Juros travam construção de casas para a classe média, mas setor espera retoma em 2024

Com a estimada descida das taxas de juro e a estabilização da inflação, empresas admitem que a aposta em novos projetos residenciais regresse na segunda metade do próximo ano. Preços dos materiais de construção estão a estabilizar, mas já não deverão voltar aos patamares de 2021.
Publicado a

O aumento das taxas de juro veio travar os projetos de habitação para a classe média e média-baixa, numa altura em que o preço dos materiais de construção já inverteu a linha ascendente iniciada no final de 2021. O custo do financiamento para as empresas, e também para as famílias, ditou a paragem destes investimentos destinados aos agregados de menores rendimentos, diz José Matos, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Materiais de Construção (APMC). A margem de risco elevou-se e os promotores afastaram-se deste segmento. Com a estimada descida do preço do dinheiro e a estabilização da inflação, o setor da construção admite que a aposta na habitação regresse na segunda metade de 2024.

"O aumento do custo de vida e o nível atual das taxas de juro atinge, de forma mais acentuada, o segmento da habitação ao criar dificuldades acrescidas, quer para o arranque de novos projetos imobiliários, quer para quem pretende adquirir ou arrendar uma habitação", reconhece Manuel Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN). Os dados estatísticos não deixam margem para dúvidas. Como adianta, até final de setembro, os indicadores de licenciamento municipal de construções novas "apresentam variações de menos 0,4% na área licenciada em edifícios residenciais e de menos10,1% no total de licenças emitidas", em termos homólogos. O único dado positivo é o crescimento de 4,7% no número de fogos licenciados.

A travagem de projetos residenciais acaba por suceder numa altura em que o preço dos materiais de construção começou a baixar. Recorde-se que no final de 2021 e ao longo do primeiro semestre de 2022, os custos das matérias-primas e dos materiais de construção registaram aumentos elevados e inesperados, fruto da disrupção das cadeias mundiais de fornecimento provocada pela pandemia e pelo início da guerra na Ucrânia. Já este ano, iniciaram "um processo natural de regularização e de regresso a valores historicamente mais "normais"", considera Reis Campos.

Segundo o último índice de custos de construção de habitação nova do Instituto Nacional de Estatística, referente a outubro, entre os materiais que apresentaram maiores reduções, encontram-se o aço para betão e perfilados pesados e ligeiros, com um decréscimo de cerca de 20% em termos homólogos, e a chapa de aço macio e galvanizada e os materiais de revestimentos, isolamentos e impermeabilização, todos a manifestar descidas de cerca de 15%. No entanto, o betão pronto, as tintas, primários, subcapas e vernizes e os artigos sanitários continuam numa trajetória ascendente, com crescimentos homólogos de cerca de 10%.
Para José Matos, "a tendência dos preços dos materiais de construção já não é de baixa, mas de estabilização, embora já não voltem aos mesmos patamares" de 2021. O responsável admite que ainda há espaço para uma descida dos preços em alguns materiais, como os pavimentos e revestimentos cerâmicos e o cimento. No entanto, "os processos de ajuste são longos, demoram cerca de seis meses, mas pelo menos deixou de haver expectativas de novos aumentos", salienta. Com a "normalização" do custo das matérias-primas e dos materiais de construção, "os projetos de maior dimensão retomaram", com foco nos turísticos e de habitação para a classe alta, diz José Matos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt