleraram os empréstimos concedidos às micro e grandes empresas e às empresas do setor das atividades imobiliárias.
Depósitos batem recorde
Os dados revelados pelo supervisor mostram ainda que apesar de a inflação estar a disparar, as famílias portuguesas continuam a reforçar a poupança, e isso é visível nos depósitos. No final de maio, os particulares tinham depositado nos bancos 178,4 mil milhões de euros, um crescimento de 6,8% face ao mesmo período do ano passado.
Estes números traduzem um novo recorde, e são registados numa altura em que as famílias se deparam com o aumento generalizado de preços, especialmente em bens essenciais como energia e alimentação. Nas empresas, segundo as mesmas estatísticas, a tendência foi igual, registando-se um aumento de 11,8% para 63,4 mil milhões de euros.