Há 30 anos, qualquer investigador universitário era amigo íntimo da máquina de fotocópias. Numa época em que os resultados da investigação eram publicados em revistas em papel, o estudo do avanço científico implicava fotocopiar os artigos de maior interesse, para os estudar. Foi precisamente na fila de acesso à fotocopiadora que Katalin Karikó e Drew Weissman começaram a partilhar ideias sobre um interesse comum: o potencial da molécula RNA. A colaboração entre eles daria origem a um novo tipo de vacinas baseadas no RNA mensageiro e ao reconhecimento dos investigadores com o Prémio Nobel da Medicina de 2023.
Nas universidades, como na generalidade das organizações, a informação circula de diversas maneiras: formalmente, nos relatórios anuais de atividades e nos memorandos internos, por exemplo, e informalmente, nos almoços na cantina ou nos encontros espontâneos junto da impressora partilhada. Esta comunicação informal é a menos estudada, desde logo pela dificuldade de acesso ao contexto em que decorre. Todavia, tem um enorme relevo na construção da identidade organizacional; na motivação, satisfação e produtividade das pessoas; na eficácia do esforço das equipas; e no compromisso de cada um com os valores e o propósito das organizações.
Mas o que sucede num contexto em que o trabalho é desempenhado à distância? Em que os encontros entre trabalhadores são virtuais e menos espontâneos? Em que não há uma máquina de fotocópias a facilitar a comunicação informal?
Não existem respostas seguras a estas questões, que são relativamente recentes. Em 2021, Arvind Malhotra publicou um editorial no Journal of Management, com o título The Post Pandemic Future of Work, onde identifica as características do trabalho no futuro, os desafios que elas representam para as organizações e as questões a resolver. Entre as características apontadas estão o trabalho virtual, colaborativo e com múltiplas linhas de reporte, que coloca desafios no desenvolvimento e sustentação da cultura organizacional, na relação entre o contexto físico e virtual e no modo de avaliar o desempenho das pessoas e de lhes dar feedback. Duas das perguntas que estes desafios suscitam e que o autor levanta recordam-nos a máquina de fotocópias que juntou Karikó e Weissman: qual é o papel daquilo que é físico (como os edifícios e os equipamentos) no trabalho colaborativo, quando as organizações são em grande parte ou totalmente virtuais? Qual é o papel da socialização na colaboração entre trabalhadores à distância, e como é que podemos usar o espaço físico para essa socialização?
Em muitos setores tem-se notado a dúvida quanto ao equilíbrio entre o trabalho presencial, no espaço físico e com o equipamento das organizações, e o trabalho à distância. O modo como a informação circula e o trabalho colaborativo ocorre está claramente a mudar. As perguntas que aqui se trazem podem ser um ponto de partida para estudarmos o impacto desta mudança nas pessoas e nas organizações.
Ana Lourenço, docente na Católica Porto Business School